Para colocar em prática

Como montar um bom acervo literário

A diversidade de gêneros deve pautar a escolha das obras, assim como as características e os interesses de cada faixa etária

Ilustração de crianças brincando em uma praia com livros e objetos de leitura expostos em uma toalha.
Ilustração inspirada no livro João Felizardo, o Rei dos Negócios; de Angela Lago (Autora). Crédito: Nathalia Takeyama/NOVA ESCOLA

Diante de tantas opções de obras e abordagens, como montar um acervo que faça sentido para as crianças? Ao planejar uma jornada por livros e histórias, o professor deve considerar, sobretudo, que a diversidade é a base para a escolha. Porém, há também aspectos e elementos importantes em relação às obras oferecidas às crianças. 

É importante garantir uma variedade de gêneros literários, diz Maria Grembecki, diretora de Conteúdo e Formação da Escola de Educadores. Exemplos disso são os gêneros narrativos com histórias que favorecem o diálogo sobre seu enredo, personagens e o que as crianças sentem e pensam sobre elas, e as histórias rimadas e os poemas que trazem uma sonoridade que convida as crianças, desde muito pequenas, a brincar e pensar sobre a língua. 

Além disso, essa diversidade deve ser tanto de gêneros textuais e autores quanto de formatos, propostas visuais, paleta de cores e estruturas linguísticas. “A ideia é que as crianças possam se apropriar das diferentes formas com que a linguagem se manifesta”, afirma Denise Guilherme, formadora de professores e curadora da rede de leitura A Taba. 

Para que o percurso literário contribua para o desenvolvimento das crianças, é preciso pensar também em diferentes estratégias de leitura, por meio das quais as crianças possam observar e ler os livros, conhecer os nomes dos autores, comunicar suas preferências e ouvir a leitura coletiva de um livro, por exemplo. “Não é só pensar na leitura em voz alta, mas criar diversas situações que vão ajudar as crianças nessa imersão no mundo da leitura”, ressalta Denise. 

Maira Franco Tangerino, fundadora da Educação Infantil em Rede e integrante do Time de Autores de NOVA ESCOLA, afirma que a leitura deve ser contemplada como um momento diário na rotina das crianças e não como um evento esporádico ou, até mesmo, um prêmio negociável, do tipo em que a criança “só vai ouvir uma história se fizer isso ou aquilo”.  

Para garantir esses momentos, ela sugere que, dentro do espaço das crianças, o educador reserve um cantinho de leitura, onde os livros possam ficar acessíveis. A partir disso, alguns combinados também podem ser feitos com os pequenos, como “hoje a nossa atividade será x, mas quem for acabando pode ir brincar ou escolher um livro para ler”.

“Isso vai criando momentos mais soltos, em que as crianças fazem a leitura de forma mais livre, mas também, vão se colocando nesse lugar de leitor, porque o livro está ali sendo oferecido para elas”, destaca a professora. 

Orientações para cada grupo etário

Outro ponto importante é levar em consideração as características de cada faixa etária e o propósito do professor para cada grupo. “Mas isso não pode cair naquele lugar de ‘só vou trazer livros de plástico para o bebê’. Claro, pode ter. Mas o mais importante aqui é ter repertório literário”, observa Maira Franco Tangerino. 

Denise Guilherme pontua que as obras devem apostar na inteligência das crianças. “Afinal, livro para bebê não é só aquele que tem uma foto, um desenho, uma palavra, ou que seja cartonado. Há livros para bebês com texto literário. Então, o objetivo deve ser promover esse encontro com a literatura, que é essa forma elaborada da linguagem, a linguagem na sua forma artística”, sugere. 

Portanto, para esse grupo etário, a dica é escolher boas adaptações de clássicos, que tenha um texto bem cuidado, uma ilustração bonita e uma estrutura de repetição. 

Para bebês (zero a 6 meses) e crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses), é interessante trabalhar com textos que tenham como características a sonoridade e a musicalidade da língua. Por isso, vale proporcionar às crianças, por exemplo, livros de cantiga, parlendas e poemas.

Com as crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses), o ideal é abordar todos os gêneros anteriores, mas também, trabalhar com livros-álbuns, livros ilustrados, contos clássicos e histórias mais extensas. Uma boa ideia é fazer com as crianças a leitura de livros em capítulos para que elas possam acompanhar narrativas mais longas, prática que pode ser bem interessante. 

Dicas gerais

Maria Grembecki reforça que, em relações aos livros e ao acervo que será construído é importante: 

- Garantir a distribuição dessas trilhas ao longo do ano letivo de forma que haja um equilíbrio entre os gêneros.

- Considerar as múltiplas linguagens por meio das quais as crianças se expressam e aprendem. Por exemplo, articular a leitura e escuta da história com experiências com o corpo, música, artes plásticas, teatro etc.

- Quando as crianças são maiores, 4 a 5 anos, é possível e indicado que as trilhas planejadas também apoiem a reflexão e a experiência das crianças com a língua escrita, por exemplo:

1. Livros com histórias repetitivas e acumulativas que favorecem que as crianças possam se colocar no lugar do leitor, mesmo sem saber ler autonomamente, correspondendo um texto memorizado ao texto escrito. Também podem localizar e ordenar palavras, versos e estrofes, brincando com as rimas, assonâncias e aliterações.

2. Livros com histórias narrativas que, por ser uma forma de discurso presente na cultura de nossa época, nos livros, nos filmes, na TV etc., proporcionam experiências como participar de situações de leitura e escrita a partir do texto narrado e realizar produção de texto oral com destino escrito, entre outras possibilidades.

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