Estratégias para a mediação de conflitos
Confira seis orientações práticas para lidar com a resolução de disputas
Nas interações entre as crianças não é só normal como esperado que pequenos conflitos aconteçam. Isso porque, principalmente nessa fase da vida, os pequenos ainda estão desenvolvendo sua capacidade de diferenciar e integrar os próprios pontos de vista e os do outro. É o que explica Mariana Pinterich de Castilho, coordenadora pedagógica na escola de Educação Infantil Global Me, localizada na capital paulista.
“Muitas vezes, o conflito é visto de forma negativa, como uma briga, mas nem sempre é assim. Podem ocorrer opiniões concorrentes, de vontades diversas ou até semelhantes demais. Na vivência do conflito e na sua resolução, a criança cria estratégias para lidar com frustrações suas e alheias, com seus medos e coragens, com suas fraquezas e habilidades, entende como regular suas emoções e expressar seus sentimentos. Isso é viver a vida”, explica.
Abaixo, reunimos dicas práticas fornecidas pelas especialistas para orientar os educadores na hora de lidar com a resolução dessas disputas. Confira:
1. Organize um ambiente de apoio e confiança
Doutora em Educação pela USP e especialista em Liderança em Políticas para a Primeira Infância pela Universidade Harvard, Beatriz Ferraz reforça que, na escola, as crianças estão aprendendo a conviver socialmente e que vão se deparar com conflitos interpessoais e aprender a resolvê-los. “É preciso que o professor organize um ambiente de apoio e confiança e que compreenda que os conflitos interpessoais são consequências naturais do desejo de interagir com o outro”, explica.
É preciso considerar, de acordo com ela, que a habilidade de resolução de conflitos interpessoais progride ao longo da primeira infância. Conforme a criança amadurece e vive as situações de convívio social a partir de seus desejos e interesses, aprendem a antecipar os potenciais problemas que podem aparecer e vão gradativamente construindo estratégias cada vez mais independentes para resolvê-los.
2. Assuma, inicialmente, uma postura observadora
Segundo Mariana Pinterich, sem essa observação não há como o educador saber para qual caminho sua intervenção ou mediação deve caminhar. É importante não assumir um partido, quem está certo ou quem está errado. “Não cabe ao adulto, neste local de aprendizagem, logo de partida, trazer esse tipo de julgamento e avaliação”, completa.
3. Escute as crianças
É fundamental que elas tenham a chance de explicar o porquê de cada escolha e atitude, como se sentiram e, então, o educador pode agir como uma ponte entre essas emoções e os sentimentos do outro. “É nesse exercício que auxiliamos as crianças a desenvolverem empatia e alteridade, conceitos que parecem simples e batidos, mas na prática são difíceis de ser atingidos”, avalia Mariana.
4. Encoraje as crianças a resolverem a situação
Nos conflitos entre duas ou mais crianças, é importante que o professor incentive que elas conversem entre si buscando falar sobre o que aconteceu e fazendo propostas sobre como poderiam resolver o problema. Nesse momento, o professor pode ajudar que consigam organizar suas ideias, expressar seus sentimentos e emoções, nomeando-os e falando sobre eles. “É importante que se evitem julgamentos morais à situação ou mesmo ao sentimento das crianças. Nesa hora, é interessante que o professor tenha uma atitude empática, traga exemplos de situações em que isso já ocorreu com ele ou com alguma outra criança e exemplos de como se resolveu, mas que sempre promova a independência das crianças na resolução”, sugere Beatriz.
5. Seja firme e justo, mas evite julgamentos
Beatriz destaca que quando os conflitos trazem ações perigosas entre as crianças, como bater, morder etc., a ação do professor precisa ser firme e justa, mas evitar julgamentos. É crucial que a criança entenda o que está fazendo e as consequências de seus atos no outro. Por exemplo: “Ana, pare de bater no João. Bater machuca e causa dor”. Ainda que seja difícil esse entendimento pelas crianças, principalmente quando bem pequenas, é a partir dessas situações e dessa interação com os adultos como mediadores que as apoiam e acolhem, que elas aprenderão e darão valor à atitudes saudáveis em suas relações.
6. Convide as crianças a participarem, de fato, das articulações
Quando elas participam ativamente dos combinados em sala, dos arranjos com outros grupos, das preparações de espaço e materiais, as crianças podem vivenciar situações de imprevisto, de dificuldade de execução de um projeto etc. Isso mostrará que situações inesperadas fazem parte do cotidiano e que a flexibilidade contribui para que as coisas aconteçam da melhor forma para todos, recomenda Paula Sestari, professora de Educação Infantil da rede municipal de Joinville (SC).
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