PARA REPLANEJAR O ANO

Organizando o retorno com foco nas crianças que tiveram pouco acesso ao ensino remoto

Reflita sobre como acolher quem teve pouco ou nenhum acesso à Educação durante o isolamento social e confira uma lista de perguntas a serem feitas na volta

No retorno, é importante saber como foi o período de isolamentos da crianças. Ilustração: Nathália Takeyama / Foto: Equipe EDI Medalhista Olímpico Éder Francis Carbonera

Devido a questões estruturais como falta de acesso à internet, de materiais escolares e de um adulto responsável que possa dedicar um tempo de qualidade a elas, muitas crianças estão passando o período de distanciamento social longe não só das creches e escolas, mas também, de acompanhamento remoto. Professores já podem observar que algumas famílias estão realizando as propostas de atividades e brincadeiras enviadas e outras não. 

Para muitos educadores e famílias, há uma grande preocupação de que a criança deixe de aprender, tenha o desenvolvimento prejudicado e fique atrasada em relação às outras. Conversamos com Maria Thereza Marcilio, presidente da Avante - Educação e Mobilização Social; Roberta Borges Tavares, professora do programa de pós-graduação da Faculdade de Educação da Unicamp; e Rozana Bandeira de Melo, gestora pedagógica do CMEI Fúlvia Rosemberg, para reunir dicas de como conduzir esse retorno com crianças mais vulneráveis e orientar suas famílias. 

Reúna a equipe

O mundo todo passa por um momento de grande insegurança e medo devido à pandemia de coronavírus. No caso de professores que trabalham com comunidades vulneráveis, o nível de estresse pode ser ainda maior, uma vez que há mais demandas e o trabalho pedagógico pode não alcançar os resultados desejados. Além disso, estar em contato com crianças e famílias em dificuldades sociais pode provocar um sentimento de impotência nos educadores. Ainda durante o isolamento social, e antes que o reencontro presencial com as crianças aconteça, é importante que a equipe converse sobre como se sente em relação às atividades no contexto remoto e à volta às escolas. 

Converse com as famílias

Devido à dificuldade de acesso à internet, algumas famílias não estão tendo contato com as professoras e, em muitos casos, os contatos telefônicos são raros. Assim que possível, gestores e professores devem se reunir presencialmente com os pais. Para não causar aglomerações nessa reunião, separe-os em grupos com horários diferentes. Uma possibilidade é dividi-los entre famílias que participaram dos grupos on-line e interagiram com as propostas e outras que não participaram ou não interagiram. Lembre-se de que além das crianças e da equipe, os familiares também precisam ser acolhidos nesse retorno. 

Em um primeiro momento, não é possível saber a quais informações as famílias tiveram acesso. Logo, é muito importante que a escola dê orientações sobre os protocolos de saúde a serem seguidos por crianças, responsáveis e educadores.

Com a ajuda de especialistas e educadores, organizamos uma relação de perguntas a serem feitas às famílias e às crianças no retorno. Clique no botão para baixar.  

BAIXE A RELAÇÃO DE PERGUNTAS

Converse com as crianças

Como a Educação Infantil não tem um currículo a ser cumprido, o diagnóstico que o professor dessa etapa tem de realizar é saber como foi o período de isolamento para as crianças. Além da conversa com as famílias, é altamente recomendado conversar com elas sobre o que fizeram ou não em casa.  

Observe as conquistas das crianças

Frequentando unidades de ensino ou não, as crianças aprendem em seu cotidiano e, a despeito de qualquer dificuldade sociocultural e econômica, não retornarão à creche do mesmo jeito que estavam quando ela foi fechada. Avanços como engatinhar, andar, falar, largar as fraldas e desenhar devem ser observados e comentados com as famílias e as crianças. Caso o professor perceba que ela ainda não consegue fazer alguma dessas atividades na idade esperada, poderá observar pessoalmente se é por falta de estímulo ou se ela apresenta algum problema cognitivo ou físico (o que pode ser feito com o apoio da rede de psicopedagogos e de saúde do município).   

Proporcione experiências

É papel dos educadores identificarem (na conversa com os pais e com as crianças) quais experiências elas menos tiveram durante o período de isolamento. Por exemplo, caso tenham convivido pouco com outras crianças da mesma idade, é preciso focar em atividades de interação no retorno. Mesmo com pouco tempo, um trabalho bem feito pode proporcionar experiências importantes. 

Planeje uma boa transição para o Ensino Fundamental

Gestores e professores da pré-escola precisam articular uma boa transição junto aos educadores do Fundamental I. Explique a situação das crianças que eles vão receber e quais dificuldades específicas elas e suas famílias passaram durante a pandemia. Mesmo com a mudança de etapa de ensino, algumas experiências da Educação Infantil podem continuar sendo oferecidas no 1º ano para que a transição seja gradual e respeite o tempo das crianças. 

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