Para colocar em prática

O que fazer e o que evitar no processo de letramento matemático

Saiba quais cuidados devem permear o contato inicial com a Matemática para respeitar o modo de aprender e ser da criança

A matemática do cotidiano: Que tal fazer uma caçada pelos signos visuais que já fazem parte do dia a dia das crianças, como calendários, relógios, placas, livros e materiais escolares?
A matemática do cotidiano: que tal fazer uma caçada pelos signos visuais que já fazem parte do dia a dia das crianças, como calendários, relógios, placas, livros e materiais escolares? Ilustração: Tayna Marques/NOVA ESCOLA

A Base Nacional Comum Curricular cita várias vezes a relação entre as crianças da Educação Infantil e o mundo físico, natural e sociocultural. Em uma etapa da vida onde surgem tantas perguntas e descobertas, é inevitável que os pequenos investiguem, sozinhos ou orientados, relações numéricas, de grandezas e medidas. Mesmo assim, alguns professores têm receio ou dificuldade de trabalhar com esses conceitos, mas é preciso entender que o objetivo não é dar aulas sobre Matemática.

Ana Flávia Alonço Castanho, pedagoga e docente na pós-graduação em Didática da Matemática no Instituto Vera Cruz, comenta que a dificuldade dos adultos com a Matemática também pode ser uma barreira na hora de levar essas noções para as experiências infantis. “Muitos professores – e muitos de nós, adultos – não tiveram boas experiências com a aprendizagem da Matemática. Isso, aos poucos, vem se atenuando, mas é preciso uma continuidade de esforços para que essa questão seja, de fato, ultrapassada. Também é preciso ter o compromisso de evitar uma antecipação do Ensino Fundamental”, reforça. 

Com a ajuda dos especialistas, apresentamos abaixo orientações e cuidados a serem tomados no processo de letramento matemático. Confira:

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O QUE FAZER

Observe e aproveite as situações cotidianas. O professor pode pesquisar, planejar e propor uma série de atividades para a turma, mas também é importante perceber em quais momentos cotidianos os conceitos já estão inseridos e podem ser destacados. Por exemplo: se a turma sempre se divide em pequenos grupos na hora das brincadeiras, chame atenção para esse fato com propostas como “hoje vamos nos dividir em grupos de cinco crianças. Sobraram três, então teremos um grupo menor”. Em outro momento, proponha uma divisão diferente. 

Ofereça materiais a serem explorados. Mesmo que as crianças ainda não saibam utilizá-los do modo convencional, é importante que tenham contato com instrumentos de medida diversos, como balança, régua, trena, fita métrica, calendário e relógio. Até mesmo um termômetro pode ser utilizado, desde que um adulto supervisione seu manuseio. “O propósito é criar contextos ricos em exploração, nos quais as medidas possam ser um instrumento para novas descobertas ou para a resolução de problemas práticos. A partir desses contextos, faça o convite para a troca de ideias e, em alguns casos, sistematização dos saberes em uma produção da turma”, orienta Ana Flávia. 


O QUE EVITAR

Apego à grafia do número. Os conceitos matemáticos fazem parte da cultura humana desde muito antes da grafia dos números como conhecemos hoje. Portanto, é possível (e aconselhável) desenvolver vários desses conhecimentos antes de saber escrever os números. “Antecipar processos para que a criança aprenda a grafar o número achando que ela constrói esse conceito apenas o escrevendo é um erro. O letramento matemático envolve vários processos mentais e a criança constrói isso a partir das experiências que o educador propicia. Copiar números não constrói conceitos”, afirma Fernanda Clímaco, doutoranda em Infância e Educação Infantil na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e formadora de professores. 

Atividades descontextualizadas. Na escola e mesmo em casa, há uma série de elementos concretos e cotidianos que representam noções numéricas e de grandeza. Portanto, o professor deve evitar tentar ensinar com base em situações hipotéticas e que não considerem explorações que as crianças possam fazer com seus próprios corpos e no ambiente em que estão. Por exemplo: em vez de apresentar o desenho de um elefante ao lado de uma formiga e pedir para a criança pintar o maior, organize uma atividade de exploração na área externa da escola onde a turma recolha folhas de árvores e depois separe-as em grupos de folhas pequenas, médias e grandes. “A metodologia de trabalho na Educação Infantil diz respeito à investigação. Não precisamos forçar a barra para trazer situações, as crianças se envolvem com o entorno e constroem o conhecimento pela experiência”, reflete Fernanda.

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