Para pensar a prática

Hora de planejar atividades com jogos: o que levar em conta

Sugestões, que vão da maneira de apresentar a proposta à necessidade de proporcionar reflexões durante ou depois da partida, permitem explorar o potencial pedagógico dos jogos

Ilustração de mesa de um professor com livros, cadernos, folhas, cola e outros objetos de trabalho. Um celular em um tripé a frente mostra um botão de play.
Ilustração: Paola (Papoulas Douradas)/NOVA ESCOLA

Para fazer uso dos jogos na Educação Infantil, o professor deve considerar alguns pontos na hora do planejamento e também durante e depois da atividade. O objetivo é que este momento não se resuma apenas à diversão – o que também é essencial e muito importante para as crianças, mas que desperdiça o potencial pedagógico de cada jogo.

Para reunir as sugestões, conversamos com Elisa Greenhalgh Vilalta, professora das redes pública e privada de Maceió (AL) e mentora de Matemática do Time de Autores de NOVA ESCOLA, e Maria Carolina Villas Bôas, mestre em Pedagogia pela Universidade de São Paulo (USP) e professora de jogos relacionados à Matemática na Camino School. 

Escolha o jogo com base em uma intencionalidade pedagógica

O primeiro passo é fazer uma pesquisa de jogos, que podem ser de diferentes origens culturais, o que ajuda a aumentar o repertório das crianças. Para escolher, é importante pensar no que planeja observar com o jogo e no nível de dificuldade: não pode ser muito fácil para não desestimular a turma, mas também não pode ser muito difícil para não frustrá-los. Segundo Maria Carolina, no jogo da memória, por exemplo, além de desenvolver a concentração e a memória em si, pode-se aproveitar para trabalhar os conteúdos presentes nas cartas (animais, diversidade humana, números etc.). Maria Carolina conta que, certa vez, atrelou esse jogo a uma atividade artística. “Coloquei etiquetas dentro de tampas de requeijão e pedi para as crianças fazerem dois desenhos iguais”, relembra. “Elas perceberam que, para criar a segunda versão, era necessário prestar atenção ao próprio desenho. Também viram que deveriam simplificá-lo para que os colegas entendessem”, completa a professora (verifique aqui uma sugestão para construir o jogo de memória em uma plataforma digital). 

Apresente o jogo de forma objetiva 

É essencial explicar o objetivo do jogo e quais são as regras. Para cumprir essa função, o professor deve conhecer bem seu funcionamento e, sempre que possível, já ter jogado. O mesmo vale no ensino remoto. “Em vídeos curtos enviados pelo WhatsApp, eu explico as regras, mostro o material e jogo uma partida”, explica Elisa. “Outra opção é fazer uma série de fotos legendadas mostrando a sequência de jogo e mandar junto um áudio explicativo”, completa. A educadora ressalta que a estratégia de enviar e receber áudios e vídeos também é uma maneira de manter e criar laços com as crianças, uma vez que a distância física dificulta a interação. 

Flexibilize as regras caso necessário 

Caso alguém não esteja satisfeito com uma regra, o professor deve possibilitar que a criança se expresse e sugira outra. Esse momento pode gerar uma conversa entre a turma sobre o quanto uma mudança no modo de jogar, que deve ser aceita por todos, pode ou não ser vantajosa. Além disso, conhecendo bem o jogo, o educador pode dizer se a alteração impossibilitaria a partida (ou deixar que as crianças descubram isso durante a própria experiência). 

Ter ganhadores e perdedores também faz parte das regras de alguns jogos. Nesses casos, o docente não deve deixar que a experiência se resuma à vitória ou à derrota. Quando alguém ficar triste por ter perdido, é importante dizer que haverá outras possibilidades para repetir o jogo ou ainda relembrar a criança que, em outro momento, ela já ganhou uma disputa. 

Invista em diferentes agrupamentos

Vários agrupamentos podem ser propostos: duplas, pequenos grupos ou toda a turma. Há também a modalidade individual ou, no caso de jogos virtuais, humano contra máquina. Com base nas observações que realiza ao longo do tempo, o professor pode reunir as crianças em grupos heterogêneos com base, por exemplo, no modo como contam: mentalmente, nos dedos, por algarismos, por tracinhos. Assim elas podem aprender umas com as outras por meio da observação ou da conversa. 

No caso de propostas remotas, o docente deve considerar que nem todas as crianças têm famílias numerosas ou que disponham de muito tempo para jogar com elas e oferecer diversas possibilidades.

Incentive a conversa e o registro 

Depois do jogo, estimule cada criança a contar qual estratégia utilizou, o que poderia ter feito para um resultado melhor e se observou algo de diferente no modo de jogar de um colega. O resultado final da partida pode ser averiguado em conjunto pela turma. “Podemos favorecer, por exemplo, que eles contem”, reflete Maria Carolina. Em um jogo de boliche, peço que registrem quantas peças derrubaram. Vai ter quem anote os números e quem faça tracinhos; também quem anote só de uma rodada; quem diz lembrar de memória e quem se esqueceu de registrar. Aí eles entram em uma discussão, percebem que cada um contou de modo diferente e que, se a regra [registrar] não foi seguida, é impossível chegar a um resultado final.”

É indicado que o professor faça registros enquanto observa a turma. Para isso, pode dividi-los em grupos e oferecer para alguns um jogo que não precisa de seu auxílio e mediação. Assim, ele poderá se debruçar com mais atenção nas crianças envolvidas no jogo que é foco da análise, avaliando o modo como cada uma contribui com o grupo. Depois, pode voltar a atenção para os demais. Caso o educador fotografe ou filme parte do jogo, uma opção é mostrar os registros para a turma e conversar sobre eles.

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