Para repensar a escola

Por onde começar o planejamento na Educação Infantil?

Além de pensar no espaço e na rotina das crianças, 2020 traz um desafio adicional: transformar a BNCC em prática

Na Educação Infantil, o planejamento é o ponto de partida, mas as crianças mostram o caminho. Ilustração: Deposit Photos

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) firmou uma perspectiva já conhecida na Educação Infantil: as experiências das crianças devem ser o centro a partir do qual o currículo se organiza. Tanto é assim que o documento foi organizado não em disciplinas, mas em campos de experiência.

As atividades, a rotina e os espaços são pensados para desenvolver a escuta, a fala, o relacionamento humano, a percepção visual etc. O que importa é o que as crianças dizem, veem, cheiram, tocam, sentem. E essa mudança reflete-se na maneira como o planejamento deve ser concebido.

"O planejamento é o ponto de partida, mas são as crianças que nos mostram o caminho", define Vladia Pires, supervisora pedagógica de Educação Infantil na Secretaria Municipal de Campina Grande (PB).

Na prática, planejar assim significa prever algumas semanas iniciais dedicadas a olhar os registros do ano anterior e a conhecer a turma, promovendo atividades prazerosas, fora da sala, para observar as preferências e as maneiras de interagir dos pequenos.

Com base nisso, é possível elaborar um planejamento do ano, olhando para o que as crianças já sabem e o que podem desenvolver. "Todas essas decisões devem dar abertura para que as crianças se organizem de forma autônoma. A prioridade é valorizar suas escolhas e permitir que elas se agrupem de acordo com seus interesses", recomenda a supervisora pedagógica de Campina Grande. 

Esse calendário anual serve como norte, mas deve ser revisto semanalmente ou sempre que necessário, para adequá-lo às necessidades e tempos de aprendizagem da turma. Assim, é possível adequar a organização dos espaços, os materiais oferecidos e os tipos de agrupamentos promovidos.

Para auxiliar na constante revisão, os registros são fundamentais, e devem fazer parte do planejamento, adaptando a prática à melhor forma de registrá-la. As mais comuns são por escrito, mas fotografias e filmagens também têm o valor de captar gestos e outros detalhes que podem passar despercebidos. "O planejamento vai ganhando vida com esse movimento de registrar, analisar e replanejar", explica Vladia.

Mas replanejar nem sempre significa trazer uma proposta inteiramente nova o tempo todo. "Para a Educação Infantil, a repetição é muito importante porque as crianças precisam de tempo para explorar uma atividade. Isso dá oportunidade a elas de se desenvolverem", explica Karina Rizek, coordenadora pedagógica da Avante Educação e Mobilização Social e formadora da Escola de Educadores.

Isso significa que a cada vez que uma criança brinca de uma mesma coisa, no mesmo formato, é uma experiência nova para ela. A função do professor é ir gradualmente agregando desafios e recursos, como pendurar um tecido no parquinho onde as crianças brincam todos os dias ou mudar as bonecas com que elas interagem, e perceber quando elas estão prontas para experimentar algo inteiramente novo. 

"Com essa mudança expressa na BNCC, o papel do professor ficou ainda mais relevante, porque reforça que ele é um pesquisador que observa, reflete e promove a mediação das interações constantemente", diz Karina.

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