Com “pé de livros”, professora Rita Silva cultiva uma comunidade literária na escola
Projeto incentiva debates e resenhas sobre obras literárias, que se tornam frutos a serem compartilhados com alunos e famílias
Nas aulas da professora Rita Marta Mozetti Silva, os pais são quase tão assíduos quanto as crianças. Estão sempre em contato com a sala, cientes das atividades diariamente. Podem dar sugestões, fazer perguntas, comentar.
Nos projetos de literatura da professora – seu carro-chefe, como ela faz questão de ressaltar –, eles são extremamente engajados. E, dessa maneira, estimulam os filhos. Essa parceria com as famílias foi um dos pilares do projeto Pé de Livros Entre Amigos, que fez de Rita uma das vencedoras do Prêmio Educador Nota 10 em 2020. Na proposta didática realizada no ano passado, ela organizou debates literários e estimulou os alunos a resenharem obras, para depois disponibilizar os livros em uma árvore da escola, verdadeiros frutos a serem colhidos por toda a comunidade.
Professora do 5º ano da Escola Estadual Adalgisa de São José Gualtiéri, em Franca (SP), Rita precisou garantir a continuidade dessa parceria no contexto de isolamento social. Ela acredita que um dos grandes desafios das aulas remotas está em envolver os alunos no aprendizado. E os pais e responsáveis, diz, são fundamentais nesse processo. Para garantir esse apoio, contou com sua experiência acumulada em outros anos.
“Eu sempre fui uma professora próxima das famílias”, revela. Desde 2015, a cada ano, ela mantém no Facebook um grupo fechado para interagir com as famílias. “Ao final das aulas, ao meio-dia, coloco no grupo as atividades desenvolvidas em sala. Compartilho fotos e vídeos, os pais comentam, participam bastante.”
A experiência mostrou-se muito produtiva do ponto de vista pedagógico. O vínculo com as famílias torna-se permanente. No projeto do pé de livro, desenvolvido em 2019, os pais engajaram-se muito, e assim também tem sido neste ano atípico.
Em meados de março, quando teve início a quarentena, Rita já havia formado um grupo de WhatsApp com as famílias de seus 34 alunos e estava atualizando um de Facebook. A essa altura, diz, os estudantes tinham lido 16 livros (de fevereiro a março). “Livros simples, claro, mas já possuíam essa bagagem de leitura.”
Com o início das aulas remotas, começaram novos desafios. “Tivemos alguns problemas, porque no grupo há crianças que estão em famílias numerosas, com apenas um celular para todos”, conta. “Fui me adequando, passando as atividades num ritmo mais lento, gravando do celular e mandando no WhatsApp”, explica. Os alunos buscaram soluções também para acompanhar as aulas, alguns pais negociaram pacotes de internet, outros conseguiram apoio de amigos para acessar a rede.
Para evitar que se sentissem sozinhos, Rita apostou em videochamadas e organizou lives para falar de literatura. Nesses encontros, convidou escritores renomados para conversar com as crianças e seus pais: Ricardo Azevedo e Mauricio de Souza foram alguns deles. Também tem feito lives com os alunos, para que falem de suas leituras. “A pandemia me fez cometer ousadias”, brinca.
“Hoje, os 34 alunos estão comigo. Nem sempre entregam as tarefas solicitadas no dia combinado, mas eu compreendo as limitações e eles sempre dão um jeito de fazer o que é pedido”, afirma.
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Como formar leitores?
“A professora Rita Marta Mozetti Silva tem muita clareza de que o fato de ler para uma criança na escola não é suficiente para torná-la leitora de literatura”, diz Andréa Luize, pedadoga e professora do Instituto Vera Cruz, selecionadora do Prêmio Educador Nota 10. Segundo Andréa, Rita trabalha para que as crianças conheçam cada vez mais a literatura como expressão artística e aprendam a apreciá-la. “Isso favorece a formação de leitores.”
Seu mérito, afirma, está em colocar as crianças para conversarem sobre literatura, aprofundando-se nos personagens, nos enredos, aprendendo a contextualizar a obra no seu tempo, enxergando características de época no texto e indo muito além de opiniões.
Com apoio das estratégias da professora, as crianças são estimuladas a escreverem resenhas e críticas literárias. “Rita consegue criar uma comunidade literária, envolvendo outros educadores e alunos da escola, assim como suas famílias. Esse é um diferencial muito potente”, avalia.
A seguir, conheça mais detalhes do projeto e inspire-se na prática da professora Rita.
PROJETO: PÉ DE LIVROS ENTRE AMIGOS
Uma árvore cujos frutos são obras a serem lidas, debatidas e compartilhadas por alunos, famílias e toda a comunidade escolar
Escola: EE Adalgisa de São José Gualtiéri
Cidade: Franca (SP)
Componente curricular: Língua Portuguesa
Indicado para: Turmas de 5º ano
Materiais necessários: Livros de literatura disponíveis na comunidade escolar (na biblioteca da escola, na casa dos alunos, dos professores e funcionários)
NA BNCC: EF05LP13 e EF05LP14
PASSO A PASSO
1. Selecione obras literárias. Escolha livros na biblioteca da escola, de acervo pessoal, dos alunos e de outras pessoas da comunidade escolar. O importante é que sejam livros que atendam aos objetivos propostos.
2. Reúna as famílias e os alunos para explicar o projeto. Nesse contato, selecione o primeiro livro a ser lido. Com a colaboração de todos, combine o dia e horário do diálogo literário.
3. Organize um diálogo literário. Abra sua sala de aula para as famílias e comunidade, para que conversem sobre a obra lida e indiquem outras. Na aula presencial, deixe as indicações em bilhetes autoadesivos, fixados no mural da sala de aula. Estimule os leitores a pesquisarem sobre o autor e a época em que o livro foi escrito.
4. Selecionando outra obra. Após as conversas e indicações, alunos e famílias escolhem, a partir das sugestões trazidas por todos, outro livro para ser lido durante a semana.
5. Exercitando a resenha crítica. A cada livro lido, estimule os alunos a produzirem uma resenha contendo:
- Dados da obra (autor, ilustrador, editora, coleção e número)
- Curiosidades sobre o autor
- Detalhes sobre a história (tema abordado e trechos que evidenciam o tema)
- Motivos para indicar ou não o livro
6. Leitura das resenhas. Cada aluno deve ler sua resenha para o professor e demais colegas, que devem avaliar a escrita e dar sugestões de melhorias (esse exercício amplia a opinião, argumentação, redação, coerência, coesão e vocabulário).
7. Leve o projeto para toda a comunidade. Em horários e dias agendados, envolva toda a escola no projeto, promovendo sessões de leitura nos recreios. Ultrapasse os muros escolares, agende encontros com escolas vizinhas e promova sessões e interações de leitura por toda a comunidade.
8. "Plante" uma árvore de livros. Pendure livros nos galhos feito frutos e chame a todos para colher livros, ler, apreciar e socializar saberes.
9. Crie um vlog literário. Produza, se possível, um vlog literário, com a participação de alunos, famílias, comunidade. Cada pessoa indica uma obra, grava seu vídeo e envia para a professora, que edita um vídeo com o material. O produto final pode ser compartilhado no YouTube, para que atinja mais pessoas.
ADAPTAÇÃO PARA O CONTEXTO REMOTO
A proposta de organizar diálogos literários com alunos e famílias também pode ser estimulada ao longo do isolamento social. Após a leitura de obras, é possível combinar conversas com os alunos e famílias sobre os livros em plataformas síncronas. As obras escolhidas para leitura podem ser penduradas no pé de livros em um futuro retorno, por exemplo.
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