Para refletir a prática

Faça da casa das crianças um lugar para construir noções espaciais

Por meio de brincadeiras, é possível estimular a turma a observar e explorar espaços e objetos que estão ao redor delas

Ilustração de criança dentro do seu quarto apontando para os espaços e observando a dimensão dos objetos.
Ilustração: Rafaela Pascotto/NOVA ESCOLA

A noção espacial começa desde o berço. Aos primeiros passos, o indivíduo já faz experimentações para começar a entender os limites do próprio corpo e entender como se deslocar no espaço. O toque desenvolve-se. À medida que o tempo passa, adquirimos noções de lateralidade, percepção geométrica e orientação espacial. “São habilidades que se desenvolvem juntas, não de forma isolada. Uma depende da outra. A orientação espacial tem a ver com olhar e pensar onde podemos ir, entrar. Existe um objeto à frente, atrás. Na lateralização o ponto de referência é o outro”, explica o professor Evandro Tortora, da CEI Tancredo Neves, em Campinas (SP). 

Quadrados, retângulos, círculos, prismas. Tudo que está na geometria também está ao nosso redor. Basta prestar atenção. O jogo da Amarelinha, por exemplo, é formado por quadrados (embora alguns desenhem retângulos). Que tal convidar as crianças a reproduzirem no papel essas figuras geométricas para identificá-las? E se cada um desenhar sua casa? 

Neste período de ensino remoto, observar o espaço no qual as crianças vivem é uma das atividades propostas por Evandro. “Geralmente, a criança desenha a casa transparente. Quem olha vê tudo o que tem dentro”, conta o professor. Segundo Tortora, neste exercício, a criança demonstra organização espacial e percepção geométrica ao fazer a mesa, o fogão e as camas retangulares ou redondos; ou ao indicar quais objetos estão por cima de outros e o que fica embaixo (confira aqui sugestão de atividade envolvendo o desenho da casa). 

Outro modo de fixar esses conceitos é propor uma brincadeira em que os pequenos devem procurar em casa objetos com formatos geométricos diversos. A televisão e o forno de micro-ondas, por exemplo, são retangulares. Entre os circulares estão o ralo da pia e outros tantos. Essa caça aos objetos é possível, tanto nas atividades presenciais quanto on-line.

Brincando, as figuras geométricas surgem facilmente. Onde há objetos quadrados em sua casa? Será que a geladeira é quadrada ou retangular? Vamos ampliar a busca e ir atrás de coisas com números? E os pequenos trazem relógio, termômetro, calendário. O que você tem na cozinha cuja forma é redonda? “Eles adoram esses desafios, saem correndo pela casa, querem ser os primeiros a encontrar o objeto. Os pais envolvem-se, são participativos. Vira uma competição alegre”, conta Olívia Fernanda de Oliveira, coordenadora pedagógica da rede de educação pública municipal de Jacareí (SP). Mesmo sem poder estar presencialmente com os colegas, as crianças engajam-se nas vivências. “Interagimos com elas cerca de uma hora e meia por dia”, conta Olívia. Segundo ela, a cidade tem 81 escolas municipais, em que 92% das crianças têm acesso à internet.

A casa como espaço de aprendizagem 

Quantos passos preciso dar para chegar ao quarto? Ele está perto ou longe de onde me encontro agora? Quantos passos tenho de dar para ir até a cozinha? O quarto da sua mãe é maior do que o seu? Perguntas como essas estimulam a curiosidade das crianças e as incentivam a aprender sobre percepção espacial por experimentação. “Se déssemos às crianças uma folha com tudo isso explicado elas não teriam essa vivência, que é uma forma de solidificar o conhecimento”, comenta Olívia.

Nesta fase de distanciamento social e encontros apenas on-line, o risco de os pequenos ficarem dispersos diante da telinha aumenta, e para evitar isso, diz a coordenadora, a solução é partilhar conhecimento de modo prazeroso. “Tudo ocorre por meio de brincadeiras. Eles gostam tanto que cobram dos pais o horário de acessar a internet. Que novidade vai ter hoje? Quando a criança é estimulada a participar, ela não fica parada na frente da tela do computador ou do celular”, conta a educadora.

Para as crianças bem pequenas, a proposta é menos tempo de interação em chamadas virtuais e maior participação de pais e responsáveis. “Colocamos música para trabalhar gestos e coordenação motora. Melhorar a expressão corporal também favorece o desenvolvimento espacial. Ao bater palmas ou imitar uma dança, o bebê acaba por conhecer melhor o corpo”, explica Olívia.

Dentro, fora, ao lado, para a frente, para trás. Basta uma bola para entender noções de espaço. Você chutou a bola dentro ou fora do gol?, é uma das perguntas possíveis para estimular o raciocínio lógico. Há outras. As noções de tempo e espaço estão nas ações mais cotidianas e podem ser exploradas em propostas para promover o desenvolvimento das crianças.

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