PARA COMPARAR

Como tem sido a experiência de retorno na Educação Infantil ao redor do mundo

Saiba como Dinamarca, Espanha e EUA têm conduzido a volta às atividades presenciais, entre acertos e erros, em suas redes públicas de ensino

Ilustração a partir de colagens sobre higienização da sala de aula e estudo durante a pandemia.
Ilustração: Rafaela Pascotto/NOVA ESCOLA

No Brasil, a pandemia fez com que escolas se mantivessem fechadas por longos meses e exigiram uma dedicação ainda maior dos gestores e professores para realizar atividades remotas com as crianças e manter o vínculo com elas. A perspectiva, agora, é de que as escolas públicas reabram ainda neste semestre.

Diferentes países já tomaram essa decisão há algum tempo. Ao adotarem diversos protocolos sanitários, muitos obtiveram êxito e continuam com suas escolas abertas até hoje. As diferentes experiências de retorno ao redor do mundo podem trazer aprendizados, entre acertos e erros cometidos.

Na maioria dos países em que as escolas abriram, a presença dos pequenos era facultativa e mudanças na estrutura e dinâmica das atividades foram essenciais para o novo começo. Conheça abaixo como a Dinamarca, os Estados Unidos e a Espanha organizaram a volta às atividades presenciais em suas redes escolares.

Dinamarca

A Dinamarca foi um caso à parte, já que o retorno não foi opcional e se tornou exemplo para várias outras nações sobre como elaborar protocolos sanitários eficientes. 

O país foi o primeiro da Europa a reabrir as escolas. Em 15 de abril, cerca de um mês após o fechamento por causa da pandemia, as atividades presenciais das crianças de até 10 anos já haviam sido restabelecidas. Seis semanas após a volta ao presencial, a taxa de transmissão do coronavírus no país manteve-se praticamente estável. Mas o que foi feito lá de tão especial?

Antes de tudo, é importante ressaltar que a Dinamarca fez um extenso e rígido lockdown antes mesmo de a primeira morte por coronavírus ser registrada no país, o que fez com que a doença se propagasse menos se comparado a outros lugares onde políticas públicas de contenção do aumento de casos não ocorreram ou foram mais displicentes.

As escolas seguiram rigidamente os protocolos sanitários, tais como manter o distanciamento, dividir as turmas em grupos de três a cinco crianças, utilizando uma sala para cada agrupamento, lavagem das mãos a cada duas horas e quando os pequenos tossem e espirram, limpeza dos brinquedos e retiradas daqueles que não poderiam ser higienizados diariamente, reuniões entre o corpo pedagógico somente de forma virtual e materiais de higiene sempre à disposição.

Com a necessidade de mais espaços, cidades dinamarquesas disponibilizaram espaços como parques, museus e, inclusive, a própria prefeitura para que novos espaços educacionais fossem preparados para receber as turmas reduzidas.

Estados Unidos

A experiência nos EUA tem sido diferente. Além de ser um país com dimensões continentais, assim como o Brasil, os governos locais são os que determinam o cronograma do que abre e fecha.

Segundo o jornal The New York Times, escolas do Nordeste e da Costa Oeste do país optaram por manter os estabelecimentos fechados e as aulas remotas, mas alguns estados (como a Geórgia, o Texas e Nova York) abriram e, logo depois, tiveram de fechar pelo aumento no número de casos de contaminação em seus estados.

No Texas, o lockdown durou pouco tempo e creches que estavam destinadas a crianças cujos pais trabalhavam nos serviços essenciais passaram a receber outros pequenos logo em seguida. Muitas escolas dese estado ficaram confusas, pois os protocolos de segurança para retornarem às atividades presenciais foram estabelecidos, depois revogados e em seguida restabelecidos novamente. Algumas recomendações consideradas por médicos essenciais, como a redução de crianças de uma turma, não chegaram a ser obrigatórias para o funcionamento das creches. Infelizmente, o exemplo não é bom e ocasionou a contaminação, tanto das crianças quanto dos profissionais da Educação.

Na cidade de Nova York, as escolas chegaram a abrir, porém foram novamente fechadas no fim do ano passado após as testagens positivas diárias na cidade superarem os 3%, porcentual estipulado como limite para que as atividades presenciais ocorressem.

É importante lembrar que as condições nos Estados Unidos e na Dinamarca são muito diferentes. Além do tamanho, o presidente americano Donald Trump minimizou a doença no início da pandemia. Medidas de fechamento de estabelecimentos não essenciais demoraram a ocorrer, ao contrário do país europeu. Hoje, os EUA têm o maior número de contágios e mortos no mundo.

Com o início da vacinação, o prefeito nova-iorquino prevê que o retorno das atividades presenciais poderá ocorrer na primavera, quando a vacina for distribuída aos educadores. Especialistas, no entanto, acreditam que a previsão seja muito otimista.

Além disso, os EUA enfrentam o mesmo problema que milhares de estudantes passam por aqui, o que dificulta o ensino remoto: cerca de 15 milhões de crianças americanas não têm internet ou não têm acesso de qualidade.

Espanha

A Espanha, que encara a segunda onda de coronavírus de maneira bastante intensa, retomou as atividades dos pequenos em setembro passado. Após as pequenas férias de fim de ano, as escolas já voltaram a abrir as portas.

A brasileira Daniela Nahass, mãe de Gabriel, de 5 anos, vive com o marido e o filho há dois anos e meio na capital espanhola e conta um pouco da experiência de seu filho na escola pública. “As aulas voltaram em setembro, mas levando em conta os protocolos de segurança, que são o que eles chamam de grupos burbuja, os grupos-bolha, turmas de 20 crianças que só convivem entre elas, seja na hora de comer, seja no recreio. Não se misturam com outras.”

Em Madri, o uso de máscaras nas escolas é obrigatório a partir dos 6 anos. Em sua rotina escolar, todas as crianças têm de lavar as mãos pelo menos três vezes por dia durante o período que estão na escola. No inverno, quando as temperaturas podem chegar a zero grau, o sistema de aquecimento é ligado, porém as janelas permanecem abertas para que a circulação de ar ocorra.

“O retorno às aulas presenciais foi supertranquilo, muito mais do que imaginávamos, e na turma do Gabriel não houve nenhum caso de covid-19. Tomando as medidas de segurança e mantendo distanciamento, tem funcionado bem por aqui”, avalia Daniela.

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