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Quarentena: desenhos podem ajudar crianças a expressar emoções
A representação gráfica de seres, objetos, ideias e sensações é uma das principais linguagens dos pequenos e deve ser explorada durante isolamento
Levante a mão quem nunca se pegou observando o desenho de uma criança para perguntar a ela na sequência: “O que é isso?” Pois saiba que a atitude é quase uma ofensa.
“A criança brinca e cria realidades no desenho – assim como faz com blocos de montar ou com areia”, diz Ana Angélica Albano, doutora em Psicologia e professora livre-docente da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O desenho auxilia na concretização das ideias, pois é uma forma contundente de expressão. “Se a criança mostra o que fez e você diz que gostou, na cabecinha dela não faz sentido ouvir ‘O que é isso?’ Afinal, ela já disse o que é por meio do desenho.”
Ana relembra o dia em que ouviu de uma criança que “desenhar é bom para tirar as ideias da cabeça, para a gente brincar com elas”. Isso significa que, enquanto está desenhando, a história está acontecendo. Segundo a professora, mais do que querer “decifrar” o que a criança compôs, importa “dialogar” com o desenho.
É fundamental proporcionar muitas oportunidades para as crianças desenharem. Os desenhos permitem interligar o mundo imaginário com o que é real. Neste período de quarentena, eles podem ajudar as crianças a expressar sentimentos e emoções e elaborar tudo o que está ocorrendo (confira, na galeria abaixo, desenhos feitos nesses meses de distanciamento). Os professores devem estimular as famílias a oferecer materiais diversos: papéis, ou outro suporte, de tamanhos variados e diferentes riscadores (lápis de cor, giz de cera, canetinhas, tintas etc.). “Tem histórias que precisam ser muito pequeninhas, e um papel grande pode ser assustador. Outras precisam de espaço”, diz Ana Angélica. Quando possível, a escola deve enviar materiais para as crianças que não têm acesso a estes.
Como apresentar a atividade?
Há várias propostas de trabalho com desenho, sejam livres ou direcionados. Aqui (acesso o plano), você encontra uma sequência com cinco planos de aulas preparados por NOVA ESCOLA. Ao clicar na aba “adaptação para o ensino remoto”, você acessa orientações para utilizá-los nas aulas a distância.
Como fazer a leitura dos desenhos?
Autora dos livros Conversas com Jovens Professores de Arte e O Espaço do Desenho – A educação do educador (ambos da editora Loyola), Ana Angélica chama atenção para que o adulto não projete no desenho coisas que ele gostaria de ver. “A mãe ou o pai não precisam ser professores, assim como o professor não precisa ser psicólogo. Apenas observe. E estabeleça um diálogo franco.”
Mais do que seguir uma cartilha que diz “cores vivas representam alegria e cores escuras tristeza”, o educador deve conhecer a criança e suas particularidades. Assim vai poder perceber as mudanças nos desenhos e poder identificar o que as provocou: a diferença é por que ela está avançando em seu desenvolvimento e descobrindo coisas novas ou é reflexo de algo que a está incomodando?
No vídeo abaixo, Ana Angélica comenta como fazer a leitura dos desenhos realizados pelas crianças e dá sugestões para conduzir a conversa com elas.
Arte em tempos de quarentena
A saudade dos coleguinhas, a realidade de isolamento dentro de casa, a raiva e a tristeza. Confira nos desenhos abaixo – inclusive o da menina que fez um pedido de socorro à mãe, citado no vídeo – como as crianças estão vivenciando este período ímpar na história. As imagens foram enviadas por Ana Angélica, com a colaboração de um grupo de professoras de diversas escolas de São Paulo, entre as quais, a Grão de Chão e a Castanheiras.
Veja a galeria:
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