Retomada do presencial exige compromisso de todos
Além da atenção aos novos protocolos sanitários, o plano de retorno deve ser participativo e contemplar o acolhimento das crianças e suas famílias
Após meses de afastamento por conta da pandemia, é esperado que a volta às atividades presenciais gere incertezas entre os familiares e a comunidade escolar. Afinal, como acolher as crianças neste momento delicado e, ao mesmo tempo, propor experiências significativas de aprendizagem, sem comprometer os novos protocolos sanitários? Para os especialistas, este é um processo que deve ser construído coletivamente, envolvendo professores, funcionários, crianças e suas famílias.
Com a experiência de quem já retomou as atividades presenciais em fevereiro, com cerca de 300 crianças de zero a 5 anos, Ceila Luiza Pastório, diretora da creche Baroneza de Limeira, localizada na capital paulista, afirma que essa construção participativa, além de fortalecer os vínculos pela acolhida e compreensão, garante um compromisso conjunto no cuidado com o todo. “Passados cinco meses do nosso retorno, sempre que necessário, relembramos do que combinamos nos vários encontros que antecederam a volta”, conta.
O processo de retomada na creche, pontua Ceila, foi minuciosamente planejado. E o mesmo ela sugere às escolas que vão retornar presencialmente neste segundo semestre: que criem um Plano de Retomada, a exemplo do que foi feito na Baroneza de Limeira. Antes da reabertura, a creche reuniu pais, professores, funcionários das equipes de apoio – como limpeza, cozinha e área administrativa –, além de especialistas em saúde, nutrição e psicologia para construir esse Plano. A discussão foi dividida por blocos de interesse e depois compartilhada em encontros, sempre on-line.
A nutricionista, por exemplo, juntamente com a equipe de cozinha, revisou os procedimentos operacionais no preparo dos alimentos e na higienização geral dos espaços. O grupo alterou o que julgou necessário e apresentou a conclusão aos demais. “Com base nas orientações sanitárias e todas as demais legislações que normatizam o retorno escolar, pensamos juntos os detalhes de cada mudança que deveria ser implantada nessa área”, explica Ceila.
Para facilitar o distanciamento, por exemplo, foram retiradas várias mesas do refeitório e o número de cadeiras reduzido pela metade. Os móveis foram reorganizados de forma a manterem-se afastados uns dos outros e, em cada mesa, colados os comunicados para relembrar a todos sobre os cuidados necessários. “Isso foi feito em todos os ambientes, vale dizer, não só no refeitório”, observa Ceila. E, claro, suportes e dispensers com álcool em gel espalhados pela escola.
Para garantir maior segurança à comunidade escolar neste retorno, Evandro Tortora, formador de professores de NOVA ESCOLA e professor de Educação Infantil no CEI Tancredo Neves, em Campinas (SP), aponta ainda a importância de os órgãos de Vigilância Sanitária das prefeituras agirem em colaboração com a área da educação. “Na minha escola, por exemplo, instalamos quatro pias no pátio, além das que já tinham, e sinalizamos quais os móveis podem ser utilizados e quais não. A prefeitura nos orientou e seguimos à risca o número de crianças por turma”, conta o educador, frisando a necessidade da Vigilância Sanitária estar aberta às dúvidas da comunidade escolar.
Cuidado como manifestação de carinho
As crianças, por sua vez, diz Tortora, precisam entender que a escola está diferente, que não é a mesma de quando saíram. Para deixar tudo isso claro, o acolhimento na chegada é muito importante. “Elas precisam ser recebidas com muito afeto, de forma lúdica, e acolhidas nas suas dúvidas”, pontua. Precisam entender, por exemplo, por que não vão poder compartilhar objetos, ou por que precisarão usar máscaras o tempo todo e higienizar os brinquedos após o uso. “Essas rotinas têm de ser bem planejadas. Por isso, brincadeiras que envolvam conceitos de higiene e limpeza são muito bem-vindas”, exemplifica.
Karina Rizek, consultora da Avanti Educação e Mobilização Social, ressalta que ouvir as crianças sobre as mudanças, sobre o que elas estão vivendo, seus medos e angústias, também é essencial. “Dessa forma, elas vão se sentir mais seguras, vão se cuidar e cuidar dos outros.”
Por isso, o retorno exige compromisso coletivo. As famílias devem estar à vontade para sinalizar se algum protocolo não está sendo cumprido, assim como professores, funcionários e as próprias crianças. “É importante que todos entendam que esse cuidado são manifestações de carinho, as que o momento permite e exige. Por isso, espalhamos mensagens reforçando esses protocolos por toda a escola, mescladas com as mensagens de acolhimento e boas-vindas”, explica Ceila.
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