Para usar com as crianças

Apresente o cancioneiro indígena para as turmas

A diversidade sonora dos povos originários brasileiros pode ser utilizada em diversos momentos da rotina escolar

Ilustração de crianças tocando instrumentos de percussão indígenas.
Ilustração: Thiago Lopes (Estúdio Kiwi)/NOVA ESCOLA

O trabalho com músicas e sons está descrito, na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em dois campos de experiências: Corpo, gestos e movimentos e Traços, sons, cores e formas. Segundo o documento, conviver com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, contribui para que as crianças vivenciem diversas formas de expressão, se expressem por várias linguagens e desenvolvam senso estético e crítico, conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Portanto, levar músicas indígenas para a sala é uma maneira de concretizar essas orientações.

Magda Pucci e Berenice de Almeida desenvolveram o projeto Cantos da Floresta que conta com um livro adulto, um infantil e um site pensando em facilitar o contato de docentes com a cultura musical indígena, tendo como foco músicas de nove povos diferentes: guarani, kaingang, paiter surui, ikolen-gavião, yudjá, kambeba, krenak, xavante e povos do Rio Negro. Berenice, educadora musical, explica a intenção didática que orientou a pesquisa: “Uma das nossas preocupações era fazer um link entre o universo acadêmico das pesquisas antropológicas, linguísticas e musicais e a sala de aula, para que o professor começasse a conhecer as culturas indígenas por meio da música e, assim, quebrasse uma série de estereótipos e preconceitos”. 

Para Berenice, de modo geral, professores da Educação Básica ou de música não conhecem e não apresentam em suas aulas músicas indígenas, o que representa uma desvalorização dessas culturas, que são muito ricas e plurais.

A musicista Magda, diretora e produtora do Mawaca, grupo que recria músicas de diferentes tradições do mundo, comenta que uma característica em comum da musicalidade indígena é sua forte presença em diferentes momentos do cotidiano e em rituais. “No nosso universo, a música geralmente só está presente no entretenimento, mas para eles, principalmente para quem vive em aldeias, a música permeia constantemente o dia a dia das mulheres, dos homens e das crianças. Há músicas para caçar, comer, dormir, plantar e realizar os rituais de transição”, afirma. Magda explica que as histórias orais, as danças e os rituais também reforçam a identidade de um povo e ajudam na manutenção de suas tradições. 

No que diz respeito ao trabalho escolar, é papel dos professores ampliar o repertório das crianças, apresentando e desenvolvendo atividades e projetos em torno de músicas de diferentes culturas nacionais e estrangeiras, incluindo as indígenas e as afro-brasileiras. Para isso, é importante sempre dizer para as crianças a qual povo aquela música pertence e, quando possível, apresentar no mapa as regiões do país em que eles vivem. Assim, elas entenderão que não se trata de uma canção de todos os indígenas, mas sim, de um povo específico, o que pode ser a porta de entrada para os professores apresentarem a cultura, a história e a luta atual daquele grupo.

O trabalho de exploração da audição e da linguagem oral nem sempre exige que as crianças entendam o significado de todas as palavras. “Nós, adultos, sempre queremos entender tudo antes de cantar”, explica Magda. “Já as crianças se jogam em cima da sonoridade. Às vezes elas aprendem pelo som dos fonemas”, completa a musicista. 

No site do projeto Cantos da Floresta há diversas músicas instrumentais e cantadas. Todas elas têm uma partitura, a letra na língua original, a indicação da pronúncia, a tradução para o português e um áudio. Selecionamos três que podem ser utilizadas em momentos diferentes da rotina escolar. 

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Chegada à escola

Ñande mbaraete’i katu – Povo guarani-mbyá

É um canto usado para fortalecer o espírito e o corpo das crianças e assim trazer alegria. Nada melhor para começar o dia na escola, não é mesmo? Adicione a música na rotina diária, explique seu significado para todos da turma e convide-os a fazer uma roda para ouvir a canção enquanto cantam e/ou batem palmas no ritmo da música. 


Após a contação de história

Zana makatipa, kurupira – Povo kambeba

Diversas são as versões da história de Curupira, figura presente em muitas narrativas indígenas, que pode ser um menino ou menina de cabelos vermelhos e pés virados para trás, ou um ser totalmente branco. Para alguns, essa entidade protege a mata e os animais, para outros pode significar uma ameaça. Escolha uma versão da história, conte-a para as crianças e depois apresente essa música do povo kambeba.


Antes da soneca

Apï Ayã txuxitxuxi Cantiga de ninar do povo yudjá/juruna

Essa é uma música do repertório yudjá do povo juruna cantada pelas mulheres para que seus filhos durmam. Ela conta a história de um cachorro que queimou a boca com comida. A cantora Marlui Miranda registrou a canção no disco Fala de bicho, fala de gente e conta que há uma restrição cultural envolvendo sua execução: “Depois das cinco horas da tarde não se costuma interpretá-las [as músicas desse repertório], já que, segundo a crença dos juruna, isso poderia afetar as crianças, fazendo-as cair num sono letárgico, ou não acordarem mais”.


PARA SABER MAIS

No site de NOVA ESCOLA, você também encontra uma sequência de cinco planos de aula para trabalhar a cultura sonora indígena.

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