Para repensar a prática

Como levar mais mulheres para as aulas de Ciência no Fundamental 1

Mostrar que há espaço para todos na área é capaz de incentivar o engajamento e a permanência das meninas ao longo do percurso escolar. Saiba caminhos para falar das contribuições das mulheres o ano todo

Apresentação de cientista em sala de aula para alunos e professor.
Ilustração: Nathalia Takeyama/NOVA ESCOLA

Quantas mulheres você consegue identificar como cientistas? Incluir a representatividade feminina nas aulas de Ciências, de forma intencional e o ano todo, é lição de casa para garantir aulas que contribuam com a equidade, com a desconstrução de estereótipos. A ação de professoras para mostrar que Ciência é, sim, lugar de mulher também incentiva o engajamento e a manter viva a curiosidade das meninas pelos temas discutidos pela área, chamada de Ciências da Natureza pela BNCC. 

Dados revelam que meninos e meninas se interessam pela área, mas, ao longo do avanço no percurso escolar, elas vão ficando para trás. No futuro, os resultados expressam-se na baixa presença feminina nas carreiras científicas.

Mas há espaço para ampliar a presença delas e para explorar um cenário mais amplo nas turmas do 1º ao 5º ano - e tal espaço não precisa ficar confinado no calendário de março, quando tais ações tendem a se intensificar por conta do 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

Margareth Polido é uma dessas mulheres que estão envolvidas diretamente com as áreas científicas: ela é coordenadora da licenciatura em Matemática no Instituto Singularidades, assessora de Ciência da Natureza na Escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha) e mestra em ensino de Ciências.

Para ela, tão importante quanto trazer referências de mulheres cientistas é valorizar as meninas durante as aulas e atividades, garantindo oportunidades iguais para que todos participem, levantem hipóteses e tirem dúvidas. 

Trazer - em encontros presenciais ou on-line - mulheres cientistas para conversar com as turmas é também boa estratégia, bem como analisar com os pares - outros professores, educadores e coordenadores pedagógicos - se as imagens e textos dos livros didáticos e materiais utilizados pela escola trazem imagens preconceituosas, estereotipadas ou equivocadas sobre homens e mulheres e discutir alternativas. 

Na prática: Como levar as mulheres da Ciência para as aulas do Fundamental 1

Com a ajuda de especialistas e professoras de escolas públicas, selecionamos quatro dicas para abordar o tema com seus alunos: 

1. Da Antiguidade à pandemia, compartilhe com a turma as histórias de mulheres 

Para Mariana Nozella, professora do Fundamental 1 da Escola Maria Thereza Silveira de Barros Camargo, em Limeira (SP), é importante trazer referências de atuação de mulheres na área diariamente. Um jeito de fazer isso é contar as histórias de vida e explicar o que foi feito por elas (“Você sabia que uma mulher é considerada a primeira programadora do mundo?”, por exemplo).

“Dessa forma, os alunos aprendem que não existem apenas homens cientistas”, diz a professora Mariana, que acredita que as meninas passam a se enxergar também como parte desse campo de conhecimento ao entrar em contato com essas narrativas. Neste momento, pode ser interessante também contemplar e visibilizar mulheres - cientistas, profissionais da saúde e outras - que atuam no combate à pandemia de covid-19. 

2. Leve vídeos e recrie experiências 

A pedagoga e professora Celiana Balthazar defende unir a teoria e a prática na hora de visibilizar as contribuições delas para as Ciências: apresentar as histórias e trajetórias por meio de vídeos ou outros materiais visuais e, com base nisso, tentar pensar possibilidades para explorar o tema na prática com eles, como recriar invenções simples ou experimentos propostos por elas. Por exemplo: mostrar o trecho do documentário Cosmos com a vida da matemática alexandrina Hipátia e depois propor que a turma pesquise como construir um astrolábio, instrumento aperfeiçoado pela pensadora da Antiguidade. 

3. Não se esqueça das cientistas do passado 

Margareth Polido aconselha a buscar na História exemplos de contribuições de cientistas e pensadoras no passado. Isso ajuda a desconstruir a noção de que, sempre, ao longo da trajetória da humanidade as mulheres ficaram em segundo plano nesse campo - o que não é verdade. 

Uma sugestão da especialista é  trabalhar, por exemplo, o que fez e estudou Maria Sibylla Merian, a primeira mulher a desenhar o fenômeno da metamorfose das borboletas, ao estudar com as turmas características dos animais, tema presente na BNCC de Ciências para a etapa na unidade Vida e Evolução. 

Entre os muitos exemplos, Caroline Herschel pode ser citada ao falar de assuntos ligados à astronomia e Mary Anning pode ser lembrada na hora de falar de dinossauros, fósseis ou paleontologia. Há também a primeira médica dos Estados Unidos, Elizabeth Blackwell, e como ela atuou para abrir as portas da carreira para outras.

4. Valorize as mulheres mais próximas da escola e da vida dos alunos

Buscar mulheres presentes na cidade ou região em que a escola está inserida é a sugestão de Juliane Souza, professora do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências da Universidade Estadual de Roraima (UERR) e pesquisadora na área de ensino de ciências e divulgação científica no estado. 

Conhecer também as cientistas, pesquisadoras e educadoras do lugar onde se vive ajuda as estudantes a se aproximarem e reconhecerem a carreira científica como uma possibilidade, e não como um percurso totalmente distante da realidade em que a escola está.

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