Para pensar a prática

Como ajudar as turmas durante a pandemia

Conversar francamente, usar referências do que foi realizado no ensino remoto e preparar atividades ao ar livre são algumas das sugestões

Ilustração de brinquedos e objetos de sala de aula.
Ilustração: Yasmin Dias/NOVA ESCOLA

Quando a pandemia de coronavírus mudou o cotidiano de todo o país no início de 2020, não era possível imaginar que as escolas ficariam tanto tempo fechadas. Com diferentes calendários e critérios em cada rede de ensino, as atividades presenciais estão sendo retomadas, mas ainda em um contexto pandêmico. Além dos protocolos de segurança para a equipe e as crianças não se contaminarem, é possível tomar uma série de atitudes para que estar na instituição de ensino seja uma experiência rica e prazerosa para todos. Confira a seguir dicas de como fazer isso na Educação Infantil. 

Converse francamente sobre os protocolos de segurança

“Na Educação Infantil, a construção de combinados é sempre processual. Agora, estamos chegando com um protocolo, que já assusta pelo nome e pela urgência, o que deixa tudo mais diferente e difícil para professores e crianças”, comenta Luciana Gomes do Nascimento, professora de literatura e contação de histórias das turmas de Educação Infantil e do primeiro ano do Ateliê Escola Acaia, localizado em São Paulo (SP). Segundo ela, os docentes devem explicar, utilizando uma linguagem adequada à idade, por que aquilo é necessário. “As minhas turmas gostaram de voltar para a escola e, quando alguém não usa a máscara, elas logo dizem ‘se tiver coronavírus em alguém, nós não podemos mais vir’.”

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Demonstre afeto, mesmo sem o toque

“Ao analisar o desenvolvimento do sistema nervoso, percebemos que nós somos seres sociais e aprendemos por imitação, observando o comportamento do outro. Pela expressão facial conseguimos compreender as pessoas e ver sinais que vão modulando nosso comportamento”, explica Priscilla Oliveira Bomfim, professora colaboradora do programa de pós-graduação em Neurociências da Universidade Federal Fluminense. Nesse sentido, é inegável que o uso da máscara dificulta a relação, tornando necessário investir ainda mais no contato visual e na escolha correta do tom de voz. Esse esforço fará não só com que os pequenos se sintam acolhidos, mas também, que aprendam a se conectar com o outro, utilizando ferramentas que vão além da expressão facial ou do toque (leia aqui a experiência de uma creche que voltou ao presencial).  

Faça referências às atividades remotas

Segundo a professora Luciana, o educador não pode ignorar o que foi feito remotamente. Ele deve perguntar se as crianças lembram de quando receberam determinado material ou história. Também vale pedir para que levem algum desenho ou atividade feitos enquanto estavam em casa. Luciana comenta que as crianças dizem “eu já te vi contando isso dentro do celular da minha mãe”, e se empolgam ao perceber uma mesma história sendo narrada novamente, mas de um modo diferente e com as possibilidades do encontro presencial.

Ofereça boas experiências de desenvolvimento e aprendizagem

É na escola que as crianças desenvolvem seus talentos individuais e coletivos e aprendem a resolver problemas, a se expressarem, a lidarem com as emoções, a demonstrarem criatividade e a serem capazes de dividir e de liderar. Portanto, por mais que a pandemia imponha uma série de cuidados, aulas expositivas e sem nenhum tipo de contato com os colegas não são opção, principalmente na Educação Infantil. No planejamento, explore o potencial de interação das atividades presenciais e, para quem continuar no ensino remoto, inclua momentos de conversas de toda a turma e de brincadeiras em duplas ou trios.

Realize atividades ao ar livre

A professora Luciana diz que, nesse retorno, observou as crianças com mais dificuldade de concentração e muita energia física. Aproveite a recomendação dos protocolos de segurança para realizar muitas atividades ao ar livre e compreenda que a empolgação é esperada e um ótimo sinal. Caso a escola ainda não tenha retomado as atividades presenciais ou as tenha paralisado novamente, recomende aos pais e responsáveis levarem as crianças para espaços em que possam movimentar bastante o corpo (seguindo as medidas de prevenção à covid-19).

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Mantenha uma relação de parceria com as famílias

Algumas crianças podem demonstrar sequelas emocionais e comportamentais causadas pela pandemia, o que precisa ser observado com atenção pelos educadores. “Os pais conhecem bem seus filhos, mas os professores também conseguem detectar comportamentos diferentes”, afirma Priscilla. “A responsável pela educação da criança é a parceria família-escola, então se a família faz um alerta e a escola pensa que é bobagem, ou vice-versa, a criança não está sendo beneficiada”, completa a especialista em neurociências. Caso perceba que a mudança no comportamento foi muito brusca e a criança está mais agressiva, quieta, com muito medo ou mesmo que regrediu no modo de se expressar, na fala ou no controle esfincteriano (urinário e intestinal), a equipe gestora e os professores devem chamar pais ou responsáveis e sugerir o encaminhamento para um profissional de psicologia infantil. No caso das instituições atuando no ensino remoto, é necessário manter o diálogo virtual (leia como desenvolver uma boa comunicação com as crianças no isolamento) e ajudar as famílias com orientações de como manter uma rotina (confira 7 sugestões para organizar isso).

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