Para repensar o ano

Como replanejar 2020 em Geografia para o Fundamental 1

Veja algumas das opções de temas e abordagens para tratar o componente curricular com as turmas do 1º ao 5º ano

 Aproveite a BNCC e temas da atualidade para replanejar as aulas de Geografia. Ilustração: Nathalia Takeyama/Nova Escola

Muitos são os desafios da Geografia para a faixa etária do Ensino Fundamental 1, que ainda está em fase de alfabetização. Para o professor não perder o foco e aproveitar bem todo o tempo disponível com os alunos, é preciso selecionar os conteúdos a serem trabalhados. Para sanar as dúvidas mais comuns, ouvimos o consultor Leandro Fabrício Campelo, professor de Geografia formado pela UFJF e doutor em Didática, Teorias de Ensino e Práticas Escolares pela Faculdade de Educação da USP, Murilo Vogt Rossi, doutor em Ensino de Geografia e Cartografia pela UFPB e a doutora em Geografia pela USP Maria Ediney Ferreira da Silva, especialistas do Time de Autores de NOVA ESCOLA. Leandro é também o consultor desta caixa e colaborou na criação de todos os conteúdos, incluindo esta reportagem. Eles sugeriram ideias e possibilidades de abordagem dos temas em sala de aula neste ano letivo atípico. Confira: 

Por onde começar o replanejamento em Geografia com as turmas do Fundamental 1?

Em primeiro lugar, é necessário o professor repensar o seu planejamento original. Usar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como parâmetro é fundamental, segundo o consultor Leandro Campelo. “O professor pode comparar o planejamento do começo do ano com a Tabela de Priorização de Geografia.” Feito isso, Leandro sugere que sejam usados nas aulas temas atuais. A pandemia por coronavírus, por exemplo,  pode suscitar vários desdobramentos. “É possível tratar do espaço geográfico, abordar mapas, sistemas de informações geográficas, falar de submoradias, estudos do clima, escala geográfica (local, nacional, global), população carcerária, vulnerabilidade dos povos indígenas e preconceitos (xenofobia) em relação aos chineses, entre outros exemplos”, explica. Saindo da pandemia, há questões como racismo, redes sociais e fake news que também podem entrar nesse replanejamento.

O professor Murilo Vogt Rossi lembra que nesta fase existem vários conteúdos que podem ser considerados essenciais: a criança precisa entender seu lugar no mundo. “Isso passa pela compreensão espacial do seu entorno”, afirma. “Dentro disso, podemos estabelecer escalas de análise, tratando, gradativamente, de acordo com a faixa etária, de assuntos como higiene pessoal, rotina do dia a dia, a sua casa, o seu canto, o seu bairro, a sua rua, os seus espaços de lazer.” Para Murilo, é interessante trabalhar remotamente temas que possam ser levados depois para as aulas presenciais. Em relação ao conceito de lugar, ele sugere, na retomada, que as crianças comparem o mundo das aulas em casa com o mundo das aulas na escola, trabalhando diferenças e semelhanças entre os dois ambientes. 

Maria Ediney Ferreira da Silva ressalta que é imprescindível que todo conteúdo seja aliado à alfabetização nessa faixa etária. “A criança, a família e a escola precisam se apropriar disso neste contexto, pois haverá perdas, e temos de tentar minimizá-las, engajando também os pais, sempre que possível.”

Como posso avaliar remotamente o aprendizado dos meus alunos nas aulas de Geografia? 

A pandemia pode ser o momento de rever a ideia de avaliação que vem sendo aplicada nas escolas, segundo os especialistas. “É preciso avaliar todo o processo e não apenas o resultado final”, explica Leandro Campelo. O processo de avaliação deve ser contínuo e diversificado. O aluno precisa estar no centro das aulas e o professor ser um mediador. Assim, para todos os anos, ele sugere uma rubrica de avaliação. Para os alunos do 4º e do 5º ano ele indica, também para avaliação, os mapas conceituais. Para o 1º, 2º e 3º ano, o professor pode fazer uso do mapa mental cartográfico . 

Outra sugestão é utilizar recursos tecnológicos, como o Kahoot (plataforma de ensino). Por sua ludicidade, as crianças gostam muito e é uma forma prazerosa de avaliar, segundo Leandro. Murilo Rossi assinala que, ao longo da quarentena, o professor tem de ir construindo os registros individuais e coletivos dos alunos como se estivesse na sala de aula. “Não dá para avaliar com nota no final, esse processo tem de ser revisto.”

Nas aulas de Geografia a distância, que tipo de atividade é mais adequado para ser desenvolvida? 

O professor deve levar em consideração as Metodologias Ativas e adaptá-las para o ensino remoto, segundo Campelo. Por exemplo: trabalhar com rotação por estações. Mesmo distante, é possível criar estações diferentes, dividir a turma em grupos.  Com o Google Meet, o professor pode gerenciar e orientar diversas atividades. Campelo propõe que sejam realizados debates, com júri por exemplo, para discutir assuntos polêmicos, como o preconceito, o racismo. “Claro que essas atividades precisam ser pensadas de acordo com a faixa etária das crianças”, enfatiza. Outras propostas do consultor são os jogos, como a "corrida intelectual gamificada"; "passa ou repassa acadêmico"; "quebra-cabeça"; "storytelling" etc. “Pensando nas tecnologias o professor pode usar sites do IBGE, o Google Earth e sites com jogos on-line.”

Se a única tecnologia disponível for o WhatsApp, o professor pode seguir o que indica Rossi: pedir ao aluno que faça pequenos textos sobre os assuntos tratados e desenhos (quando for o caso), que possam ser enviados pelo celular. Outra ideia é usar linguagens mais atuais, como vídeo, quadrinhos. A BNCC fala em trabalhar o conceito de lugar com os mais velhos, então é a hora de investir no estudo de escalas grandes e pequenas, mapas mentais (da escola pra casa, de casa pra escola).

Como manter o contato com as turmas a distância nas aulas de Geografia?

Conseguir o envolvimento dos alunos é o grande desafio do ensino remoto. Aulas expositivas, especialmente para o Fundamental 1, não funcionam, segundo os consultores. “A educação tem de ser a mais lúdica possível”, pontua Rossi. O consultor Campelo, mais uma vez, lembra que, nesta hora, o ideal é abusar das metodologias ativas. Além disso, é importante utilizar a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP) e o STEAM (sigla para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática). “O professor deve pensar em projetos para duas ou três aulas, ou até mesmo projetos maiores que envolvam habilidades para o século 21, como trabalho colaborativo, resolução de problemas, pensamento crítico, entre outras”. 

Como começar a me preparar e planejar uma eventual volta às aulas?

Neste momento, é interessante estudar as experiências dos países que já voltaram ou estão voltando às aulas presenciais. Alguns estão investindo em muitas atividades ao ar livre, e a Geografia é a disciplina adequada para isso. “Planejar atividades de campo, respeitando o distanciamento e a higienização correta, é uma ideia”, afirma Leandro Campelo.

O coronavírus não pode ficar de fora da sala de aula, pois, afinal, isso foi a razão para o afastamento dos alunos. “O conceito espacial tem de estar presente do 1º ao 3º ano. No 4º e no 5º, o professor pode mostrar o impacto da pandemia em outros países, muitas crianças não imaginam como é isso.” Ele sugere que sejam mostrados, por exemplo, indígenas usando máscaras e pessoas no Egito na mesma situação, entre outros lugares.

“Falar do isolamento é importante, tanto ao longo da quarentena quanto na retomada”, diz Maria Ediney. Dentro dessa proposta, uma ideia pode ser mostrar o caminho que o vírus percorreu no mundo, trabalhando também os conceitos de tempo e espaço. Nesse contexto, outro tema interessante é ver o quanto a criança e seus colegas cresceram neste período de quarentena. Esse é um marco importante sobre o tempo para essa faixa etária. 




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