5 dicas para garantir uma área externa segura e agradável no retorno das crianças
Instalar lavatórios, criar ou incrementar uma horta e erguer uma cobertura em dias chuvosos ou de muito calor são algumas sugestões para valorizar os espaços ao ar livre na volta
As áreas externas das escolas sempre foram fundamentais para o desenvolvimento das crianças, mas a pandemia de covid-19 valorizou ainda mais os espaços ao ar livre. Mesmo com o surgimento das vacinas, elas continuarão a desempenhar importante papel como forma de minimizar a disseminação desse vírus. Por isso, é preciso ter um olhar especial na preparação desse espaço para o retorno dos pequenos à escola. É recomendado que grande parte das atividades realizadas com as crianças ocorra ao ar livre para garantir a segurança de todos.
A escola particular Vera Cruz, em São Paulo, retomou as atividades no espaço escolar com um grupo de crianças de 1 a 5 anos em outubro. Fabiana Meirelles, diretora da Educação Infantil da instituição, conta que em boa parte do tempo as crianças estão fora da sala de aula. “Hoje, 70% das atividades estão programadas para ocorrer nas áreas externas.” “Praticamente tudo que é feito em uma sala pode ser realizado na área externa'', lembra a coordenadora da creche Baroneza de Limeira, Ceila Pastório. “Desde a hora de leitura e descanso até as refeições.”
Claro que tudo deve ser muito bem planejado e adaptado para isso. Realizar pequenas intervenções em locais antes abandonados pode abrir diversas possibilidades. “Canteiros que serviam como depósito de objetos sem uso podem, após limpos e adaptados, proporcionar às crianças um espaço para a realização de cirandas ou de contação de histórias, por exemplo”, explica Ceila.
Lavatórios na área externa
As gestoras do Ensino Infantil ouvidas por NOVA ESCOLA dizem que uma das medidas básicas de infraestrutura para garantir a segurança sanitária de todos é a construção de locais com acesso à água e sabão para as crianças, como lavatórios, seja na parte onde elas realizaram as atividades, seja na entrada da escola.
“Aqui na escola construímos vários lavatórios externos que não tínhamos antes. Não é um investimento alto, porém extremamente importante para um retorno mais seguro”, conta a diretora pedagógica da Baroneza de Limeira. Esses lavatórios diminuem a circulação nos espaços internos e evitam que os pequenos tenham de entrar e sair da escola para higienização das mãos a todo momento.
Divisão do espaço para diferentes turmas e cobertura
Outro ponto importante é dividir a área externa para que diferentes turmas possam usufruir dos espaços ao mesmo tempo - sempre, claro, com distanciamento entre os grupos. Na EMEI Arco-Íris, em Lagoinha (SP), o ambiente ao ar livre foi dividido em cinco espaços, que podem, inclusive, ser revezados entre as turmas após a limpeza do local.
Fabiana sugere a construção de uma cobertura, mesmo que seja com materiais simples, como uma lona, para proteger as crianças do sol forte ou mesmo de uma chuva repentina, típicas dos dias de verão. Vale lembrar que a cobertura precisa ser alta o suficiente para manter a circulação de ar no local.
Jardins e Hortas
Jardins e hortas são espaços preciosos para o desenvolvimento dos pequenos e um investimento que pode ampliar as opções de atividades das crianças. Além de estar em contato com a natureza, tais espaços proporcionam um local de investigação fundamental para a aprendizagem.
Tanto a jardinagem quanto a horta abrem espaço para o desenvolvimento de atividades que promovem descobertas e investigação dos pequenos a partir do levantamento de hipóteses e resolução de problemas na etapa de plantação e cultivo. Ela ainda pode promover reflexões sobre o meio ambiente e a responsabilidade de todos para a manutenção dos locais verdes.
Ceila, que já trabalhava com a horta na Baroneza, conta que os benefícios das atividades desenvolvidas nesses espaços são inúmeros. “Pediatras afirmam que o contato com a natureza aumenta a produção de anticorpos nas crianças, quando estão descalças, tocando as plantas e interagindo com o meio ambiente.” A creche conta duas hortas, criadas com a ajuda dos pais das crianças.
Ela ressalta ainda que os hábitos alimentares dos pequenos também podem sofrer mudanças quando a criança tem contato com o plantio, cuidado e colheita de uma horta. “Nossas observações mostram que, quando cultivam as hortaliças, elas tendem a passar a comer e a consumir mais esse tipo de alimento por estar afetivamente envolvidos com sua de produção.”
Área externa reduzida: o que fazer?
As escolas com área externa mais modesta podem se organizar para ocupar espaços fora do ambiente escolar, como calçada, praças ou parques próximos. Assim tem sido feito na Dinamarca, o primeiro país a abrir as escolas de Educação Infantil na Europa. Parques, espaços abertos em museus e até mesmo prefeituras foram readaptados para receber turmas de Educação Infantil, sempre com muito planejamento e um número limitado de pessoas para garantir a segurança de todos (saiba mais aqui).
Entradas e saídas
Se a escola tem mais de uma entrada que antes não era utilizada, vale a pena preparar a abertura destas e orientar por qual portão a criança de cada turma deve ser recebida. A medida evita a aglomeração de pais e crianças na calçada. Lembre sempre de explicar toda e qualquer mudança de hábito para os familiares, de modo que eles compreendam se tratar de medidas para aumentar a segurança da comunidade escolar.
Lavatórios da entrada do edifício escolar e tapetes higienizantes são fundamentais na hora da entrada das crianças ao espaço interno. Outro ponto importante é informar aos pais que, por conta da pandemia, a entrada deles na sala não poderá ocorrer. Vale a pena investir um tempo para manter a comunicação com eles para que entendam a importância da ação. Para Fabiana, o trabalho realizado com as crianças de forma remota durante meses pode auxiliar nessa hora, de modo que os pequenos não sintam tanto a necessidade da presença dos pais e responsáveis ao retornarem ao ambiente escolar. Pedir que os familiares preparem as crianças para isso também é importante.
Em caso da presença de um familiar da criança ser fundamental, ela pode ocorrer na área externa da escola, sem outras crianças ou responsáveis no entorno.
As mudanças podem parecer desafiadoras e difíceis, mas é importante ter em mente a necessidade no contexto que vivemos, conta Fabiana. “Esses meses foram maravilhosos para todos aprenderem como é viver a escola em tempos de pandemia. No primeiro momento parecia que seria impossível e a gente vai vendo cada vez mais que é possível, ou melhor, que é necessário”, reflete.
Para saber mais: Sugerimos a leitura da reportagem “As escolas ao ar livre de 100 anos atrás que podem inspirar volta às aulas na pandemia”, da BBC Brasil, que traz iniciativas inovadoras para outras épocas. A matéria indica ainda um documento da instituição Alana com propostas para o desenvolvimento de atividades com a criança ao ar livre no contexto da pandemia, tudo com base nas diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria e da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). Você pode conferir o documento clicando aqui.
Mais sobre esse tema