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11 autoras negras para conhecer e levar para sua sala de aula

Apresentar essas escritoras é reforçar que o lugar da mulher negra é amplo

Conheça 11 autoras para levar para a sala de aula. Imagem: Caronte Design

“Por que as mulheres que estão na minha vida não estão nos livros que leio na escola?”. Foi esse questionamento que passava pela cabeça de Calila das Mercês, doutoranda de Literatura na Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora dos movimentos, representações e (re)mapeamentos de mulheres negras na literatura contemporânea.

Nascida na Bahia, Calila sentiu falta da presença de autoras negras nas festas literárias e nas leituras da escola. “Senti a necessidade de perguntar onde estão as autoras negras do meu estado”, conta. Foi assim que surgiu o Escritoras Negras na Bahia, portal que faz um (re)mapeamento das escritoras negras do seu estado. Na plataforma é possível pesquisar pelo mapa ou pela lista completa de autoras. Ao entrar em cada autora, há um pequeno perfil da escritora com formas de contato. “Elas já estão aí, já estão colocadas. O que eu faço é dialogar com elas e colocá-las para o mundo”, afirma. 

Evidenciar essas autoras é um reforço de que o lugar da mulher negra é amplo. “Não é somente no estigma. Elas escrevem sobre tudo, não somente sobre negritude, mas sobre amor, maternidade, sobre uma humanidade negra que nos é tirada, do que constitui ser uma pessoa”, diz a pesquisadora. 

Mas por onde começar a conhecer essas autoras? Calila e outras especialistas indicaram autoras negras importantes para você, professor, conhecer e levar para sua turma. Confira abaixo 11 sugestões com uma pequena biografia de cada uma delas:

AUTORAS NACIONAIS

Carolina Maria de Jesus

Nascida em Sacramento (MG), Carolina Maria de Jesus mudou-se para São Paulo quando a cidade vivia o surgimento das primeira favelas. Tinha o hábito de ler o tempo todo e logo começou a escrever. Sua rotina como catadora de lixo no Canindé resultou em sua obra mais famosa: Quarto de Despejo. O livro foi publicado em 1960 e foi um sucesso instantâneo, a obra foi traduzida para 13 idiomas e distribuído em mais de 40 países. No entanto, a sugestão das especialistas para os professores de Fundamental II coincidiu: Diário de Bitita.

Bianca Santana

Nascida em São Paulo, Bianca é jornalista, professora e escritora. Um dos seus livros mais conhecidos é o Quando me Descobri Negra. Para Denise Guilherme, todos deveriam ler essa obra: "Ela traz uma potência para a discussão do racismo, a partir de sua experiência", afirma. 

Louise Queiroz 

Nascida em Salvador (BA), Louise é estudante de Letras e poeta. Começou sua trajetória na literatura em 2016, quando foi publicada na coletânea de poemas Enegrescência e na série Cadernos Negros. Após aparecer no portal Escritoras Negras da Bahia, Louise fez a publicação do seu livro de poesias Girassóis Estendidos na Chuva.

Cristiane Sobral

Nascida no Rio de Janeiro, Cristiane Sobral é atriz, dramaturga, poeta e escritora. Em 2000, fez sua estreia como autora ao ter seus textos publicados na série Cadernos Negros. Um dos seus trabalhos mais reconhecidos é a coletânea de poemas Não Vou Mais Lavar os Pratos

Conceição Evaristo

Mineira nascida em Belo Horizonte, Conceição Evaristo é escritora e professora. Sua carreira como autora começou na série Cadernos Negros, nos anos 90, quando publicava seus contos e poemas. Com publicações internacionais, entre as obras mais conhecidas temos Ponciá Vicêncio e Olhos d’água - obra que lhe rendeu o Prêmio Jabuti em 2015. Em 2018, candidatou-se para a Academia Brasileira de Letras, recebeu mais de 40 mil assinaturas em um abaixo assinado, porém não foi escolhida. 

Em entrevista a NOVA ESCOLA, ela comentou sobre o caso: "Minha candidatura teve uma representatividade construída, valorizada e apresentada fora dos muros da academia. Representou o desejo de um coletivo que não é composto só por pessoas negras. Fiquei muito surpresa com a repercussão, isso alimentou meu dever e convicção de participar da eleição. Nunca uma campanha mobilizou tanto. Isso marca a história da academia, mas marca também a nossa, de uma escritora inserida dentro de um coletivo. E isso, sem sombra de dúvidas, carrega questões políticas", contou.

Jarid Arraes

Nascida em Juazeiro do Norte, no Ceará, Jarid é escritora, poeta e cordelista. Sua história com a literatura é antiga. Ela cresceu consumindo os cordéis criados pelos seu avô e seu pai. Um dos seus trabalhos mais conhecidos é seu livro de contos Redemoinho em Dia Quente, que traz como foco as mulheres da região do Cariri, no Ceará. A jovem também tem outros três títulos publicados: o livro de cordéis Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis, o romance As Lendas de Dandara, a coletânea de poemas Um Buraco com Meu nome

Rita Santana

Nascida em Ilhéus, na Bahia. Rita é professora, atriz e escritora. Como autora publicou seus contos no Diário da Tarde e no suplemento cultural A Tarde. Seu primeiro livro de contos, Tramela lhe rendeu o Prêmio Braskem de Cultura e Arte – Literatura em 2004. Ela também escreveu duas coletâneas de poesias, Tratado das Veias e Alforrias. Para Calila, o professor encontra na poesia de Rita textos potentes para as aulas de literatura. "Dá para brincar com as poesias dela, é um texto muito rico de imagens", comenta.

AUTORAS INTERNACIONAIS 

bell hooks (Gloria Jean Watkins)

Nascida no interior do Kentucky, no Sul dos Estados Unidos, Gloria Jean Watkins é mais conhecida como bell hooks - a escolha da grafia do nome em letra minúscula está na busca em que o foco permaneça na essência dos seus livros e não na sua pessoa. A autora destaca-se pela variedade de suas publicações, que vão desde obras teóricas até memórias e livros infantis. Em suas obras traz forte as discussões racial, de gênero e de classe dentro da sociedade. Essa indicação, mais do que para os alunos, é para os professores. Calila classifica a obra Ensinando a Transgredir - A educação como prática da liberdade como uma leitura essencial para os professores. “Nos inspira a pensar na Educação como liberdade. O professor como alguém que precisa se renovar, se reinventar”, comenta a pesquisadora. 

Teresa Cárdenas

Nascida em Cárdenas, em Cuba, Teresa é atriz, bailarina, roteirista e escritora. Seu desejo de escrever nasceu de ter crescido lendo livros sem personagens negros. Hoje, é vencedora de diversos prêmios e conhecida como uma poderosa voz da literatura para crianças e jovens. Entre suas obras, destaca-se Cartas Para a Minha Mãe. Calila ressalta, ao indicar a obra, na beleza e no poder de seus textos. 

Chimamanda Ngozi Adichie

Nascida em Enugu, na Nigéria, Chimamanda é um dos maiores nomes da literatura contemporânea e tem chamado a atenção do mundo para a literatura africana. Com diversos livros traduzidos ao português, Bruna Paiva de Lucena ressalta o livro Hibisco Roxo para trabalhar com as turmas de Fundamental 2. 

Octavia Butler

Nascida na Califórnia, nos Estados Unidos, Octavia Butler é uma autora consagrada na literatura de ficção científica. Apesar de ser aclamada desde o fim dos anos 1970 nos Estados Unidos, não é até recentemente que seus livros foram traduzidos e chegaram ao Brasil. Em suas obras, as questões racial e de gênero ganham força em cenários distópicos protagonizados por personagens negros. É considerada uma das maiores referências e pioneiras do movimento afrofuturista na literatura mundial. 



DICA EXTRA

A Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tem um portal chamado Literafro, em que tem perfis de autores e autoras negros, entrevistas e resenhas de livros. Também há ensaios, artigos e podcasts sobre esses escritores. É possível assinar gratuitamente a newsletter com as novidades. Vale a pena conferir!



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