Para colocar em prática

O que fazer e o que evitar no contato das crianças com o universo literário

Dicas para planejar e colocar em prática atividades de leitura com sua turma

Ilustração abstrata de menina brincando de esconde-esconde com urso, cachorro e tartaruga.
Ilustração inspirada nos livros Este Chapeu Não É Meu; Quero Meu Chapéu de Volta; e Achamos um Chapéu; de Jon Klassen (Autor). Crédito: Nathalia Takeyama/NOVA ESCOLA

Como conduzir o trabalho com a leitura no dia a dia com as crianças? O que fazer e o que evitar na hora de proporcionar o contato com o universo literário? “O trabalho com a leitura na Educação Infantil precisa proporcionar situações que garantam as experiências com os livros, com os textos escritos e seus mais diferentes usos, favorecendo assim que as crianças construam hipóteses sobre a escrita, a leitura e a oralidade, expressem suas ideias, desejos e sentimentos, ampliem seu conhecimento do mundo, da cultura, de si mesmo e do outro.”

É o que defende Maria Grembecki, diretora de Conteúdo e Formação da Escola de Educadores. A especialista frisa ainda que o arranjo curricular em Campos de Experiência, proposto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e seus respectivos objetivos de aprendizagem, convidam à construção de planejamentos que considerem as experiências e os saberes das crianças. Assim, é fundamental que os professores tomem como base os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que precisam ser garantidos ao longo da Educação Infantil e que a sua intencionalidade educativa se materialize em suas práticas pedagógicas.

Com esse entendimento, destacamos dicas práticas para orientar o trabalho.

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1. Leia diariamente com as crianças. Se você quer saber com que frequência a leitura deve aparecer no dia a dia das crianças, a resposta é: sempre! “Todo e qualquer dia é dia de ler com as crianças, mas vale frisar que essa deve ser uma leitura planejada e intencional, que de fato vai promover uma mobilização de saberes e ajudá-las a pensar sobre a linguagem, e não uma leitura protocolar porque a aula precisa começar com um livro”, reflete Denise Guilherme, formadora de professores e curadora da rede de leitura A Taba. 

2. Observe as crianças durante a leitura. Prestar atenção nos gestos, nos olhares, nas expressões – especialmente nos bebês – oferecerá insumos para perceber o que eles estão compreendendo sobre a leitura. Neste sentido, outra dica preciosa, segundo Denise, é estar aberto para surpresas, para o inesperado, para ver coisas que o educador não teria visto sem a ajuda das crianças.

3. Crie uma relação horizontal de escuta. Denise diz que o mais importante de ser observado durante a leitura com as crianças é a questão da escuta. “Antes as crianças quase não falavam na escola, hoje falam muito, mas não sei se os professores estão escutando”, comenta. Por isso, uma dica importante é criar espaços de diálogo. Por exemplo, aproveite o que a criança diz para fazer outra pergunta, isto é, questionar como ela pensou naquilo, saber o que no livro a fez pensar naquela resposta. “Tudo isso vai fazendo com que a criança torne visível para ela o que está enxergando, mas também, mostra para os outros o que ela está pensando e assim a gente ajuda na formação de leitor”, afirma a educadora. 

4. Deixe os livros sempre acessíveis. As obras podem ser dispostas em estantes, mas o ideal é que estejam na altura das crianças. Se o acervo for grande, nem todos os livros precisam ficar expostos. O professor pode separar alguns e deixar disponíveis por um período e depois trocar, de modo que as crianças tenham sempre novidades. Além disso, dá para deixá-los também em caixotes, maletas, cestos e pequenas prateleiras. Qualquer que seja o suporte, o importante é que esteja acessível para que as crianças possam pegar os livros com autonomia. 

5. Envolva as famílias. Para que a rotina de leitura não fique circunscrita ao ambiente escolar, incentive as famílias a adotarem o hábito de ler com as crianças. Sempre que pais e responsáveis estiverem na escola, proponha situações de leitura compartilhada antes das reuniões e conversas sobre as obras lidas com os pequenos. Essas e outras práticas mostrarão como uma experiência de leitura é conduzida, pois não adianta mandar o livro para casa e achar que a família vai saber o que fazer com aquele objeto. 

6. Nunca use questionários com respostas prontas. Muitas vezes, o educador prepara um questionário com respostas prontas com a intenção de ver se as crianças pensam como ele pensa, mas Denise Guilherme alerta que isso não é mediar leitura: “Mediar leitura é a gente fazer perguntas que vão abrir espaço para uma conversa e não para um questionário de perguntas e respostas”, enfatiza.

7. Descarte as lições de moral. Terminar a leitura sempre com uma conclusão sobre um comportamento que as crianças deveriam ter ou não ter, com base no que leram dos personagens, é algo que o professor não deve fazer. “A literatura não está para ensinar nada, não é da esfera do jurídico, mas sim, da esfera do artístico, e a arte está para incomodar, para nos tirar do lugar e nos deixar surpresos, encantados. Esse é o lugar da leitura”, completa Denise.

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