Por que usar nome próprio na alfabetização
A reflexão a respeito dessa primeira referência pode ser a porta de entrada para as crianças compreenderem o sistema de escrita e desenvolverem diversas habilidades indicadas na BNCC
Na Educação Infantil, o foco da exploração do nome próprio está a serviço do desenvolvimento da identidade e da autonomia e é um recurso para as crianças se aproximarem do mundo da escrita. Já nos anos iniciais do Ensino Fundamental, ele pode ser usado de maneira diretamente relacionada à alfabetização.
O conceito de nome próprio em si não aparece no texto da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) mesmo quando o assunto é a própria linguística/semiótica. Isso se deve ao fato de o documento tratar do que deve ser ensinado e não dos recursos a serem usados para tal. E é exatamente isso o que o nome próprio é: uma ferramenta. “Aprender a ler e a escrever o nome, por si só, não pode ser o objetivo maior ao se trabalhar com ele na escola”, diz Fátima Fonseca, membro do núcleo de Coordenação Pedagógica da Comunidade Educativa Cedac e da equipe docente dos cursos da plataforma CEDAC Virtual.
Pelo contrário: durante o caminho dessa aprendizagem, muitas descobertas, relações e inferências acontecem quando a turma é desafiada a pensar sobre o nome que cada um tem e como ele pode ser útil para apoiar outras escritas. E é exatamente nesse ponto que a relação entre o uso do nome próprio na alfabetização e as habilidades da BNCC ganha sentido e forma. Todas as propostas de leitura e compreensão, do planejamento e da produção de textos de diversos gêneros podem se valer dele. “O nome próprio é uma verdadeira porta de entrada para o universo da escrita, pois é a primeira referência que a criança tem da escrita convencional e que faz sentido para ela mesma. Ele é, naturalmente, motivo de curiosidade”, comenta Selene Coletti, vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba (SP).
Em Língua Portuguesa, as habilidades EF12LP04 e EF01LP17 tratam, por exemplo, de listas, dentre outros tipos de texto, com a finalidade de desenvolver a compreensão em leitura, a escrita e reflexões sobre o sistema.
Evidentemente, listas diversas podem ser organizadas com os alunos do 1º e do 2º ano (livros preferidos e combinados da turma, entre outras), mas ter uma lista com o nome de todos da turma é imperativo. Para realizar o momento da chamada, para escolher o ajudante do dia etc. No entanto, reduzi-la a funções como essas é desperdiçar o potencial de uma palavra cheia de significados para os estudantes e estável (ou seja, que não muda com o tempo e se refere à identidade de uma pessoa específica).
No campo de atuação Vida Cotidiana aparecem outros gêneros que têm de ser trabalhados e que podem fazer uso do nome próprio. Alguns deles: bilhetes, recados, avisos, convites, cartas e diários, que colocam a língua em sua função comunicativa. Ainda assim, vale reforçar que a lista de nomes da turma não só pode como deve seguir sendo um alicerce seguro para os estudantes explorarem todos esses tipos de texto de forma ativa e crítica. Enquanto alguns alunos vão usar a lista para copiar o nome que querem colocar na carta, outros vão recorrer a pedacinhos de um ou de outro nome para pensar no recado que estão lendo ou escrevendo coletivamente, tendo o professor como escrita (ou não).
“As listas guardam imensa riqueza de informações sobre o sistema de escrita, como a variedade de letras e de possibilidades sonoras”, reflete Fátima. A pedagoga e pesquisadora argentina Ana Teberosky, em Psicopedagogia da Linguagem Escrita, explica que o nome próprio informa a criança sobre quantidade, posição e ordem das letras usando um modelo que não muda. E também serve de ponto de referência para confrontar as ideias da turma com a realidade convencional da escrita (leia sugestões para trabalhar nome próprio na alfabetização).
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