Para usar com as famílias

Como orientar a contação de histórias em casa

Confira quais sugestões podem ser transmitidas aos pais ou responsáveis para que eles realizem esse tipo de atividade durante a quarentena

A contação de histórias contribui para o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças, fortalece os laços e pode ser feita em casa com poucos materiais. Ilustração: Thiago Lopes/Estúdio Kiwi/NOVA ESCOLA

Como prender a atenção da criança durante a contação de histórias? Qual livro escolher? Posso ler para os bebês ou só para as crianças maiores? São muitas as dúvidas das famílias que, neste período de escolas fechadas e isolamento social, estão sendo colocadas na posição de realizar atividades que antes, em geral, eram conduzidas pelos educadores. “É um momento para as escolas e os professores cuidarem e darem suporte aos pais, pois muitos estão com sobrecarga de novas funções dentro das casas”, diz Ana Flávia Castanho, professora de Pedagogia no Instituto Vera Cruz e autora do curso Leitura para Bebês, de NOVA ESCOLA, que pode ser acessado gratuitamente aqui.

Ainda que seja preciso orientar pais e responsáveis, a contação de histórias é uma boa proposta de atividade para enviar às famílias, pois contribui para o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças, fortalece os laços e pode ser feita em casa com poucos materiais. Leia, abaixo, seis pontos para conversar com as famílias e tornar o momento prazeroso para todos. 

Explique que repetir histórias não é um problema 
Quando as crianças encontram uma história que faz sentido para elas, pedem para que se leiam duas, três, dez vezes. Elas não se cansam. “Ao contrário do que se possa imaginar, que as crianças estão sempre ávidas por novidade, no campo das histórias elas querem a repetição”, diz Silvana Augusto, coordenadora da pós-graduação do Instituto Singularidades e colaboradora do Instituto Avisa Lá. Vale esclarecer para os pais que essa repetição é normal e que, mesmo que eles estejam enjoados da narrativa, devem atender ao pedido da criança, pois isso significa que aquela história continua fazendo sentido para ela. “Se as crianças pedem para repetir, é porque tem alguma coisa de muito importante sendo elaborada dentro delas”, explica Silvana. 

Ajude na escolha dos livros 
O livro ideal deve ter ilustrações e narrativa que convidem o leitor a usar a imaginação e construir a história em conjunto com o autor. Mas nem sempre identificar isso é tarefa fácil para as famílias. Informe a eles quais títulos eram os preferidos da turma antes do isolamento e diga que o momento é propício para contar histórias já conhecidas das crianças, uma vez que elas trazem segurança e conforto. “Ler histórias que as crianças ouviram na escola traz a memória positiva de um lugar em que elas têm autonomia e referências afetivas”, afirma Silvana. Se for preciso, faça uma curadoria e envie sugestões às famílias, lembrando-se de incluir opções que possam ser encontradas gratuitamente na internet.

Indique opções para quem não tem acesso a livros
As histórias da tradição oral, contadas de memória, são ótimas opções para as famílias que não têm acesso a livros. “Não aponte a falta dos livros para esses pais, mas enfatize a potência do que eles podem fazer. Fale que a literatura oral é tão importante e rica como a literatura escrita”, afirma Ana Flavia. De acordo com ela, para os bebês os pais podem apresentar cantigas da infância deles. Para as crianças maiores, as histórias que sabem de cor. “Diga aos pais que não faz mal eles contarem a história do jeito deles, porque depois a criança vai ter outros encontros com aquela mesma história. Há várias versões para Chapeuzinho Vermelho, por exemplo”, completa. 

Conte qual é o ritual de contação de histórias na escola 
“Existem muitas maneiras de organizar o momento da leitura, mas é muito bom para as crianças que elas identifiquem alguma relação entre os encontros com os livros na escola e em casa”, diz Ana Flavia. Compartilhe em detalhes a experiência realizada na instituição de ensino: em quais horários a turma realiza a leitura (depois do lanche ou do almoço, antes do momento de dormir etc.); como é organizado o espaço; se a professora costuma mostrar as imagens antes de ler o livro ou se primeiro lê para depois deixar os pequenos folhearem a obra; como ela conduz a conversa depois etc. Lembre-se de comentar com a família que é normal as crianças, principalmente as menores, levantarem ou engatinharem durante a leitura, olharem para o lado ou se distraírem com o próprio corpo etc. E afirme que isso não significa que elas não estejam atentas à narrativa. Explique, ainda, que fugir de uma leitura monótona e criar entonações diferentes são estratégias para assegurar a atenção da criança. “Contar tudo isso é uma maneira de fortalecer os pais”, afirma Ana Flavia.

Se tiver fotos dos momentos de contação e leitura, envie juntamente com o material de orientação às famílias. No Colégio Santa Maria, em São Paulo (SP), os pais receberam alguns vídeos com as professoras contando histórias. “Não é para eles copiarem, mas para terem referências de como fazer”, conta Karine Ramos, orientadora pedagógica da área de Educação Infantil da escola. 

Mostre a importância do momento da conversa pós-contação 
Sugira que pais e responsáveis conversem com as crianças após a contação, criando a oportunidade para elas comentarem a história, apontarem os personagens e as passagens preferidas ou eventualmente pedirem para ler de novo a parte que mais gostaram. “É nesse momento que as crianças vão articular o que leram ou ouviram com os conhecimentos prévios delas, as histórias de vida. Elas vão elaborar, fazer conexões e construir sentidos”, explica Silvana. Também oriente os pais a permitirem que as crianças manuseiem os livros, sem medo de que elas possam estragá-los ou rasgá-los. É nesse contato que elas vão criar intimidade com esses objetos. 

Enfatize o valor afetivo da contação 
Ressalte para pais e responsáveis que o mais importante na contação de histórias é que este seja um momento de afeto entre eles e as crianças. “Essa atividade deve ser feita não como obrigação, como uma tarefa que os pais não veem a hora de finalizar, mas como uma oportunidade de aproveitar e estar com os filhos”, diz Silvana. 

Estimule-os a criarem um ambiente aconchegante e tranquilo e organizar uma rotina de contação dentro das possibilidades de cada família. “Diga aos pais que esses são momentos ricos e bonitos, que marcam a trajetória de vida das crianças. Lembre a eles que as crianças crescem, tornam-se adultas, mas muitas vezes se recordam das histórias contadas, de quem as contou, dos livros e de como elas se sentiam.”


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