Atividade: descobrindo que as mulheres podem ser o que quiserem

Mulher pode ser mecânica? Homem pode ser costureiro? Questionar faz parte do cotidiano infantil. A resposta a essas perguntas, porém, pode contribuir para reforçar estereótipos ligados a gêneros ou para ampliar a visão de mundo das crianças.

A professora Fernanda Ferreira de Oliveira, da EM Antônio Boldrin, localizada em Piracicaba (SP), realizou uma série de propostas para mostrar a crianças e familiares todas as faces da participação feminina no mercado de trabalho, contando histórias de mulheres de diversas profissões e questionando situações ligadas à presença delas nessas funções. “A cada etapa, as crianças foram aumentando o repertório de vivências e de reflexões sobre estereótipos de gêneros da sociedade”, analisa a docente.

Para Fernanda, as múltiplas conversas e atividades ajudaram a mudar as percepções da turma em relação à condição das mulheres. “‘Então, eu também posso brincar de bola’, ouvi de uma menina”, conta a professora, que registrou as interações realizadas em todas as ações. 

As propostas também criaram uma referência utilizada quando surgem conflitos entre as crianças. “Sempre que há desentendimentos como um grupo de meninas não querer que um menino cuide de uma boneca, retomo a atividade: ‘Lembra da nossa conversa sobre profissões e espaços de todos?’”, conta Fernanda. 

O aprendizado não foi só para as turmas. Fernanda afirma que a proposta permitiu a ela avaliar a própria prática pedagógica, na medida em que precisou elaborar respostas coerentes a partir das perguntas das crianças. 

A seguir, confira a sugestão da professora, bem como suas observações ao longo do processo. As ideias podem inspirar a preparação de sequência didática similar para a volta das aulas presenciais:

CLOSE NELAS: EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA REÚNE MULHERES DE DIVERSAS PROFISSÕES

Estimule a turma a identificar os ofícios retratados e a discutir as possibilidades de trabalho para ambos os gêneros

Indicado para: Crianças pequenas

Material: Fotografias de mulheres exercendo as mais variadas profissões. Para expor as imagens, utilize cartolina ou outro material para confecção de cartazes, tesoura e cola; barbante e pregador. 

Referências para pesquisa: Frida Kahlo e Clarice Lispector, escritos por Nadia Fink e ilustrados por Pitu Saá, ambos da Coleção Antiprincesas (Editora Sur Livro); Malala: Uma menina muito corajosa, de Jeanette Winter (Editora Verus) e Isso aí é Rachismo! Feminismo em estado de alerta na educação das crianças pequenas: transformações emancipatórias para pedagogias descolonizadoras, organizado por Adriana Alves Silva, Ana Lúcia Goulart de Faria e Daniela Finco (Pedro & João Editores).

Espaço: A primeira parte da atividade pode ser feita no corredor ou na entrada da escola; depois, na sala de referência.

Na BNCC: EI03EO04, EI03EF01 e EI03EO01.

PASSO A PASSO

1. Selecione imagens de mulheres trabalhando: Pesquise e separe imagens de mulheres anônimas ou conhecidas exercendo diversas profissões. Lembre-se de mesclar entre opções muito e pouco associadas às mulheres. Fernanda escolheu enfermeiras e motoristas, além de registros da escritora Clarice Lispector, da pintora Frida Kahlo, da ex-presidente Dilma Rousseff e de cenas da protagonista pugilista do filme Menina de Ouro, entre outras.

2. Monte uma exposição: Coloque as fotos em espaços por onde as turmas circulam, como o corredor ou a entrada da escola. Atente-se para que as imagens estejam fixadas na altura do olhar das crianças.

3. Estimule a observação: Convide as crianças a visitarem a exposição e acompanhe as observações feitas espontaneamente. “Percebi que elas chamavam as mães para verem as fotos também”, lembra.

4. Proponha uma roda de conversa: Após um período de exposição para todos da escola, as fotografias devem ser transferidas para a sala de referência da turma. Nesse segundo momento, as crianças podem prestar mais atenção em cada uma delas. Convide-as, então, a contarem o que observaram. Incentive-as a perceberem detalhes como o contexto das imagens, a roupa das mulheres retratadas e os equipamentos utilizados por elas nos registros. “Chamaram bastante atenção as profissões com mulheres de uniformes, como as profissionais embarcadas da Petrobras, por exemplo”, conta Fernanda.

5. Apresente as profissões: A seguir, estimule as crianças a listarem quais são as profissões das fotos. Pergunte se elas conhecem todos os ofícios mostrados e se já tinham visto uma mulher desempenhar aquela atividade. Deixe-as compartilharem impressões e vivências. “Diante de uma imagem de mulher mecânica, surgiu a pergunta: ‘Mas uma mulher pode ser mecânica?’”, relembra Fernanda. A resposta incentiva a reflexão: “O que você acha?” Apresente mais informações sobre as profissões desconhecidas pela turma.

6. Conte a trajetória de algumas das mulheres retratadas: Como desdobramento da atividade anterior, é possível preparar situações para apresentar a obra e a história de vida de algumas das mulheres representadas na exposição. Fernanda, por exemplo, organizou um teatro de fantoches para contar a trajetória da ativista paquistanesa Malala Yousafzai; produziu uma instalação para falar da vida e da obra da pintora mexicana Frida Kahlo e realizou a leitura de uma história infantil de autoria da escritora Clarice Lispector, entre outras brincadeiras.