Especial

Prêmio Educador Nota 10: Conheça os projetos vencedores de 2020

Criadas na realidade pré-pandemia, iniciativas premiadas neste ano vão da Educação Infantil ao Ensino Médio e destacam-se pela busca da equidade

Os dez vencedores do Prêmio Educador Nota 10. Fotos: Nidiacris Ribeiro/Trupe Filmes

A disrupção da normalidade provocada pela pandemia de covid-19 por todo o mundo todo atingiu em cheio também a Educação. De um dia para o outro, educadores foram obrigados a rever processos e encarar um contexto de aulas a distância, enquanto as discussões sobre quando e como reabrir as instituições de ensino se multiplicam.

Entre os pontos sensíveis no caso brasileiro está a desigualdade de acesso a recursos digitais que permitem a viabilização das aulas virtuais. Foi essa constatação que levou a organização do Prêmio Educador Nota 10 a optar por não aceitar inscrições de trabalhos realizados ao longo deste ano atípico.  

“Um dos nossos princípios é o da equidade e sabíamos que nem todos os professores e gestores estariam, no período de inscrição, possibilitados de dar continuidade a suas práticas no ensino remoto”, explica Luciana Hubner, coordenadora pedagógica do Prêmio e assessora de educação em redes públicas e privadas. 

Considerando isso, foram abertas inscrições apenas para iniciativas realizadas em 2019. Assim, os 10 vencedores da 23ª edição compõem um painel de uma realidade pré-pandemia. 

Esse fato não os torna menos inspiradores. Nos textos que compõem esta Caixa especial, você poderá conhecer em detalhes cada um dos dez projetos e descobrir como esses educadores estão atuando em tempos de pandemia. Muitos dos desafios e aprendizados ocorridos ao longo da realização das propostas ganhadoras estão servindo de suporte para o trabalho deles neste ano. Vamos lá? 

Comunidade com participação ativa

Nesta edição foram destacados trabalhos que tratam de maneira consistente de protagonismo estudantil, participação efetiva da família, valorização da cultura brasileira em toda sua diversidade, ensino conectado à realidade local, inclusão, abordagem investigativa e gestão democrática. Esses pontos, muitas vezes, estão interligados entre si. 

Os 10 vencedores deste ano mostram que eles podem ser desenvolvidos em toda a Educação Básica, da Educação Infantil ao Ensino Médio. 

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A atuação para colocar crianças e jovens no centro do processo de ensino e aprendizagem está em projetos como o de Camila Rossato, professora de Artes no Ensino Fundamental 2, em São Paulo. Ela estimulou os estudantes a prepararem performances artísticas em grupo, com autonomia para escolher temas e desenvolver as criações em ritmo próprio, o que os tornou corresponsáveis pela aprendizagem. 

E no de Diogo Silva, que dá aulas no Ensino Médio, em Campos dos Goytacazes (RJ). Nas aulas de Geografia, ele conduziu os alunos na identificação de carências estruturais e demandas sociais do bairro onde moram para, então, analisar as políticas públicas que faltavam e propor soluções. 

“Há ainda uma visão deturpada de que tornar o aluno protagonista é deixá-lo à mercê da própria sorte. Até por isso tenho preferido falar em participação ativa e efetiva dos alunos”, explica Luciana. “Para se dar de fato, é necessário um processo de escuta na qual as colocações de crianças e jovens são consideradas como parte do trabalho, que se modifica a partir delas”, completa Andrea Luize, selecionadora de Língua Portuguesa dos anos iniciais do Fundamental 1 e coordenadora pedagógica do Instituto Vera Cruz, em São Paulo. 

Segundo Andrea, essa política de envolver de fato os alunos nas decisões começou em edições anteriores do Prêmio e se fortaleceu nesta. 

Adotar essa estratégia depende de mudanças no papel tradicional do educador. “Ele não é aquele que detém o saber e diz o que é para ser feito. O professor possibilita a investigação dos alunos e respalda e respeita suas descobertas”, afirma Valéria Pimentel, selecionadora de Artes do Prêmio. “Os projetos desta edição têm essa força”, alerta. 

Atenção à realidade local

A proposta de Diogo tem relação também com outra prática de destaque nas iniciativas deste ano: o olhar atento à realidade do entorno. O mesmo fez Luis Felipe Lins, professor de Matemática no Ensino Fundamental de escola no Rio de Janeiro. Luis utilizou a curiosidade dos estudantes em relação à chegada de moradias populares no bairro para ensinar geometria e números. 

“O ensino tem de contribuir para o sujeito conhecer a si, ao outro e seu entorno e, assim, poder interagir de forma mais responsável e consciente”, diz Luciana. “Muito do que a gente vê nos trabalhos desta edição está alicerçado nessa ideia”, completa a coordenadora.

Para três iniciativas, a atenção às características da comunidade significou trabalhar identidade e representatividade. Afinal, para compreender melhor quem somos é também necessário saber de onde viemos. 

Maria Isabel Gonçalves dá aulas de Filosofia para turmas de Ensino Médio em uma escola de Boninal (BA), onde 80% dos alunos são negros. Ainda assim, ela foi a primeira a propor atividades abordando a cultura africana. Seu projeto uniu o estudo de filósofos ao resgate da memória dos avós dos estudantes. 

Lidiane Lima, professora de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental 2 em São Paulo percebeu a dificuldade de aceitação da identidade racial entre seus estudantes – a maioria não brancos – e resolveu elaborar um projeto para discutir a herança africana por meio da poesia. O estudo desdobrou-se em saraus e um livro de poesia preparados pelas turmas. 

Já Suzi Rocha, professora de Educação Física de turmas de 5º ano em Bauru (SP), utilizou jogos e brincadeiras de matriz africana para abordar a história e a cultura desse continente. 

Esses projetos, segundo Andrea, mostram que não é necessário ensinar história e cultura africana – determinado por lei – de forma burocrática. Há outras possibilidades. “Esses educadores demonstram que dá para olhar o currículo de maneira mais aberta e menos engessada para tentar criar relações e caminhos diversos”, avalia.  

A ciência em relação à realidade interna também está no centro do projeto de Lucia Cristina Cortez de Barros Santos, diretora em uma escola de Manaus (AM). Como recebe crianças imigrantes (haitianos e venezuelanos), com distorção idade/série, com deficiência e em situação de vulnerabilidade social, a gestora precisou enfatizar o trabalho de inclusão e respeito às diferenças. Ela conseguiu implementar uma gestão democrática, com espaços de escuta e diálogo e parcerias com famílias e diversos atores da comunidade. 

Relação estreita entre escola e família

O longo período de aulas a distância tem evidenciado a importância da relação entre escola-família, uma vez que foi preciso estabelecer intensa parceria, com pais e responsáveis acompanhando e apoiando as aulas dos filhos dentro de casa. “Depois de tudo que foi vivenciado não dá para voltar a ser igual ao que era antes. É necessário aproveitar os laços fortalecidos”, reflete Andrea. 

Para ela, algumas das propostas vencedoras do prêmio já apontavam para essa busca de ter outra visão em relação às famílias. “Há uma participação ativa da comunidade, de fazer junto e deles não serem apenas visitantes ou observadores”, diz a selecionadora. Foi o que conquistou Rita Silva, professora de Língua Portuguesa em Franca (SP), que engajou pais e responsáveis no projeto literário realizado com a turma de 5º ano. 

Outra estratégia que permeia várias das iniciativas desta edição é a abordagem investigativa. Ela tem destaque no trabalho de André Luís Coelho, professor de Física no Ensino Médio em Brasília (DF), que possibilitou o estudo de conceitos de óptica por meio de investigação científica, realizada de maneira interativa, dinâmica e desafiadora. 

O exercício de pesquisar possibilidades pode começar cedo, como mostra o projeto de Mirtes Melo, professora de Educação Infantil em Camaragibe (PE). Mirtes utilizou materiais simples para proporcionar experiências diversas, nas quais as crianças bem pequenas podiam investigar o potencial desses elementos. E, numa conversa com a iniciativa de Artes do Fundamental 2, as crianças puderam explorar corpo, movimento e espaço correndo entre lençóis e brincando com sacos com água. 

Para Maura Barbosa, selecionadora de gestão do prêmio e formadora na Comunidade Educativa CEDAC, um ponto em comum entre os educadores vencedores está no fato de todos serem muito estudiosos. 

“Eles usam a teoria como respaldo para o que fazem e, quando necessário, vão atrás de mais conhecimento”, diz Maura, lembrando, por exemplo, que a diretora Lucia mapeou e fez visitas a escolas públicas consideradas inovadoras em busca de referências. 

“Em um momento do país em que muitos querem calar tantas vozes, esses projetos dão visibilidade a diferentes e potentes vozes: de professores, de alunos, de famílias, de gestores e da comunidade”, explica Maura. Os trabalhos demonstram buscar a inclusão de maneira ampla, por meio da garantia de expressão e participação de todos e de respeito à diversidade étnica e de credo, e também de ritmos e modos de aprendizagem. “Os projetos têm força e posicionamento político a favor da equidade. Para isso, assumem um compromisso para o desmonte da desigualdade”, conclui Valéria.

Navegue pelos conteúdos desta Caixa especial para conhecer os detalhes e o passo a passo de todos os 10 projetos vencedores. 




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