5 sugestões para incluir a diversidade no planejamento
Para que as crianças aprendam a valorizar e respeitar as diferenças, o professor deve investir em formação e cuidar para que as práticas pedagógicas espelhem a pluralidade presente no mundo
No Centro Municipal de Educação Infantil Dr. Djalma Ramos, localizado em Lauro de Freitas (BA), a proposta pedagógica é pautada em uma Educação Antirracista e gira em torno da experiência da felicidade como um direito das crianças, conceito criado pela pesquisadora Narcimária do Patrocínio Luz. No que tange à diversidade, para ser feliz é essencial que as crianças conheçam sua própria identidade e cultura e também que respeitem a dos colegas. “Precisamos pensar em práticas pedagógicas que eduquem as crianças e as famílias para que elas olhem para o outro e o respeitem em sua inteireza. Quando eu faço isso, garanto o direito de ser e existir do outro”, comenta Fátima Santana, coordenadora pedagógica da CMEI e mestra em Ensino das Relações Étnico-Raciais pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).
Para Luciana Alves, gestora de projetos do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) e diretora do Núcleo de Educação Infantil da Escola Paulistinha de Educação (NEI-Paulistinha), ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), esse trabalho deve ser realizado pelas instituições de ensino porque as crianças reparam nas diferenças e tentam entendê-las. “O mundo tem respostas para tudo, mas nem sempre elas são de respeito à diversidade. A escola precisa entrar nessa disputa de narrativas para atribuir sentidos positivos para as diferenças para que as crianças não as hierarquizem”, diz a gestora.
Como fazer isso? O primeiro passo deve ser olhar para a própria postura. Afinal, as atitudes do professor são exemplos para as crianças. Então, não adianta falar em respeito à diversidade sem colocar isso em prática. A seguir, confira outras cinco dicas para incluir o tema no trabalho que sua escola realiza:
1. Invista em formação profissional e pessoal
Quando as atividades presenciais precisaram ser interrompidas por causa da pandemia, Fátima e sua equipe se preocuparam em como transpor o trabalho que já realizavam presencialmente para o remoto. “Uma professora teve a ideia de fazer um caderno de atividades afrocentradas com histórias de escritores negros, sugestões de brincadeiras e experiências. Conseguimos imprimi-los e mandar para as famílias”, explica a diretora. A elaboração do caderno de atividades foi possível porque a equipe da CMEI tem interesse, conhecimento, e pesquisou conteúdos para compor o material. Portanto, investir na formação em torno de temas relacionados à diversidade é de suma importância para propor atividades significativas e para não cometer equívocos e preconceitos com as crianças e suas famílias.
2. Valorize a diversidade das famílias
Além de se esforçar para manter o contato com todos, independentemente das dificuldades de comunicação que possam existir, o professor precisa compreender que as famílias têm origens, religiões e formações diferentes, e que isso não precisa ser encarado como uma dificuldade, mas pode ser a oportunidade de ampliar o repertório cultural de toda a turma. Por exemplo, se há uma família imigrante, o professor pode convidá-la a compartilhar uma receita de seu país e contar algo sobre sua cultura.
3. Vá além da representatividade presente na sua turma
Um educador pode se perguntar, por exemplo, se é preciso, e como, trabalhar o respeito às pessoas com deficiência em uma turma em que nenhuma criança tem alguma deficiência. “Boa parte do que aprendemos na escola é por abstrações: nunca fomos ao Egito, mas aprendemos sobre essa nação. O professor precisa pensar em como levar esse aspecto da diversidade humana para dentro da paisagem imagética da criança. Pode-se oferecer ilustrações, histórias, vídeos e brinquedos que representem uma pessoa cadeirante, por exemplo”, explica Luciana. O mesmo raciocínio vale ao tratar a diversidade de gênero, etnias, classes sociais, culturas etc. Segundo a diretora, os docentes costumam desejar que a escola seja um espelho das suas crianças, mas ela precisa ser um espelho do mundo. Afinal, é bem possível que a instituição não conte com grande variedade física e cultural de pessoas.
4. Não se atenha apenas a datas ou momentos específicos
Efemérides como o Dia da Consciência Negra, o Dia da Mulher ou o Dia dos Povos Indígenas podem ser abordadas na escola, mas é essencial que o trabalho com esses temas não se restrinja a um único dia, semana ou projeto. A diversidade está sempre presente na humanidade e de muitas formas, e por isso o mesmo deve acontecer com as propostas pedagógicas. Invista em sempre apresentar imagens positivas de pessoas gordas, negras, com deficiência, indígenas, asiáticas ou de outras minorias representativas, mesmo quando o objetivo da atividade não for abordar diretamente a diversidade. Quando a diversidade está representada na seleção de materiais e brincadeiras, as crianças aprendem a naturalizar a pluralidade da sociedade.
5. Intervenha quando necessário
Além da escola, as crianças têm contato com a família, com outros ambientes sociais e com os meios de comunicação. Assim, é possível que reproduzam falas ou comportamentos preconceituosos. Nesse caso, é essencial que o professor intervenha. O objetivo não é dar uma bronca ou castigar, mas regular esse comportamento de modo formativo para toda a turma. Por exemplo, se uma criança diz que uma menina não pode participar de determinada brincadeira porque é “coisa de menino”, pergunte por que ela acha isso e converse com todos a respeito. Caso essas questões já tenham sido trabalhadas em uma atividade, relembre-os e estabeleça combinados.
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