Por que e como promover atividades "mão na massa" com as crianças
Além de colocá-las como protagonistas de sua aprendizagem, a abordagem incentiva a criatividade e a experimentação
Ao usar as próprias mãos para fazer um barquinho, um tsuru, um robô, uma boneca, uma hortinha e assim por diante, a criança não está apenas vivenciando um processo criativo a partir de sua prática, mas também, trabalhando uma série de habilidades e competências cruciais para o seu desenvolvimento. Esse é o mote por trás das atividades “mão na massa” ou “maker” (faça você mesmo, em tradução livre), tão presentes no dia a dia dos pequenos através das brincadeiras e das experimentações.
Além de colocá-las como protagonistas de sua aprendizagem, é por meio dessas vivências que as crianças aprendem sobre o mundo, estreitam relações sociais, desenvolvem autonomia e organizam suas emoções.
Paula Sestari, professora de Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC) e colunista de NOVA ESCOLA, explica que ao construir o próprio brinquedo, por exemplo, a criança está mobilizando diversos saberes. “Ela vai resgatar o repertório de vivências de sua cultura e de seu contexto, bem como abrir-se ao inédito ao pensar em outras possibilidades para um material e ainda adentrar o espaço do apego e do afetivo, fruto de seu empenho e da interação que estabelece com seus pares”, afirma Paula, que em 2014 foi eleita Educadora do Ano pelo Prêmio Educador Nota 10.
Débora Garofalo, assessora especial de Tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, compartilha desse entendimento. Para ela, as propostas “mão na massa” vão muito além do artefato construído. “Eu costumo dizer que não são construções de brinquedos, mas sim, do processo de aprendizagem, justamente porque as crianças estarão desenvolvendo habilidades e competências, tais como criatividade, pensamento crítico, colaboração, empatia, raciocínio lógico e resolução de problemas. Isso desde os seus primeiros passos”, observa a educadora, que foi uma das dez finalistas do Global Teacher Prize 2019 por conta do seu projeto Robótica com Sucata Promovendo a Sustentabilidade.
Para Elza Corsi, formadora de professores e uma das fundadoras do Instituto Avisa Lá, é importante lembrar que, para bebês (zero a 1 ano e 6 meses) e crianças bem pequenas (1 ano e sete meses a 3 anos e 11 meses), tudo é sempre uma grande experimentação. Por isso, é essencial que o professor não espere resultados prontos, mas aposte em propostas por meio das quais os pequenos possam explorar os materiais disponibilizados e fazer suas descobertas.
Como colocar essa abordagem em prática
Nesse retorno ao modelo presencial, Paula Sestari sugere que, com os bebês e as crianças bem pequenas, a professora aposte, por exemplo, nos objetos de largo alcance e em objetos do cotidiano que, segundo ela, são valiosíssimos para a livre exploração da criança por meio do jogo simbólico, da imitação, das formas, texturas e sons. “Fazer gelecas com produtos comestíveis para que seja possível a experiência de sentir também com o paladar, de modo seguro, é ótimo para essas faixas etárias”, recomenda.
Já com as crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses), os objetos de largo alcance podem ganhar produções mais elaboradas. Os materiais podem receber releituras e se adequar aos interesses da brincadeira, como caixas que se transformam em carros ou barcos, ou tecidos que se transformam em cabanas. Outra possibilidade são as receitas caseiras de massinha de modelar ou outras que tragam a oportunidade de explorar a transformação dos materiais, além da experimentação de grandezas como volume e quantidades.
É válido lembrar que o conceito de “mão na massa” envolve a participação ativa da criança também na organização dos espaços para a brincadeira e nos arranjos dos grupos. Sempre que possível, utilize a área externa da escola, como quintal, parquinho e horta. Essa é uma oportunidade para trabalhar com as crianças os elementos da natureza, como folhas, galhos, sementes, terra, pedras e argilas. Além das infinitas possibilidades de criação que oferecem, Elza Corsi frisa que os espaços abertos são mais seguros neste momento de pandemia. “Lá fora, dependendo da faixa etária, as crianças podem brincar mais juntas”, diz.
Débora Garofalo acrescenta que os ambientes externos também servem para despertar nas crianças outras intervenções, como, por exemplo, desafiá-las a criarem jogos recreativos a ser realizados durante os intervalos. “Essas são práticas que as próprias crianças da Educação Infantil podem criar e que geram um pertencimento enorme porque são construções coletivas delas”, pontua.
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