Como organizar a rotina no contexto parcialmente presencial
Estabelecer constância nas atividades e comunicar às famílias e às crianças o planejamento da escola são essenciais para a readaptação
Depois de tanto tempo em casa, tem sido comum encontrar crianças que, ao retornarem para a escola, estão ávidas pelas brincadeiras com os colegas, pela interação e pelos momentos no parquinho. Mas é verdade, também, que a realidade das instituições de ensino está cheia de novos combinados por conta dos protocolos sanitários, e que o retorno é sensível.
Neste vaivém de abre-fecha das escolas, os desafios em organizar uma rotina aumentam (e muito). Principalmente nas instituições que estão trabalhando no sistema parcialmente presencial. Algumas estão atuando com turmas reduzidas, mas que vão todos os dias para a escola. E há aquelas nas quais as crianças estão presentes apenas em alguns dias da semana. Como pensar a organização das rotinas nesses contextos?
A parceria com as famílias é essencial. É importante ter em mente, explica Mariana Americano, formadora de educadores do Instituto Avisa Lá, ser preciso respeitar as particularidades de cada criança e família. Ou seja, não é papel da escola dizer como as coisas devem ser feitas na casa de cada um, mas sim, ouvir e acolher os desafios daquela família.
A primeira dica é, portanto, separar um espaço para a escuta. “Entender como aquela família está atravessando essa fase para saber a melhor forma de ajudar”, explica Mariana. Isso implica compreender a ansiedade e a insegurança com o retorno, mas também, entender como os pais estavam trabalhando, por exemplo, a autonomia das crianças. Nesse mesmo espaço, é possível dialogar sobre a importância da rotina para as crianças. Afinal, esse engajamento da família em colaborar com as atividades só virá caso ela saiba o sentido do que está fazendo (leia mais sobre o tema aqui).
Para tranquilizar os pais e responsáveis, informe quais serão os protocolos sanitários adotados na escola, bem como os cuidados com a higiene e a saúde das crianças (confira aqui sugestão para incorporar as orientações em brincadeiras).
É importante lembrar também que o que bagunça a noção de tempo e organização das crianças não é exatamente ter uma rotina rígida, cheia de regras, ou mesmo não ter rotina, e sim, a falta de constância. Por exemplo: uma semana a criança vai para a escola na terça-feira, na outra semana ela não vai, e na seguinte a ida é na sexta-feira. Por isso, estabelecer com as famílias, sempre que possível, um calendário estável.
O Núcleo Ciência pela Infância publicou um material mostrando a repercussão da pandemia no desenvolvimento infantil, em que é possível verificar que problemas no sono, na alimentação e no desenvolvimento da fala têm sido corriqueiros. “Não é fácil para os pais darem conta de tudo, até porque muitos também estão com problemas pessoais”, pondera Silvia Fuertes, formadora de educadores do Comunidade Educativa CEDAC. “Mas é essencial orientá-los” – continua – “pois rotina envolve negociações e muitos rituais. Neste momento de imprevisibilidades, é importante comunicar as decisões, o cronograma e o planejamento para as crianças.”
Um bom exemplo, conta Mariana, é o caso dos filhos de pais separados. “Não tem problema que cada dia eles fiquem na casa de um, desde que isso aconteça sempre, e que eles saibam antecipadamente como vai ser.”
Outra dica é ter um bom planejamento de como serão as atividades na escola, mesmo que não seja possível prever como serão todos os meses (ou, ainda, incluindo essa imprevisibilidade no plano). Para isso, o trabalho coletivo entre as equipes docente e gestora é fundamental. Juntos podem refletir que adaptações precisam ser feitas na maneira como a rotina é organizada: como incorporar as novas regras de higiene e proteção sanitária no dia a dia; quais atividades não serão possíveis de retomar por conta da necessidade de distanciamento; como incluir mais atividades ao ar livre etc.
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