Rotina, mas de um jeito diferente
Planejamento é essencial, mas você pode ganhar muito com a flexibilidade e perceber outras oportunidades de aprendizagem
A professora Karina Rizek, hoje coordenadora pedagógica da Avante Educação e Mobilização Social e formadora da Escola de Educadores, lembra-se que tinha planejado com cuidado uma atividade para sua turma de Educação Infantil. No entanto, quando começaram a conversar, as crianças viram um homem pendurado por uma corda trabalhando na construção ao lado e correram até a janela para entender o que estava acontecendo. A experiência que a educadora havia planejado ficou para outro dia, mas nem por isso as crianças deixaram de aprender.
"Eu fui olhar com elas, e conversamos sobre o que estavam se perguntando. Começamos falando sobre o homem cair ou não e terminamos discutindo sobre o porquê de a Lua não cair do céu. No fundo, elas estavam conhecendo mais sobre a gravidade, e essa é uma aprendizagem que emergiu do grupo e só poderia ter acontecido com tanto interesse nesse momento", lembra Karina.
Essa pequena história resume a essência do que é promover a flexibilização da rotina das crianças. Trata-se de ter um planejamento estabelecido, mas também, ter a sensibilidade para perceber outras oportunidades de aprendizagem e quando e por quanto tempo as atividades devem ocorrer.
Assim, se as crianças estiverem muito agitadas pela manhã, talvez seja melhor convidá-las para sentar e desenhar após acordarem da soneca. E se durante alguma atividade parte das crianças terminar primeiro, elas podem se engajar em outras ações em um canto da sala, contemplando o tempo de ambas as partes. "Devemos levar a sério os sinais que as crianças dão e o que elas sugerem", diz Karina.
A flexibilização também pode estar na maneira de encarar as rotinas fixas, como as de cuidado e alimentação, momentos complicados de alterar pelas necessidades das crianças e questões de gestão.
Supervisora pedagógica de Educação Infantil na Secretaria Municipal de Campina Grande (PB), Vladia Pires afirma que essas mudanças acontecem quando um professor explica para as crianças o motivo de terem de parar de brincar para ir comer, ou ao fazer do momento do banho uma oportunidade de interação e desenvolvimento da autonomia, da consciência de higiene e do respeito. "Se o professor entender que todos os momentos geram aprendizagem para as crianças, e que as decisões podem ser compartilhadas, isso também é flexibilização", diz.
Mais sobre esse tema