Caso real

Como uma professora usou modelos de ensino híbrido como inspiração em uma aula de Língua Portuguesa

Michelle Pinheiro inspirou-se em estratégias típicas de sala de aula invertida para pensar o desenho da aprendizagem das turmas ao longo da quarentena

Muito atenta à inovação, Michelle Pinheiro, professora de Língua Portuguesa e formadora para os anos iniciais no Colégio Beka, em São Paulo, afirma que, com os reveses que a pandemia trouxe para a Educação, as escolas dividiram-se entre manter e aprofundar os modos convencionais de ensino, como a aula expositiva, ou adotar as metodologias ativas. E ela não tem dúvidas: manter os estudantes em ação é a melhor opção. “Se eles, olhando para o próprio percurso de aprendizagem, relacionarem o que estamos aprendendo com aquilo que faz parte da vida cotidiana, então eles terão aprendido”, reflete Michelle.

A professora buscou formar-se sobre o tema ensino híbrido e virou uma entusiasta do modelo. Porém, com o ensino remoto emergencial, imposto pela pandemia, Michelle não pôde realizar planos de aula baseados integralmente no modelo de ensino híbrido. Isso porque um dos pontos essenciais da modalidade é qualificar os momentos presenciais com toda a turma, usando os momentos on-line para coletar dados e fazer pesquisas, por exemplo.

A saída encontrada por Michelle foi trabalhar o gênero textual notícia, que acredita ser bastante oportuno para o momento, com o modelo de sala de aula invertida. “Mandei uma videoaula, feita por mim mesma, com os conceitos do gênero, para que eles assistissem num momento assíncrono. Nesse vídeo, propus algumas questões. Com isso consegui coletar dados de como os alunos compreendiam o tema até ali e personalizar as próximas etapas”, conta. Para inserir questões no meio do vídeo, Michelle usou a plataforma Edpuzzle (que só oferece o serviço aos pagantes). 

Os alunos foram orientados, então, a pensar e escrever o próprio texto jornalístico, levando em conta os conceitos apresentados no vídeo, como coesão, coerência, imparcialidade, consciência do leitor e outros. Mas antes do projeto final, Michelle colocou a turma em contato com um jornalista, convidado para discutir com eles as características do texto. 

“Aproveitei o on-line para chamar pessoas de fora para bate-papos com os alunos. É mais simples no ensino remoto, e muito rico para todos”, afirma Michelle. Essa sequência didática foi proposta no modelo totalmente remoto. Quando a escola reabrir, a professora seguirá com propostas que prevejam atividades on-line, mas apenas para aquilo que é dispensável fazer presencialmente. 

“Precisamos pensar experiências de aprendizagem que utilizem os momentos presenciais para o que é próprio do presencial. Leituras e vídeos podem ser vistos em casa”, afirma. Esse tipo de ideia é referenciada em modelos de ensino híbrido, como o virtual aprimorado, no qual boa parte do percurso do plano é feita remotamente e o aluno vai para a escola participar de discussões e realizar projetos, por exemplo.

A professora avalia que a prática conseguiu desenvolver ao menos duas competências específicas de Língua Portuguesa previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC): a análise e apropriação dos meios de comunicação (competência 6) e o contato com a cultura digital (competência 10).

“Não ouvi deles coisas como 'para que vou usar isso na minha vida?' E esses caminhos, esses sentidos, foram eles mesmos que descobriram. Nós, professores, precisamos fazer o desenho da aprendizagem e dar mais possibilidades de percursos para os nossos alunos”, afirma.

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