VÍDEO: Coloque as crianças para contar histórias
Vídeos gravados pelas famílias podem ser compartilhados com a turma, promovendo uma participação ativa e o vínculo entre eles
“Cinco ursinhos estavam brincando na banheira...”. Este é o início da história contada por Murilo Adrião Sanches, de 5 anos. “Hoje eu queria mostrar um livro que eu li no fim de semana”, diz Helena Nazareth, de 4 anos. Os dois estão em quarentena dentro de casa, mas continuam em contato com os colegas do Colégio São Domingos, na cidade de São Paulo, por meio de vídeos gravados pelas famílias e compartilhados pela escola. Colocar as crianças no papel de contadores de história ou apresentando dicas literárias é uma maneira de fortalecer o vínculo da turma mesmo no contexto atual.
“Não podemos deixar as crianças só recebendo coisas. Vínhamos numa linha de discutir a experiência e o protagonismo delas e, de repente, na primeira crise que enfrentamos, a criança desaparece e só ouvimos as vozes dos adultos. Isso não pode ocorrer”, afirma Silvana Augusto, coordenadora da pós-graduação do Instituto Singularidades, colaboradora do Instituto Avisa Lá e integrante da equipe de coordenação do colégio. O desafio para as escolas é encontrar caminhos para manter a criança no centro do processo de ensino e aprendizagem mesmo durante este período de distanciamento social, assegurando direitos indicados na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Como fazer isso? Elas podem, como o Murilo, contar histórias umas para as outras, gravar áudios para os amigos, dar dicas de livros que elas gostam, como a Helena, ou contar quais os projetos e iniciativas estão desenvolvendo para além das atividades enviadas pela escola. “Vai ser uma ação mediada pelos adultos, que precisam ajudar na gravação e no envio desses vídeos e áudios, mas elas podem ter participação ativa”, explica Silvana. No vídeo abaixo, veja algumas gravações compartilhados pelas turmas:
Essas iniciativas também são essenciais para manter o vínculo entre as crianças e delas com os professores, e para que elas percebam que não são as únicas a não poder sair de casa. “É importante que a criança saiba que, apesar de tudo, a escola continua lá e os amigos e a professora ainda existem. E que, quando tudo passar, ela vai ter para onde voltar”, completa Silvana.
O mesmo raciocínio vale para os vídeos e áudios gravados pelos professores, nos quais eles contam histórias, por exemplo. Reconhecer e ouvir a voz dos educadores gera uma sensação de segurança. “As crianças querem ver o vídeo porque estão com saudade dos professores, então, este primeiro momento a gente garante com afetividade”, conta Karine Ramos, doutora em Educação e orientadora pedagógica da área de Educação Infantil do Colégio Santa Maria, em São Paulo. “Ainda assim, é necessário manter o desejo de ver e ouvir a história. Para isso, a orientação que temos passado para os educadores é de fazer vídeos curtos, ter cuidado na escolha das narrativas, para garantir uma diversidade de gêneros literários, treinar a dicção e trabalhar a expressividade e a entonação da voz”, completa.
Karine conta que, além do compartilhamento de vídeos, a escola está organizando contação de história coletiva, em que utiliza ferramentas digitais para reunir professores e crianças em conferência virtual. O educador prepara o ambiente e faz a contação direto da sua casa.
No caso da contação realizada pela própria criança, oriente os pais e responsáveis em três pontos.
Escolha da narrativa
As histórias devem ser conhecidas pelas crianças. Mas tudo bem elas improvisarem ou criarem as próprias versões para essas narrativas.
Elaboração do que será gravado
Oriente as famílias para que combinem com as crianças o que será feito antes de gravar os vídeos. É necessário elaborar com elas todo o contexto comunicativo: o que elas vão dizer, para quem vão dizer (para os amigos da sala, para os professores etc.), o que elas esperam de retorno (que os colegas digam se gostaram da história contada, que eles leiam os livros indicados etc.). Depois de discutir esses pontos, as famílias podem gravar e enviar o vídeo pelos meios criados pela escola: grupos de WhatsApp, sites ou canais de YouTube da instituição etc. Como a ideia é estimular a autonomia das crianças, diga aos pais e responsáveis para não se preocuparem se a contação não sair exatamente como eles planejaram. Tudo é aprendizado.
Conversa sobre a experiência
Por fim, sugira que as famílias conversem com a criança sobre as experiências de gravar o vídeo e também de ouvir ou assistir o que foi enviado pelos colegas ou pelos professores. “Ouvir as vozes dos professores e dos colegas tem muitos significados para além do enredo e da narrativa apresentados. Tem a ver com gestos e atitudes e com a memória de um tempo. Tudo é objeto de atenção das crianças, então, é importante conversar sobre o que elas estão sentindo e como elas imaginam o futuro”, diz Silvana. “Estimular que elas se expressem é uma maneira de elaboração importante para as crianças e também para os pais”, completa.
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