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Relato de experiência: as crianças no retorno às atividades presenciais

A gestora Ceila Pastório conta quais foram os receios iniciais das turmas e como elas estão se adaptando às experiências de brincar e interagir seguindo os novos protocolos

Ilustração de notebook e celular sobre fundo rosa.
Ilustração: Yasmin Dias/NOVA ESCOLA

Desde 2020, a Creche Baroneza de Limeira, localizada em São Paulo (SP), prepara-se para voltar a receber as turmas em seu espaço físico. A instituição, que tem 800 crianças matriculadas, retomou as atividades presenciais no dia 15 de fevereiro de 2021, mas com número reduzido. Atualmente, 280 crianças vão à creche, que implementou uma série de protocolos para manter a saúde de todos (veja aqui como foi a preparação). “Minha expectativa agora é de que nós, educadores, sejamos vacinados para ficarmos mais seguros e que possamos ampliar o número de crianças logo, porque a educação é essencial para o desenvolvimento delas”, comenta Ceila Pastório, diretora pedagógica. “É uma emoção vê-las trocando, convivendo e tendo experiências nesse espaço que é planejado para elas.” Confira a entrevista com a gestora.

NOVA ESCOLA: Como as crianças estavam em termos de desenvolvimento (emocional, cognitivo, físico etc.), quando voltaram para as atividades presenciais?

CEILA: Antes do retorno, já iniciamos uma conversa com as famílias para preparar as crianças para virem sabendo da necessidade do uso de máscara e da higienização das mãos. Percebemos algumas muito assustadas e inseguras, com medo até de tocar nos brinquedos. Elas estão, aos poucos, se familiarizando novamente com o estar fora de casa. Por outro lado, a maioria delas está muito empolgada por terem voltado. Elas estão eufóricas e acham fantástico estarem de novo na escola, poderem brincar, correr e estar com outras pessoas, mesmo não podendo ficar perto. 

Como se organizaram para retomar o trabalho presencial mesmo com as restrições impostas? 

A equipe tem se mostrado bastante criativa. Sobre isso, destaco a importância da formação continuada que fizemos quando as crianças estavam em casa. Adaptamos muitas atividades para esse momento, reorganizamos brinquedos e brincadeiras e pensamos em formas de nos relacionarmos. Repensamos a educação em vários aspectos para entender que não é só tocando no outro que conseguimos construir relações sólidas. Temos feito uma comunicação clara para as famílias a respeito dos cuidados tomados e estamos postando nas redes sociais momentos lindos do cotidiano das crianças na creche. Tivemos de recuar em alguns projetos paralelos, como a sala de arte e cultura, para unir toda a equipe nos cuidados cotidianos: alimentação, higiene e protocolos de segurança. Também tivemos afastamentos de algumas pessoas por questões de saúde, então, foi necessário fazer rodízio dos profissionais. Além da equipe pedagógica, temos uma enfermeira e terapeutas que acolhem as dúvidas de crianças e famílias. 

Algum tipo de aprendizado ficou prejudicado por só ser possível, agora, realizar atividades com distanciamento físico? 

No nosso caso, temos um espaço externo muito bom que priorizamos para realizar as atividades. Temos conseguido manter os ganhos das experiências e atividades graças às escolhas de propostas que fizemos. Usamos como referência o que já fazíamos, mas pensamos o que ainda dava para manter e como. Por exemplo: temos uma atividade chamada banho de brinquedos. Antes, usávamos uma bacia bem grande, mas agora temos várias, e ficam no máximo duas crianças por bacia. Nos jogos é a mesma coisa, são feitos em duplas, não em grupo. As práticas de leitura também priorizamos realizar na área externa e eles medem uma distância do outro antes de sentar. As crianças têm uma leitura muito interessante e natural do que está ocorrendo. Eles dizem: “Agora podemos brincar, mas brincamos diferente. Temos amigos de novo, mas temos de ficar longe”. Elas estão nos ensinando a conviver com o isolamento, a ter afeto sem toque e a adaptar-se às brincadeiras atuais. Com elas, observamos uma outra forma de olhar e interagir com o mundo, com beleza e esperança.

Como as crianças estão lidando com a necessidade de usar máscara?

Algumas já vieram de casa com hábitos muito bons nesse sentido, outras precisam ser lembradas de deixar a máscara no rosto, mas são poucas. A partir dos 3 anos, elas usam máscara o tempo todo no espaço interno, tiram e guardam num saquinho para comer e dormir. Na primeira semana, teve, sim, gente que perdeu, que quis trocar de máscara com o colega porque achou a dele mais bonita, mas isso são exceções. Na creche, a cultura que se oferece é a da máscara, então, elas estão se acostumando e nem cogitam mais não usá-la. Em alguns momentos na área externa, a professora fala que pode tirar, mas alguns continuam por já estarem acostumados. As crianças cobram as outras quanto ao uso da máscara, lembram a professora que está na hora de trocar, sabem que não podem ficar muito próximas e sentem a necessidade de lavar as mãos com frequência. Por outro lado, estamos trabalhando para que elas não fiquem tão receosas e com medo o tempo todo. 



A seguir, confira áudio em que a diretora pedagógica Ceila conta mais da experiência na Creche Baroneza de Limeira.

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