Para colocar em prática

Pontos para considerar na hora de planejar atividades e brincadeiras com a turma

Promover diferentes agrupamentos e organizar os materiais de forma acessível às crianças, entre outros cuidados

Colagem digital de alunos de mãos dadas.
Crédito: Duda Oliva/NOVA ESCOLA

Seja entre as crianças, entre elas e adultos, animais, objetos ou ambientes, as interações são essenciais para o desenvolvimento durante a primeira infância. Nesse sentido, o que o professor deve levar em consideração na hora de planejar atividades e brincadeiras com a turma?

“É importante considerar que as crianças aprendem a partir das interações que promovem vínculos afetivos, fundamentais para o desenvolvimento das bases emocionais do ser humano, do brincar, que é a principal linguagem por meio da qual se expressam e aprendem, e em ambientes que sejam sensíveis às necessidades culturais, sociais, afetivas e cognitivas”, explica Beatriz Ferraz, doutora em Educação pela USP e especialista em Liderança em Políticas para a Primeira Infância pela Universidade de Harvard.

Mariana Pinterich de Castilho, coordenadora pedagógica na escola de Educação Infantil Global Me, aponta que o primeiro fato a ser contemplado neste planejamento é a observação: quem são essas crianças, como elas se constituem como coletivo, o que foi preparado antes para elas, etc. “A observação de brincadeiras e de interações diversas possibilita que o educador saiba como aquela criança está se desenvolvendo em todas as suas dimensões – social, cognitiva, física. Só assim o profissional consegue planejar os melhores contextos a serem trazidos para o coletivo e para cada criança individualmente dentro desse grupo”, diz a educadora.

Com base nessas observações prévias, Paula Sestari, professora de Educação Infantil da rede municipal de Joinville (SC) e colunista de NOVA ESCOLA, sugere planejar momentos para diferentes agrupamentos. Segundo Paula, as brincadeiras de roda, com gestos, músicas e situações de dramatização, são ótimas opções para a vivência em grupo; já as experiências de observação, construção e pesquisa tendem a ter mais qualidade quando feitas em agrupamentos menores.

Além disso, em pequenos grupos, o professor consegue perceber determinadas características da criança ou fase de seu desenvolvimento que, no grande grupo, é possível deixar passar ou que a própria criança pode deixar de colocar. Por isso, a variedade de agrupamentos é fundamental para assegurar que haverá um espaço acolhedor para todos os tipos de crianças, desde a que prefere interagir em par até aquela que prefere estar em grande grupo. 

“O espaço de aprendizagem precisa ser plural para acolher a pluralidade do ser humano e da infância. O encontro entre diferentes faixas etárias é valioso: os mais novos observam e imitam os mais velhos, os mais velhos ensinam e aprendem muita coisa ao mesmo tempo, como o cuidado, a tolerância, as diferentes formas de trocas e diálogos, a responsabilidade”, ressalta Mariana.

Contudo, esses encontros precisam ser bem pensados e ter como objetivo o desenvolvimento integral de todas as crianças dos grupos. É fundamental que a equipe pense em todos os detalhes (contexto, segurança, interações, combinados coletivos) antes que o encontro aconteça, para que não seja apenas um agrupamento de crianças e elas não se beneficiem dessa proposta como poderiam.

“Muitas vezes os educadores esperam que as interações e agrupamentos ocorram de forma fluida e natural, mas não é bem assim que acontece no cotidiano. É esperado que, eventualmente, as crianças precisem da mediação do adulto para iniciar suas interações, sentar junto e brincar, trazer repertório tanto de brincadeiras quanto de resolução de conflito, criação e estreitamento de vínculo”, enfatiza Mariana.

A educadora, no entanto, distingue esse cuidado da intervenção excessiva. “Por vezes, queremos tanto que a interação aconteça, que intervimos na relação entre as crianças e evitamos que a interação aconteça a partir delas. Ou seja, precisamos cuidar dos dois pontos: o excesso de interação e a falta de interação do adulto”, recomenda.

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