CIÊNCIA

Como abordar a espera pela vacina e o fim da pandemia nas aulas de Ciências

Corrida pela aprovação de imunizantes, definição de grupos prioritários, reação de grupos antivacina, ascensão de novas doenças: confira alguns dos temas ligados à covid-19 que devem ganhar destaque no próximo ano



A doença que virou o mundo de cabeça para baixo também entrou sem ser planejada nos currículos escolares em 2020. Discutiram-se as formas de transmissão da covid-19, a estrutura do coronavírus, a definição de pandemia e suas consequências em vários setores, além da identificação dos sintomas e possíveis tratamentos. 

Em 2021, a covid-19 continuará a fazer parte do cotidiano de todos, ao menos até que alcancemos a imunização de grande parte da população. O avanço na criação de vacinas e o início de campanhas de vacinação trazem novos temas que também poderão ser absorvidos pela escola para informar, fazer refletir e promover discussões — tudo em tempo real.

Para Leandro Holanda, mestre em Ciências e especialista da área de Química do Time de Autores de NOVA ESCOLA, o ano será de detalhamentos sobre as características de cada uma das quatro vacinas que despontam como alternativas no combate à doença. “Os temas envolvendo biotecnologia, microbiologia e bioengenharia estarão em alta”, aposta.

Para Cíntia Diógenes, mentora do Time de Autores de Ciências de NOVA ESCOLA, o novo momento da doença também será a oportunidade para aprofundar estudos sobre micro-organismos, sobre definição dos grupos de risco para a vacinação e nova visão sobre os hábitos de higiene pessoal no pós-pandemia (esses últimos, aliás, foram estruturados em atividades sugeridas pela educadora, como você verá adiante).

A enxurrada de dados gerados desde o início da pandemia – gráficos, porcentagens, médias diárias – também permitem um trabalho mais apurado de leitura matemática em 2021, sugere Luciana Tenuta, especialista de Matemática do Time de Autores de NOVA ESCOLA. “A escola precisa dar condição a todos os alunos, em qualquer ano, de ler os dados das notícias, da mesma forma que ele lê um texto de Língua Portuguesa”, sugere. “Vale trazer esse contexto para os conteúdos de Matemática com os quais os alunos estejam tendo contato.”

Apesar do consenso no meio científico de que apenas a busca por um imunizante eficaz poderá encerrar o estado de pandemia e diminuir o número de doentes e de mortos, o discurso antivacina, que já possuía adeptos antes mesmo da pandemia, deve ganhar ainda mais projeção. As discussões em torno desse tema também devem ir para a sala de aula. Para evitar debates com tom ideológico, Leandro Holanda recomenda que professores se munam de evidências e dados científicos para desconstruir pensamentos e teorias sem comprovação contra as campanhas de vacinação ao redor do mundo. 

Diante da indefinição no Brasil sobre o início de uma campanha nacional de vacinação, mostramos abaixo algumas datas previstas pelo governo de São Paulo para o uso no estado da vacina CoronaVac, que ainda não foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

O CALENDÁRIO PREVISTO PARA A VACINA EM SÃO PAULO

- 25 de janeiro
Previsão do governo de São Paulo para o início da campanha de vacinação no estado, com o uso da vacina CoronaVac (Sinovac). Em um primeiro momento, terão prioridade trabalhadores da Saúde, indígenas e quilombolas. 

- 8 de fevereiro
Previsão para vacinação de pessoas com 75 anos ou mais. 

- 15 de fevereiro
Previsão para vacinação de pessoas entre 70 e 74 anos. trabalhadores da Saúde, indígenas e quilombolas podem receber a segunda dose. 

- 22 de fevereiro
Início previsto para a vacinação de pessoas entre 65 e 69 anos.

- 1º de março
Previsão para vacinação de pessoas entre 60 e 64 anos. 

- 8 de março
Segunda dose prevista para quem tem entre 70 e 74 anos.

- 15 de março
Segunda dose prevista para quem tem entre 65 e 69 anos.

- 22 de março
Segunda dose prevista para quem tem entre 60 e 64 anos. 

COMO RELACIONAR TEMAS DA CORRIDA PELA VACINA COM A BNCC

Confira duas sugestões de temas interessantes para trabalhar com os alunos enquanto a ciência e os governos avançam em tempo real na busca da imunização contra a covid-19.


Os primeiros na fila da vacinação

Como trabalhar: 

O grupo de pessoas mais afetado pela covid-19, o de idosos e pessoas com comorbidades (doenças crônicas), será colocado como primeiro na fila da vacinação em massa mundial, quando a aplicação for liberada – expectativa que, para o Brasil, se encaminha para o primeiro semestre de 2021. O tema pode motivar atividades com os alunos sobre vida saudável, alimentação, acesso à saúde, prevenção de doenças, ou seja, tudo que poderia diminuir a ocorrência de comorbidades.

Ao promover uma investigação sobre algumas doenças crônicas que sejam conhecidas pelos alunos, estes devem refletir sobre os principais sintomas dessas doenças, tratamento e como evitar o desenvolvimento delas, sempre pensando nas consequências que elas trazem para a saúde do organismo como um todo. Além disso, essa investigação possibilita os alunos a pensarem sobre a necessidade de haver priorização das pessoas de grupos de risco a receberem as doses da vacina. Também é importante que essa investigação desconstrua preconceitos com relação aos indivíduos que compõem o grupo de risco. Para isso, o estudo deve estar sempre baseado em evidências científicas e no funcionamento do organismo e da ação dos micro-organismos causadores de doenças.

Planos de Aula NOVA ESCOLA relacionados ao assunto:

- Plano de Aula - 4º ano - Vacinas: reforços à imunidade dos organismos
- Plano de aula - 7º ano - Campanhas de vacinação

Habilidades da BNCC de Ciências relacionadas:

- No Ensino Fundamental 1

4º ano

EF04CI08 - Propor, a partir do conhecimento das formas de transmissão de alguns micro-organismos (vírus, bactérias e protozoários), atitudes e medidas adequadas para prevenção de doenças a eles associadas.

5º ano

EF05CI07 - Justificar a relação entre o funcionamento do sistema circulatório, a distribuição dos nutrientes pelo organismo e a eliminação dos resíduos produzidos.

EF05CI08 - Organizar um cardápio equilibrado com base nas características dos grupos alimentares (nutrientes e calorias) e nas necessidades individuais (atividades realizadas, idade, sexo etc.) para a manutenção da saúde do organismo.

EF05CI09 - Discutir a ocorrência de distúrbios nutricionais (como obesidade, subnutrição etc.) entre crianças e jovens a partir da análise de seus hábitos (tipos e quantidade de alimento ingerido, prática de atividade física etc.).

- No Ensino Fundamental 2

6º ano

EF06CI05 - Explicar a organização básica das células e seu papel como unidade estrutural e funcional dos seres vivos.

EF06CI06 - Concluir, com base na análise de ilustrações e/ou modelos (físicos ou digitais), que os organismos são um complexo arranjo de sistemas com diferentes níveis de organização.

7º ano

EF07CI10 - Argumentar sobre a importância da vacinação para a saúde pública, com base em informações sobre a maneira como a vacina atua no organismo e o papel histórico da vacinação para a manutenção da saúde individual e coletiva e para a erradicação de doenças.


Novo olhar sobre os hábitos de higiene

Como trabalhar:

Das muitas lições que a pandemia nos legou, certamente o novo olhar sobre a higiene pessoal é uma delas. Este ano mostrou a importância de se conhecer e entender como são os ciclos de vida e morte dos micro-organismos, como vírus e bactérias. Na sala de aula, o professor pode estimular reflexões sobre o assunto.

Uma das competências gerais das Ciências da Natureza (nº 7) é “conhecer, apreciar e cuidar de si, do seu corpo e bem-estar, compreendendo-se na diversidade humana, fazendo-se respeitar e respeitando o outro, recorrendo aos conhecimentos das Ciências da Natureza e às suas tecnologias”. Isso quer dizer que, sempre que o professor enxergar a oportunidade de incluir essa temática em suas aulas, ele deve fazê-lo, mesmo que o objeto de conhecimento não seja necessariamente higiene ou corpo humano.

No Ensino Fundamental 1, é preciso sair do campo da higiene como uma simples prática socialmente estabelecida e apontar a necessidade da limpeza do próprio corpo como forma de evitar a transmissão de doenças. Essa é a forma de fugir de uma proposta que possa causar constrangimento ou ser pejorativa para algum aluno, sempre respeitando a realidade dos estudantes e evitando generalizações. Exemplo: para algumas crianças, tomar banho todos os dias em um chuveiro pode não ser algo acessível. Mas é importante buscar focar na importância de cuidar do próprio corpo e respeitar o corpo do outro, como forma de prevenir doenças.

Já no Ensino Fundamental 2, pode-se ampliar a reflexão sobre a temática, para além dos cuidados com o próprio corpo, individualmente, e explorar a importância de políticas públicas que privilegiem o acesso ao saneamento básico pela comunidade.

Planos de Aula NOVA ESCOLA relacionados ao assunto:

- Plano de Aula - 1º ano - Lavar as mãos para evitar doenças
- Plano de Aula - 1º ano - Higiene o dia todo
- Plano de aula - 7º ano - As doenças negligenciadas no Brasil

Habilidades da BNCC de Ciências relacionadas:

- No Ensino Fundamental 1:

1º ano

EF01CI03 - Discutir as razões pelas quais os hábitos de higiene do corpo (lavar as mãos antes de comer, escovar os dentes, limpar os olhos, o nariz e as orelhas etc.) são necessários para a manutenção da saúde.

4º ano

EF04CI08 - Propor, a partir do conhecimento das formas de transmissão de alguns micro-organismos (vírus, bactérias e protozoários), atitudes e medidas adequadas para prevenção de doenças a eles associadas.

- No Ensino Fundamental 2:

7º ano

EF07CI09 - Interpretar as condições de saúde da comunidade, cidade ou estado, com base na análise e comparação de indicadores de saúde (como taxa de mortalidade infantil, cobertura de saneamento básico e incidência de doenças de veiculação hídrica e atmosférica, entre outras) e dos resultados de políticas públicas destinadas à saúde.

Ilustrações: Veridiana Scarpelli/NOVA ESCOLA

Mais sobre esse tema