Educação Ambiental

Tudo sobre Meio Ambiente: como incluir a questão socioambiental nas aulas

Em alta nos noticiários, discutir sobre o Meio Ambiente é essencial para entender os desafios (e as possibilidades) para as próximas gerações (seus alunos). Saiba mais e veja temas que podem inspirar suas aulas em 2021

Ilustração de aluno e professores na sala de aula conversando sobre meio ambiente.
Ilustração: Nathalia Takeyama/NOVA ESCOLA

Como abrir espaço para falar com os alunos sobre Meio Ambiente, Floresta Amazônica, mudanças climáticas, derretimento de geleiras, furacões, enchentes, incêndios, declínio da biodiversidade e tantos outros? 

São temas que, ao lado de relatórios científicos, acordos globais, interesses político-econômicos e protestos de ativistas, já fazem parte da realidade dos estudantes e que têm potencial para inspirar atividades e discussões conectadas com o tempo atual e com o que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) orienta.

Para trabalhar o tema com equilíbrio e em prol da aprendizagem dos alunos (seja na Educação Infantil, seja nos anos finais do Ensino Fundamental), vale a pena acompanhar o noticiário, buscar referências em livros, pesquisar muito e, claro, ficar atenta ao que os próprios estudantes trazem para as aulas.  

Com a ajuda da professora Sueli Furlan, do Departamento de Geografia da USP e consultora pedagógica dos conteúdos desta Caixa, selecionamos algumas sugestões para trabalhar o tema da Educação Infantil ao Ensino Fundamental e que podem inspirar suas aulas e o planejamento para a Semana do Meio Ambiente (clique para ler mais aqui). 

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RAIO X - MEIO AMBIENTE

Temas-chave para 2021: Mudanças climáticas; Amazônia; Conferências e acordos internacionais sobre o clima. 

O que ler a respeito: Primavera silenciosa, de Rachel Carson (Gaia, 2010); Brincar e Aprender com a Natureza, de Joseph Cornell (Melhoramentos, 1996); Os Nascimentos, de Eduardo Galeano (LP&M, 2010); Educação Ambiental: Dialogando com Paulo Freire, de Carlos Frederico Loureiro (Cortez, 2016).

O que assistir: Lei da Água (dir. Fernando Meirelles e, 2012); Uma Verdade Inconveniente (dir. Davis Guggenheim, 2006); Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental (www.ecofalante.org.br)   

O que compartilhar com os alunos: Plataforma Mapbiomas (www.mapbiomas.org); IPBES - plataforma internacional de avaliação de serviços ecossistêmicos (www.bpbes.net.br)

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De Estocolmo ao Acordo de Paris: uma cronologia da discussão ambiental nos séculos 20 e 21 

O dia 5 de junho de 1972 foi histórico: os chefes de Estado de 113 países e mais de 400 organizações não governamentais reuniram-se  no Parlamento sueco em sua capital, Estocolmo, para uma conferência internacional promovida pela ONU para discutir o meio ambiente. 

Basicamente, o impacto que a ação humana vinha provocando. O alerta havia sido dado por cientistas de diversas áreas. O planeta estava dando sinais de que as coisas não vão bem. 

Na década anterior à Conferência de Estocolmo a bióloga Rachel Carson havia publicado uma série de artigos na revista New Yorker, que viriam a ser condensados no livro Primavera Silenciosa, lançado em 1962. Nessa obra de divulgação científica, considerada um dos marcos do movimento ambientalista contemporâneo, ela denunciava o efeito de pesticidas sobre o meio ambiente – mais especificamente, sobre as aves. 

Comprovando cientificamente que o herbicida mais usado à época, o DDT (diclorodifeniltricloroetano), provocava a diminuição na espessura da casca dos ovos, afetando a chance reprodutiva de inúmeras espécies – daí a alusão a uma primavera sem pios nem cantos de pássaros, o livro tornou-se um best seller. Com isso, colaborou decisivamente para o banimento do DDT no fim da década de 1960 e, mais que isso, trouxe a pauta ambiental, até então quase exclusiva de pesquisadores e alguns poucos ativistas ambientais, para a discussão pública.

Outros sinais preocupantes da ação humana no planeta não paravam de surgir. Mais e mais notícias e pesquisas confirmavam que a temperatura do planeta vem subindo desde o início da Revolução Industrial. O início da escalada coincide com a invenção da máquina a vapor, em 1776, por James Watt. Só que a partir do período de crescimento do pós-Guerra e do incremento no uso de combustíveis fósseis, o aquecimento global tornou-se visível; e um tema sensível. 

Já na Conferência de Estocolmo de 1972, a proposta de redução de gases de efeito estufa feita pelos países mais desenvolvidos entraria em choque com as necessidades de investimento das economias menos ricas. 

Se a abundância e o hiperconsumo dos países ricos era o fator que gerava uma necessidade cada vez maior de uso de recursos naturais, que são limitados, essas economias deveriam ter maior participação no enfrentamento do aquecimento global, argumentavam os menos desenvolvidos. 

Para esses, havia ainda uma extensa lista de necessidades básicas, do enfrentamento à fome ao investimento em saneamento e infraestrutura, para se estabelecer qualquer meta de controle. Mas, ao menos, a discussão global estava lançada.

Antropoceno

Alguns anos depois, nos anos 1980, Eugene Stoemer, biólogo marinho da Universidade de Chicago que estudava algas nos Grandes Lagos, nos Estados Unidos, percebeu o impacto da ação humana em sua área mais ou menos na mesma época em que o químico Paul Crutzen, Prêmio Nobel em 1995, pesquisava o impacto da emissão de gases de efeito estufa na camada de ozônio da Terra. Um debaixo d’água, outro a 50 quilômetros acima do nível do mar, na estratosfera, os dois pesquisadores criariam, cada qual em sua área de conhecimento, uma expressão que ganharia força na virada do milênio: Antropoceno

O termo Antropoceno faz menção ao Holoceno, o nome que os geólogos deram ao atual estágio da Terra (do grego holos, novo, e kainos, era). Nesse compasso movido na escala de milhões de anos, o Holoceno iniciou-se há cerca de 10 mil ou 12 mil anos, quando terminaram os efeitos da última glaciação. 

Geologicamente, é um período que não tem data para acabar – na verdade mal começou. Mas desde que as condições ambientais se tornaram mais amenas, há uma espécie no planeta que, como disse o biólogo especialista em formigas Edward Wilson, se tornou a primeira na história da vida na Terra “a se tornar uma força geofísica destruidora”.

O Antropoceno, que significa a “era da dominação humana”, não traz boas notícias. Tanto que em 1988 as Nações Unidas criariam o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), reconhecendo que o aquecimento global é consequência da ação do homem, com efeitos ambientais, sociais e econômicos ainda imprevisíveis.

Consciência socioambiental

Vinte anos depois da Conferência de Estocolmo, um segundo grande encontro de chefes de Estado, a Rio-92, foi realizado no Brasil e lançaria as bases para um novo conceito: o desenvolvimento sustentável. 

A proposta de desenvolvimento sustentável surgiu, pela primeira vez, em 1983, no Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Basicamente, propõe a satisfação das necessidades atuais, porém dando às gerações futuras as mesmas chances de suprimento das próprias necessidades.

O nome do relatório homenageia Gro Harlem Brundtland, médica e política norueguesa que chefiou a equipe multidisciplinar, que, entre 1983 e 1987, levantou dados, pesquisas, e terminou com uma proposta que seria encampada por todos os integrantes da ONU, transformando-se nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os ODS têm uma agenda ampla, centrada em 17 objetivos (saiba quais são aqui). 

Para a bióloga Eliane de Siqueira, que trabalha com formação de professores em Guarulhos (SP), trazer para a sala de aula os ODS é uma forma de descaracterizar aquela visão meio simplista de que "meio ambiente é só cuidar das árvores, proteger a natureza". “Se você olhar os objetivos explicitados para a Agenda 20-30, vai ver que existe a questão da fome sendo explicitada lá, a diversidade de gêneros também, são vários aspectos sociais que interferem no ambiental, porque o ambiental é tudo o que está em volta, ou seja, inclui o econômico, o social e a natureza em si... é um tripé”, reflete. 

O Acordo de Paris

Aos poucos, na agenda escolar que começava a abraçar a causa do meio ambiente, a educação ambiental passou a ganhar uma visão mais integradora entre o homem e o meio ambiente, buscando conciliar as necessidades humanas com as do planeta, e reduzir o ritmo do aquecimento global a partir de uma tomada de consciência e da aprendizagem de novos processos, formatos, matérias-primas e, principalmente, uma nova atitude. Vale lembrar que desde 1983 o Partido Verde tinha cadeiras no Parlamento alemão, levando a preocupação ambiental para o âmbito da ação política institucional. E as organizações ambientalistas prosperaram no fim do século 20. Na esteira dessa mudança comportamental de uma parte da sociedade que começava a tomar consciência do problema, emergiram novas ideias, como os 4 Rs do pensamento sustentável: repensar, reciclar, reusar e reduzir. 

Em termos de ação global, um passo importante no combate ao aquecimento global foi a formalização do Acordo de Paris, em 2015, que passou a incluir metas para todos os países, tendo o objetivo de até o ano de 2030 reduzir em 45% a emissão mundial de gases de efeito estufa. Porém, entre a assinatura do acordo e o ano-meta de 2030, houve uma eleição no país, em 2018, que alteraria radicalmente o cenário político e, consequentemente, o compromisso dos governos anteriores com as metas do Acordo de Paris. 

Juntando o início de uma pandemia de coronavírus, a intensificação das queimadas na Amazônia e um processo de esvaziamento das ações do Ministério do Meio Ambiente, o triênio 2019-20-21 representou um período de retrocessos na agenda ambiental brasileira: no podcast O Ambiente É o Meio, do Jornal da USP, o geógrafo Denis Rivas, analista ambiental ICMBio, comenta um documento elaborado pela Associação Nacional de Servidores da Carreira de Especialista de Meio Ambiente (Ascema) sobre o efeito das ações e políticas do atual governo para a área.  

Mesmo diante de um cenário atual nada promissor, na Semana do Meio Ambiente, que homenageia aquele histórico mês de junho de 1972, é possível encontrar brechas e caminhos para trabalhar o tema com crianças e adolescentes sem gerar revolta ou desânimo, mas sim, uma saudável vontade de mudar as coisas e fazer tudo diferente. Saiba mais e aprofunde-se com os próximos conteúdos! 

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