Para repensar a prática

Trocas, pertencimento e acolhida: o professor e a Semana Pedagógica

Semana é momento-chave para professores refletirem e compartilharem entre pares o que estão vivenciando e como pretendem trabalhar ao longo do ano

Mosaico composto por ilustrações de professores conversando em momentos da semana pedagógica.
Ilustração: Laissa Ribeiro/NOVA ESCOLA

Pandemia, isolamento, ensino remoto, desigualdades sociais, falta de acesso à internet, saudades da escola, perda de entes queridos para a covid-19: a lista de desafios enfrentados pelos professores brasileiros nos últimos dois anos é vasta. A crise sanitária que virou o que era normal de ponta-cabeça vem exigindo o replanejamento e a adaptação das práticas pedagógicas de educadores de todo o país. 

Ao que tudo indica, 2022 não será diferente. Nesse sentido, a Semana Pedagógica é um momento-chave não somente para a gestão escolar apresentar propostas, mas também, para os professores da Educação Infantil refletirem, questionarem e compartilharem entre pares tudo aquilo que estão vivenciando e como pretendem trabalhar com as crianças e entre si ao longo dos meses. 

Maria Thereza Marcílio, presidente da Avante Educação e Mobilização Social, afirma que a Semana Pedagógica é sempre uma ocasião muito importante para reunir, trocar ideias, informar e acolher. Ela explica que se trata de parte de um processo formativo que deve acompanhar todo ano o trabalho pedagógico das escolas e que, neste momento, se torna crucial, pois reforça um papel de acolhimento e cuidado.

“Todos nós precisamos ser acolhidos e cuidados após um período tão difícil, não só pela pandemia, mas também pelo descaso com as políticas de Educação e de Ciências no país, e também pelos desastres ambientais, por trás dos quais há muita ação humana, que atingiram muitas pessoas”, comenta.

Karina Rizek, consultora associada da Avante Educação e Mobilização Social e diretora pedagógica da Escola Global Me, ressalta que planejamento, acolhimento e pertencimento fazem parte de um mesmo pacote, que é a formação.

“A gente considera essa dimensão subjetiva, que tem a ver não só com as concepções de tudo que envolve a Educação Infantil, mas também, as inseguranças das questões pessoais de como cada um encara este momento. É importante que tenhamos essa visão de que a Semana Pedagógica abarca tudo isso”, frisa.

Na EMEI Pica-Pau Amarelo, em Novo Hamburgo (RS), a semana pedagógica é o momento em que, após a pausa do recesso escolar, são retomados e relembrados os objetivos e funções dos educadores. São reservados três dias para discutir o planejamento do ano letivo, onde aparece uma série de questionamentos e apontamentos que são retomados e aprofundados no decorrer do ano, segundo a diretora Daiana Michele dos Passos.

“É um período para fortalecer, ou iniciar com novos profissionais, o vínculo com a escola, discutir o que é importante e imprescindível na Educação Infantil, repensar o ano anterior retomando o que deu certo e o que é necessário modificar. A escuta sempre está presente nos momentos de formação, pois o professor precisa ter voz e opinar sobre os diferentes contextos que estão inseridos”, conta.

Trocas e aprendizagens 

O momento também é fundamental para as trocas e aprendizagens coletivas dos docentes da Educação Infantil, de acordo com Maria Thereza Marcílio. Ela pontua que não se trata de ensinar, mas de trocar experiências, algo fundamental na escola, inclusive nas relações entre professores e crianças. 

“Sem esse momento de diálogo não existe educação, não existe formação. A formação se dá no momento em que há trocas. Você pode ter uma pessoa como guia e orientadora desse processo e o papel do professor dentro de um grupo, mas entre todos tem de haver a troca, se escutar, se acolher”, reflete a especialista.

Para Karina Rizek, a Semana Pedagógica é muito mais para ouvir e deixar que professores falem do que para a gestão tomar a frente e aderir uma postura informativa. A ideia é aproveitar esse momento para fazer discussões em pequenos grupos, em duplas etc., para que todos possam se ouvir e entender que a dificuldade de um pode encontrar solução na escuta de alguém que já enfrentou o mesmo problema e conseguiu solucionar bem.

Apesar de considerar esses momentos ainda escassos dentro das instituições de Educação Infantil, Karina reforça que devem ser bem aproveitados. Isto é, focados e voltados para a troca a partir do ponto de vista dos profissionais para que a gestão escute de verdade o que eles têm a dizer. 

“Quando eu digo 'escutar', não é estar atento ali e depois engavetar, mas sim, pensar como é que todas as dicas que foram trazidas pelos profissionais neste momento podem e devem ser aproveitadas para a organização do trabalho pedagógico ao longo do ano”, completa.

Acordos coletivos para enfrentamento da pandemia

Com o aumento do número de casos de covid-19 neste começo de ano, outro assunto que deve estar presente ao longo da Semana Pedagógica é o enfrentamento à pandemia, ainda mais com a propagação da variante ômicron em um contexto em que as crianças desta etapa não estão vacinadas.

Por isso, para as especialistas, é imprescindível fazer acordos coletivos para evitar contaminações no ambiente escolar. A recomendação é de que o trabalho da escola seja estruturado a partir dos procedimentos e protocolos sanitários determinados pelas secretarias de Educação e de Saúde, bem como Vigilância Sanitária e demais órgãos competentes.

“Se tem um momento informativo na Semana Pedagógica é exatamente sobre isto: lembrar todo mundo de que a pandemia não acabou e que essa onda de contágio é maior, embora a gente tenha uma gravidade menor da doença. É preciso fazer um monitoramento de vacinação e de sintomas e avisar as famílias e a escola caso uma criança ou um professor apresentem algum sintoma”, orienta Karina Rizek.

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