Para repensar a prática

Os benefícios e possibilidades da aprendizagem ao ar livre

Saiba como aproveitar os ambientes externos de forma a favorecer as experiências da infância

Ilustração de crianças brincando em ambiente externo, ao ar livre.
Ilustração: Leticia Moreno/NOVA ESCOLA

Neste momento de retomada das atividades presenciais das escolas, priorizar os espaços externos faz parte dos protocolos sanitários de prevenção à covid-19, assim como o uso de máscaras para crianças acima de cinco anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Além de diminuir o risco de contágio, as experiências ao ar livre beneficiam as crianças em diversos aspectos: memória, imunidade, sono, sociabilidade, capacidade física e de aprendizado são alguns exemplos. É o que explica Paula Mendonça, assessora pedagógica do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana: “O contato com a natureza possibilita o desenvolvimento integral das crianças. Consideramos o espaço um terceiro educador, pois tem proposta e intencionalidade”, resume. 

Evandro Tortora, professor de Educação Infantil da rede municipal de Campinas (SP), vê isso na prática. “Se você perguntar para alguma criança o seu lugar preferido na escola, provavelmente ela vai dizer que é o parque. É onde elas têm mais liberdade: podem escolher as brincadeiras com autonomia, se movimentar e aprender com o corpo todo”.

Por isso, o professor acredita que proporcionar o contato das crianças com a natureza é uma maneira de possibilitar novas formas de aprendizagem. “A natureza oferece recursos para ampliar as experiências das crianças. As folhas secas, as sementes e a própria árvore oferecem elementos para trabalhar com os alunos. Por meio deles, por exemplo, conseguimos ampliar a criatividade das crianças e explorar novas texturas.”

Planejamento e possibilidades

Mas como pensar experiências significativas ao ar livre? No caso das escolas com um espaço externo dentro do próprio prédio, Paula orienta o educador a preparar o local para que as crianças aprendam brincando. Já no caso das escolas que não possuem essa infraestrutura, é possível buscar parcerias para utilizar equipamentos públicos do entorno, como praças e parques.

Para garantir o cumprimento dos protocolos sanitários, os educadores podem planejar diferentes atividades ao ar livre e dividir as crianças em pequenos grupos, fazendo um esquema de rodízio nas brincadeiras. “É interessante preparar cantinhos que, de certa forma, convidem a criança a brincar. E incluir espaços para movimentação, para promover algum tipo de investigação e para o encontro e contemplação”, completa Paula.

Em uma das atividades propostas por Evandro, as crianças buscam elementos da natureza para pintar, como frutas e sementes disponíveis no espaço externo da escola. O professor conversou, inclusive, com a equipe de limpeza para garantir que esses itens estivessem presentes no parque. “Havia o hábito de recolher as folhas e galhos para o ambiente ficar sempre limpo. Pedi para isso não acontecer com tanta frequência, porque também são recursos pedagógicos”, conta.

Além do brincar livre, outra possibilidade é a montagem de circuitos e labirintos, conforme explica a Casa Labirinto, uma incubadora de práticas pedagógicas interativas e lúdicas que faz uso deste recurso para realizar dinâmicas e intervenções em creches, escolas e outros espaços públicos.

“Os labirintos lúdicos têm um grande potencial como mediadores de atividades que podem envolver jogo, autodescoberta e interação com os outros. Eles ajudam a criar ambientes educativos em que crianças vivem experiências divertidas, fazem escolhas, interagem e refletem”, explica Luca Rischbieter, pedagogo e cofundador da instituição.

Os labirintos podem ser impressos ou desenhados no chão e são indicados para todas as idades, até mesmo para os bebês. “O que muda é o tamanho do percurso, podendo ter de 2 a 11 corredores ou circuitos. Na Casa Labirinto, trabalhamos preferencialmente com modelos com 3 a 7 circuitos, que podem ser percorridos mais rapidamente por crianças.”

No caso das crianças que continuam no ensino remoto, Paula sugere incluir na rotina da família passeios pelo quarteirão ou em praças, por exemplo, o que já proporciona os benefícios de estar ao ar livre. Evandro aconselha ainda que os educadores proponham atividades que estimulem as crianças a visitar esses locais, pedindo às famílias registros de brincadeiras ao ar livre ou de pesquisas nesses ambientes. “A escola também deve apresentar os benefícios e riquezas dos espaços ao ar livre para estimular o contato com a natureza”, finaliza.

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