Para repensar a prática

A importância de abordar a diversidade na Educação Infantil

É fundamental promover, desde cedo, oportunidades para as crianças conhecerem e conviverem com culturas e pessoas diferentes para que elas aprendam sobre respeito. Trabalho pode ser feito mesmo no ensino remoto

Ilustração de 3 crianças lado a lado, a primeira é de origem árabe, a segunda possui uma deficiência visual e a terceira está em uma cadeira de rodas.
Ilustrações: Yasmin Dias/NOVA ESCOLA

A diversidade é uma característica muito forte da humanidade, podendo se expressar por meio das diferenças de gênero, etnias, classe social, religião, linguagem, configurações familiares, deficiências e tipos físicos, dentre outras. Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um olhar cuidadoso é direcionado para a importância de se trabalhar na prática com esse conceito desde a Educação Infantil. 

O direito de aprendizagem e desenvolvimento de conhecer-se aponta a necessidade de construir a própria identidade pessoal, social e cultural e o de conviver enfatiza ser fundamental ampliar o conhecimento de si e do outro respeitando a cultura e as diferenças entre as pessoas. No campo de experiências O eu, o outro e o nós estão propostos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para que, por meio de experiências, os bebês, as crianças bem pequenas e as pequenas reconheçam as diferenças e respeitem os outros.

“Nos seis primeiros anos de vida, a criança desenvolve as competências que a humanidade levou milhões de anos para desenvolver: postura bípede, movimentos de pinça com polegar opositor, motricidade, capacidade criativa, de comunicação e outras”, explica Ana Oliva Marcílio, psicóloga, mestre em Educação e Justiça Social e consultora da Avante Educação e Mobilização Social. “Imagine o impacto para a construção do sujeito se nessa época de explosão de desenvolvimento ela ficar sem acesso a uma convivência diversa”, enfatiza.  

Além do incentivo à presença de corpos e de manifestações culturais diversas no ambiente escolar, é papel dos educadores elaborar estratégias pedagógicas que colaborem para que as crianças entendam, respeitem e valorizem a diversidade. “A Educação Infantil é um momento importante em que a criança entra em contato com o mundo, e o mundo pode não ser apenas aquilo ali que ela vê na escola”, diz Ana Oliva. Segundo ela, tanto quem está em um lugar de privilégio quanto quem sofre violações históricas de direito precisa ampliar o olhar e ter contato com as diferenças, que são o que formam o mundo real.  

Trabalhando a diversidade no ensino remoto

Com a interrupção de atividades presenciais em muitas escolas e creches, pressupõe-se que a maioria das crianças esteja isolada em casa e sem contato com outras pessoas além de seus familiares, o que diminui consideravelmente o convívio com características diferentes. Isso realmente está acontecendo, mas é preciso lembrar que muitas crianças, principalmente as de classes mais populares, continuam tendo bastante contato com outras crianças que dividem o mesmo quintal ou que moram na mesma rua, o que não necessariamente garante a ampliação da variedade de pessoas com quem ela convive. Além disso, nem sempre elas são incentivadas pelas famílias a tratar as diferenças de forma positiva.

Portanto, em ambos os casos é essencial que a escola primeiro compreenda a diversidade social das famílias com as quais trabalha e como cada uma delas foi afetada pela pandemia. Mesmo quando as crianças estão, em seu dia a dia doméstico, convivendo com pessoas diversas (de outras etnias, religiões, gêneros, com deficiências etc.), é importante estabelecer um contato com os familiares para oferecer materiais e orientações pedagógicas que abordem o tema. Uma maneira de fazer isso é pensar na representatividade do diverso ao indicar livros, músicas e filmes, e sugerir brincadeiras (leia quais pontos considerar na hora de elaborar propostas). 

Na Escola Municipal João Lino, em Salvador (BA), o respeito à diversidade é o eixo estruturante do projeto político-pedagógico (PPP) da instituição e orienta todas as práticas pedagógicas e de atendimento às famílias. A turma da professora Maria Patrícia Figueiredo Soares, de crianças de 5 anos, está trabalhando com um projeto chamado “Quem sou eu?” Ela envia vídeos lendo histórias e, com base nesse disparo inicial, cada um faz desenhos e vídeos falando sobre o próprio nome, quem o escolheu, como são suas características físicas e quais características herdou de seus ancestrais. A maioria da turma é negra, mas, nesse processo de estudo sobre a formação das identidades, Maria também indica atividades de descoberta sobre as culturas indígenas, mostrando como ela está presente nos hábitos alimentares e de higiene brasileiros (confira sugestão de atividade aqui).

A professora propõe que as famílias vejam vídeos, ouçam músicas, conversem e contem histórias para as crianças. “Quando estamos no espaço da escola temos muitos momentos de experiências com a diversidade e incentivamos que isso aconteça em casa também, pois o que se aprende por experiência é mais difícil de esquecer”, afirma Maria Patrícia. “Quando os pais participam, o processo acaba sendo também um trabalho de formação da família sobre esses temas”, completa.

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