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Como trabalhar gêneros textuais a partir de tradições folclóricas

Da culinária às cantigas, passando por frases de para-choque de caminhão: tudo pode virar objeto de estudo e aprendizado

O Tibungue, personagem folclórico típico de Minas Gerais. Ilustração: Estúdio Kiwi/NOVA ESCOLA

A receita de um doce, como a do pé de moleque, traz embutidas algumas tradições bem nossas e está relacionada à história da chegada da cana-de-açúcar ao país. Por isso, estimular o contato com esse e outros pratos da culinária brasileira é uma forma de trabalhar a história do povo brasileiro. A mandioca, que tem uma lenda indígena que conta sua origem, assim como o guaraná são outros exemplos de como o folclore está presente no nosso cotidiano.

Andreza Rios, formadora de professores da rede pública de Manaus (AM), pontua que, na sua região, o estudo das lendas amazônicas é bastante estimulado nas escolas, até como forma de explicar nomes de ruas, festas, expressões populares, receitas. “Damos ênfase às histórias que são do Norte, pois muita coisa aqui traz a marca da formação do nosso povo.” Isso permite que a temática seja explorada para falar de Geografia e História, por exemplo.

Para Denise Guilherme, responsável pela A Taba, empresa especializada em curadoria de livros infantis e juvenis, uma concepção de folclore ampliada possibilita que o professor perpasse o tema em muitos gêneros textuais. Ela sugere que sejam exploradas receitas culinárias, simpatias, crendices, adivinhas, trava-línguas, parlendas, ditados, canções, poesias. “Isso tudo constitui nossa cultura, até frases de para-choque de caminhão pode entrar aqui.”

Esse estudo pode ser feito para ensinar Língua Portuguesa (termos regionais, entre outros aspectos), Matemática (numa receita, entra o conceito de fração, de medidas), História (para falar da origem da comida ou de uma parlenda, uma adivinha e um ditado, entre outros exemplos), Ciências (muitas lendas tentam dar conta de fenômenos meteorológicos), Geografia (quando o aluno entende de onde veio determinada tradição – de algum país da África ou da Europa, por exemplo, ou como ele é tratado de maneira diferente, dependendo do lugar estudado).

“O folclore, com sua tradição fortemente oral, é uma oportunidade de o professor referendar para as crianças que somos todos contadores de histórias, e somos também escritores”, diz Januária Alves. 

Um exercício interessante é trabalhar com frases de caminhão, por exemplo, e ver qual a interpretação de cada criança para o que está escrito. Outra sugestão é que o professor conte uma lenda e proponha às crianças que reescrevam o que ouviram (para se inspirar, não deixe de ler o e-book com personagens pouco conhecidos, disponível nesta caixa).

Na fase da alfabetização, Mary Simões, professora do ensino público em São José dos Campos (SP), lembra que as brincadeiras orais, como parlendas, adivinhas e trava-línguas, são importantes ferramentas no processo de aquisição do sistema alfabético.

Para os anos mais avançados do Fundamental I, o professor pode ler um conto de fadas e um conto popular do folclore, como os contos de Pedro Malasartes (personagem tradicional da cultura brasileira e portuguesa), e sugerir uma comparação entre os textos, estimulando uma conversa sobre suas semelhanças e diferenças, sugere Denise.

O importante é que, na sala de aula, o professor sempre tente aproximar o tema, trabalhado o máximo possível dos alunos, contextualizando-o, especialmente quando são menores. Isso garante maior engajamento no aprendizado. Tânia Rios cita o exemplo do carnaval, na sua região – Nordeste, mais especificamente, Recife – marcado pela cultura do frevo. “Quando a criança entende de onde vem a dança, compreende melhor as letras das músicas e sente-se pertencendo àquela comunidade.”

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