Para repensar o ano

História: 5 respostas para replanejar as aulas no Fundamental 1

Do 1º ao 5º ano, saiba o que recomendam especialistas para a realização de um replanejamento efetivo no componente curricular

Antes do replanejamento, é preciso sondar como as crianças vão acessar os conteúdos. Ilustração: Nathalia Takeyama/ Nova Escola

Aproveitar o momento atual e as situações do cotidiano são abordagens interessantes para as turmas dos anos iniciais do Fundamental, possíveis de serem feitas remotamente com muitos ganhos. “Privilegiem conteúdos e questionamentos que façam os alunos vivenciarem sua realidade”,  aconselha Danielle Ferreira, pedagoga e professora em uma escola rural quilombola em Garanhuns (PE). 

Ao lado de outros especialistas e da consultora Sherol dos Santos, ela responde a algumas questões que surgem com frequência nesse tempo de quarentena em razão do coronavírus.

Por onde começar o replanejamento em História do 1º ao 5º ano do Fundamental? 

O isolamento social por conta da pandemia pode ser aproveitado para discutir em profundidade o momento histórico que estamos vivendo, segundo Danielle Ferreira. Ela tem orientado os docentes da rede pública de Garanhuns (PE) a trabalharem bem próximos da realidade dos alunos. No início da quarentena, ela sugeriu que os professores revisassem conteúdos já dados, pois avaliou que levar informação nova e abstrata para as salas de aula a distância não seria produtivo. 

Ela acredita que o cenário oferece muitas possibilidades de estudo. “O aluno está vivenciando um momento histórico, prova disso é a escola remota, que não existia”, afirma. A partir dessa questão, muitas discussões podem vir à tona. Entre essas, debates sobre empatia, solidariedade. 

Giovani José da Silva, professor da Universidade Federal do Amapá, endossa as ideias de Danielle. Crítico de aulas muito conteudistas, especialmente nesta fase do aprendizado, ele defende que o momento deve ser aproveitado para repensar a forma como o ensino de História é oferecido para o Fundamental I. 

“A questão da oralidade, por exemplo, não é privilegiada na escola”, aponta. “A aula remota pode incentivar o desenvolvimento dessa habilidade no aluno.” Criar comunidades de argumentação oral, via WhatsApp, desfazer mal-entendidos relacionados a fake news, incentivar a pesquisa e o debate são sugestões de Giovani para o momento. 

Doutoranda em História pela UFRGS, Sherol dos Santos, professora e consultora responsável por essa caixa, lembra que, antes de começar o replanejamento o professor deve fazer um levantamento de como as crianças vão acessar o conteúdo. “Eles terão acesso a vídeos, áudios? Que materiais estarão disponíveis?” Ter essas informações de antemão é muito importante porque as crianças do Fundamental I estão se alfabetizando. “Os alunos dessa faixa etária gostam muito de ouvir a voz da professora, não se pode perder esse vínculo”, pontua.

Como se comunicar com os estudantes e suas famílias durante as aulas remotas?

Hoje, nos moldes em que as aulas estão sendo oferecidas, o grande diferencial de uma escola não é tanto a estrutura e a tecnologia que oferece, mas, sim, o vínculo que estabelece com as famílias, segundo Danielle Ferreira. 

Os pais não são professores, mas mediadores, e o lado socioemocional da aprendizagem está muito relacionado à forma como a família participa da vida escolar da criança. Na sua comunidade, os professores resolveram parte dessa questão fazendo ligações periódicas para as famílias. 

“Ligamos uma a uma, inserindo-as em grupos de WhatsApp da escola.” Os familiares são comunicados sobre os conteúdos que serão dados, para que possam participar dos estudos. 

Giovani ressalta que o usual é a família ser chamada a conversar com a escola somente quando o aluno apresenta algum problema. “O engajamento da família precisa ser constante, feito de forma afetiva”, pontua. Uma maneira de fazer isso é oferecendo atividades em que os familiares possam participar com a criança. O consultor sugere estudos sobre história local, genealogia e pesquisas sobre como era a infância dos pais e avós do aluno, por exemplo. São conteúdos importantes da disciplina, que podem ser passados dessa forma. Sherol destaca novamente que, para os alunos do Fundamental I, o contato com a professora, por meio de áudios e vídeos, é essencial, é o que de fato vincula os alunos com a escola neste momento.

Como avaliar o aprendizado remotamente durante a quarentena? 

Os especialistas são unânimes em afirmar que uma avaliação que apenas atribui nota prejudica o estudante, pois ele não está tendo acesso 100% a todo o potencial que é possível oferecer na Educação. A avaliação tem de ser, mais do que antes, focada no quanto ele participa das atividades propostas, na forma como dialoga com o professor e colegas. 

Giovani acha importante também que seja estimulada a autoavaliação. Como exemplo, ele sugere uma atividade em que o professor pede para o aluno desenhar o que entende por uma criança indígena. Nas próximas atividades, o professor deve estimular o aluno a pesquisar sobre como vivem os indígenas hoje no Brasil, ou, mais especificamente, na região onde a criança está. Ao final desse processo de estudo e pesquisa, o professor pede para o aluno fazer novamente um desenho da criança indígena. O passo seguinte é comparar o primeiro desenho com o último e estimular a criança a elaborar respostas, avaliando-se também. 

Os consultores pontuam ainda que a avaliação tem de envolver sempre as condições socioemocionais da criança. Entender que ela não entende o espaço de casa como espaço de aula e que, mesmo na escola pública, há diferentes níveis de acesso à ferramentas tecnológicas, os quais têm impacto no aprendizado e deixam claras as diferenças socioculturais. Tudo isso deve ser levado em conta na avaliação.

O que o professor deve fazer quando não há possibilidade de acesso à internet para o aluno? 

As escolas devem se organizar para isso, antes mesmo de começar a se replanejar ou de iniciar uma atividade. Precisam saber, segundo Sherol do Santos, quais as dificuldades reais que enfrenta sua comunidade escolar. É preciso garantir que o conteúdo chegue às crianças. Se não for por meios digitais, que seja impresso. O WhatsApp tem sido uma ferramenta importante, porque é a mais democrática e acessível. Mas, como pontua Danielle Ferreira, para que cumpra o objetivo, os pais precisam participar do processo de aprendizagem, porque na maioria das vezes a criança vai precisar do celular de alguém da família para receber o conteúdo.

Como organizar a volta para a sala de aula? 

A recomendação é que os professores façam uma avaliação de cunho diagnóstico: ter noção de como está a aprendizagem e mapear onde o professor deverá atuar é fundamental. Segundo os consultores ouvidos, não é hora de se preocupar com aprovações. O mais importante é ver como é possível auxiliar o aluno nesse contexto novo que a escola está vivendo. 

Talvez será necessário separar as turmas de alunos com base em habilidades adquiridas. Em se tratando de crianças do Fundamental I, mais uma vez a questão da afetividade e do contexto socioemocional precisará ser levada em conta. No retorno às aulas presenciais, isso precisará ser trabalhado com cuidado, por isso, segundo Danielle Ferreira, uma perspectiva avaliativa não faz sentido neste momento. A hora é de investir em avaliações diagnósticas.

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