Danças, brincadeiras e jogos: Como a Educação Física pode valorizar os povos indígenas
Repertório cultural sustenta muitas das atividades praticadas nas escolas indígenas. Confira algumas sugestões criadas pela professora Luciene Jakomearegecebado, da etnia bororo
A comunidade da aldeia Piebaga, da etnia bororo, localizada em Santo Antônio de Leverger (MT), costuma participar bastante das atividades desenvolvidas na Escola Estadual Indigena Piebaga. A professora Luciene Jakomearegecebado conta que a interação entre alunos, pais e anciães acontece em aulas variadas, inclusive nas de Educação Física, com danças e brincadeiras principalmente.
Com base no repertório cultural da cultura bororo, a docente nos indica três sugestões de atividades já desenvolvidas com alunos do Ensino Fundamental 1 e que mostram muito bem como ocorre a conexão entre a escola e o povo indígena na prática.
TEMA 1: BRINCADEIRA DA PETECA
Como trabalhar nas aulas: Inicie a atividade com a confecção da peteca com os alunos. Juntamente com a turma, selecione as palhas de milho mais resistentes, as melhores penas e a quantidade adequada de grãos secos de milho para balancear o peso das petecas. Com as petecas prontas, defina com a turma as regras do jogo ou então peça que cada grupo determine as próprias regras. Em comum, todas precisam seguir a máxima: Não deixar a peteca cair! Na brincadeira da peteca, trabalha-se a coordenação motora das crianças, desenvolvendo a agilidade, a confiança no colega do lado, o movimento e o fortalecimento dos braços e das pernas, além do respeito com o espaço do colega. Trata-se de uma brincadeira de grupo, em que a participação de todos é importante. A brincadeira de peteca é uma das mais antigas entre os bororo.
Habilidade da BNCC de Educação Física relacionada: EF35EF01 - Experimentar e fruir brincadeiras e jogos populares do Brasil e do mundo, incluindo aqueles de matriz indígena e africana, e recriá-los, valorizando a importância desse patrimônio histórico cultural.
TEMA 2: COMPETIÇÃO DE ARCO E FLECHA
Como trabalhar nas aulas: A primeira atividade é realizar a fabricação do arco e da flecha. Para isso, a turma conta com o apoio dos anciães da aldeia, que são os conhecedores das matérias-primas mais resistentes. Nesse momento, eles também compartilham com os alunos as histórias, as técnicas usadas e as experiências de quem usa o arco e a flecha bororo. Feitos os instrumentos, os alunos são estimulados a testar suas criações em alvos. Essa brincadeira trabalha a coordenação motora no manuseio do arco e também a precisão para acertar a pontaria. A atividade é oportunidade para ensinar que toda competição precisa ser saudável e, mesmo que haja um vencedor e um perdedor, mais importante é a participação de todos na atividade.
Habilidade da BNCC de Educação Física relacionada: EF35EF01 - Experimentar e fruir brincadeiras e jogos populares do Brasil e do mundo, incluindo aqueles de matriz indígena e africana, e recriá-los, valorizando a importância desse patrimônio histórico-cultural.
TEMA 3: DANÇAS DOS DIAS DE FESTAS NA ALDEIA
Como trabalhar nas aulas: Pais e anciães da aldeia são chamados a participar da atividade. São escolhidas danças que celebram datas festivas importantes para a comunidade. Na sequência, os adultos ensinam a organização do espaço, a distância de cada participante entre si, a sequência de passos, os gingados praticados e também as letras das músicas cantadas. Os adultos detalham ainda quais são os trajes e as pinturas corporais usadas para aquela ocasião festiva. A atividade estimula a coordenação motora e a concentração dos alunos, além de fortalecer a cultural local e os vínculos comunitários.
Confira abaixo um vídeo de 1917, gravado pela Comissão Rondon, que desbravou locais até então desconhecidos pelo governo brasileiro. No registro de mais de 100 anos, é possível conhecer algumas das danças e festividades típicas dos bororo.
Habilidade da BNCC de Educação Física relacionada: EF35EF09 - Experimentar, recriar e fruir danças populares do Brasil e do mundo e danças de matriz indígena e africana, valorizando e respeitando os diferentes sentidos e significados dessas danças em suas culturas de origem.
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