Dicas para promover a participação das famílias na vida escolar
Confira quatro estratégias para envolver pais e responsáveis de forma efetiva nas atividades e rotina da escola
Ao fazer uma retrospectiva de março de 2020 – quando a pandemia de covid-19 estourou no Brasil – até hoje, não é difícil constatar que uma das principais lições desse período diz respeito à importância da parceria entre escola e família.
Portanto, quando pensamos em propostas que não só envolvem, mas que têm como tema, as relações familiares, é essencial contar com a participação de pais e responsáveis para que sejam bem-sucedidas, ainda mais na Educação Infantil.
Keli Patrícia Luca, professora da rede municipal de São Caetano do Sul e especialista em Psicopedagogia, lembra que a etapa não se realiza sem o apoio dos familiares. “Isso pode ser usado como uma mola que impulsiona a aproximação, só depende de como será usada”, observa.
A presidente da Avante, Maria Thereza Marcilio, reforça que escola e família devem ser parceiras sempre. “Você não consegue educar uma criança se isso não for uma atividade compartilhada. Família é o primeiro espaço de convivência da criança, e a escola é o primeiro lugar onde ela deixa de ser apenas um membro da família para ser cidadã. O ditado ‘é preciso uma aldeia para educar uma criança’ é verdadeiro”, pontua a educadora, que é pedagoga pela Universidade Federal da Bahia e mestra em Educação pela Universidade Harvard.
Pensando nesse estreitamento de laços, elencamos abaixo algumas estratégias que podem ser usadas pelos educadores para envolver as famílias de forma efetiva nas atividades e na vida escolar como um todo. Confira a seguir.
1. Seja empático. A parceria entre escola e família é fundamental e precisa ser muito cuidadosa do ponto de vista da generosidade, da empatia que o professor tem em relação a cada um dos núcleos familiares e às suas condições, de acordo com Beatriz Ferraz, psicóloga e doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Ela afirma que deve-se evitar os julgamentos e, sobretudo, buscar construir relações a partir daquilo que as famílias conseguem dar. “Esse é um termômetro importante para que a gente não crie situações homogêneas de expectativa em relação ao tipo de envolvimento familiar. Este vai depender muito dessas condições, de como as famílias podem aportar, estar presentes, ou mesmo o que conseguem aportar na relação com os professores, de informações sobre as crianças”, reforça Beatriz.
2. Informe os familiares sobre o trabalho desenvolvido na escola. Uma forma de envolver as famílias e potencializar os aprendizados das crianças é fazer com que pais/responsáveis conheçam o que está sendo trabalhado na escola e que, a partir disso, possam criar ganchos para conversar com as crianças e também pensar as propostas, as brincadeiras que vão fazer em casa. “Se eles valorizam esse conteúdo que vem da escola, as crianças encontram maior sentido, porque o que estão aprendendo lá serve para a vida delas”, reflete Beatriz Ferraz.
3. Proponha conversas sobre as experiências escolares em casa. No período em que as crianças estão em casa, seja por conta das férias, seja porque estão no modelo remoto, é muito importante que a conversa sobre a escola e as experiências que ali vivem possa continuar a ser narrada e fazer parte do seu cotidiano. Assim, é possível manter um fio narrativo e a memória afetiva da criança em relação à escola. O professor também pode pensar com as famílias esse período de adaptação do retorno ao presencial e o acolhimento que será necessário, falando sobre a importância, por exemplo, de dar tempo às crianças para se despedirem das famílias, de se sentirem confortáveis e seguras no ambiente escolar.
4. Crie situações para envolver cada vez mais as famílias. No dia a dia, vale se perguntar: em quais contextos é possível envolver as famílias? Convidar pais e responsáveis para contar as experiências vividas no período de pandemia ou para falar da sua cultura familiar são caminhos possíveis. Ao trabalhar, por exemplo, com a temática da culinária, cada família tem uma tradição e ela pode depender da região do Brasil, mas também, de um costume do núcleo familiar. Da mesma forma, é recomendável pensar contextos relacionados à própria identidade social das famílias: se podem ir à escola conversar com as crianças sobre seus trabalhos, trazer instrumentos que usam etc. Essa troca pode levar à criação de situações de faz de conta, por meio das quais as crianças têm a oportunidade de representar aquilo que viram em brincadeiras e expressões artísticas. “Esses são contextos em que as famílias se sentem confortáveis porque têm muito o que contar, afinal, estão falando sobre elas, e porque as crianças ficam muito orgulhosas quando seus pais vão para a escola”, observa Beatriz Ferraz.
Se os pais e responsáveis não puderem ir à escola por causa dos protocolos sanitários contra a covid-19, vale pedir para que gravem vídeos ou áudios ou que mandem uma cartinha. “Temos de encontrar possibilidades para que todos, crianças e famílias, se sintam acolhidos e representados. Essa valorização amplia muito o sentido que a criança dá para o que vive na escola. Quando ela sente que o mundo dela é valorizado no ambiente escolar, ela também valoriza e se engaja com as propostas que acontecem na escola”, completa Beatriz.
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