Como a diretora Marcia usa a experiência de 30 anos para conduzir a equipe
Ao longo da pandemia, a gestora conseguiu apoio para manter a coerência do projeto pedagógico da escola. Agora, luta por melhores condições para o retorno às atividades presenciais
Desde que assumiu a direção da EMEI Dona Leopoldina, na cidade de São Paulo (SP), em 2012, Marcia Covelo Harmbach desenvolveu um trabalho importante de ocupação dos espaços da escola. A estratégia era explorar o potencial do terreno de 9 mil metros quadrados com grande área verde cheia de árvores frutíferas. Assim, ela foi estruturando um projeto pedagógico ancorado em três pilares: arte, brincadeira e educação ambiental. Com atividades ao ar livre, cultura de diálogo aberto e apoio ao protagonismo das crianças, a instituição foi reconhecida por diversos prêmios e passou a atrair muitas famílias interessadas em matricular seus filhos.
Em 2020, com a paralisação das atividades por causa da pandemia, a escola deixou de lado muitas iniciativas já bem estruturadas, como o Conselho Mirim, no qual as crianças podiam decidir diretamente na gestão do espaço. Práticas alternativas como ioga, meditação e massagem, além de propostas na horta, pomar, jardim, minhocário e composteira também foram paralisadas.
Nesse cenário, a instituição foi coerente com o trabalho desenvolvido até então e optou por uma linha oposta ao do ensino remoto. “A gente quis que as crianças ficassem longe das telas. Trabalhamos com as famílias um projeto para que eles fizessem de suas casas um laboratório de atividades”, conta. Houve distribuição de sacolas com materiais de arte e contato contínuo com pais e responsáveis para orientações.
Melhores condições para a retomada
Em 2021, a discussão é a retomada às aulas. Nesse contexto, em tese, a EMEI estaria pronta para atender a um importante item do protocolo sanitário da prefeitura paulistana, que recomenda aulas presenciais ao ar livre. Porém, como fazer isso, se agora o terreno está com mato crescido na altura dos joelhos dos adultos? Há mais de um ano, a escola, assim como outras instituições paulistanas, sofre as consequências da redução de contratos com empresas de limpeza. Antes com oito funcionários, eles têm apenas três atualmente, o que, na avaliação da gestora, não é suficiente para assegurar a segurança sanitária dos espaços para a retomada das atividades.
Por isso, assim como outras escolas da cidade, a EMEI está em greve. “O protocolo exige área verde, mas é impossível garantir o acesso das crianças em local com mato alto. Isso sem contar as exigências de limpeza para os espaços fechados e compartilhados”, avalia Marcia, em tom de indignação.
O posicionamento crítico da gestão da EMEI Dona Leopoldina em relação à prefeitura é também reflexo, conta Márcia, da falta de diálogo franco e transparente entre secretaria de educação e instituições a respeito de uma discussão mais contundente sobre a volta às aulas – decisão à qual a equipe é totalmente contrária. “O momento é de luta pela vida. Não adianta estar com o aprendizado em dia, se não nos sentimos seguros. Nesta fase, é um absurdo a abertura de escolas”, afirma.
Marcia alerta para um cenário em que o professor vai para a escola com medo e encontra crianças que também estão com medo da doença. “Eu sempre ouço muito as crianças. Elas têm gostado de passar mais tempo em casa com a família. Mas sinto que causa um grande malefício a elas verem que algumas já voltaram às atividades presenciais e outras não”, observa.
Em tempos de pandemia e de tantas perguntas sem respostas, a gestora tenta utilizar a experiência de 30 anos como educadora – ela foi docente e formadora de professores de Educação Infantil antes de assumir a direção – para conduzir a equipe escolar. Marcia costuma enviar diariamente mensagens de força e união.
“É tempo de luta, luto, pausa e coragem para repensar a escola que temos, de ‘freiriar’ na busca de uma escola real, aquela que faz campanha para as famílias em situação de vulnerabilidade, que exige melhores condições sanitárias e que faz greve em nome da vida, mas não perde a amorosidade nem a vontade de derrubar os muros”, afirma a diretora, que também ressalta a importância de fortalecer a relação com a comunidade escolar. “Uma escola que traz a comunidade para construir junto outros espaços de educação, com saberes e conhecimentos que respeitem a vida na Terra. Que compartilha o cuidar, pois como diz o provérbio africano: ‘É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança’.”
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