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Como tem sido a experiência de retorno às escolas em Vitória, Birigui e Novo Hamburgo

O respeito dos alunos aos protocolos tem sido um ponto positivo, mas educadoras relatam o desafio para conciliar as atividades presenciais e remotas e a dificuldade para manter engajados os estudantes que ficam em casa

Ilustração digital simulando pintura manual de aluno sentado em frente ao computador sobre fundo abstrato.
Ilustração: Julia Coppa/NOVA ESCOLA

A retomada do ensino presencial no país, ainda que de maneira parcial, deve ganhar mais força no segundo semestre de 2021. No primeiro semestre, muitos estados e municípios já começaram esse processo ao permitir parte das atividades na escola com base na redução do número de casos, mortes e ocupações de UTI.

A rede municipal de Vitória é exemplo disso. Em março de 2021, as escolas da capital capixaba chegaram a abrir novamente suas portas, mas, com a piora da pandemia, foi necessário dar um passo atrás. Em maio, a secretaria voltou a autorizar o retorno parcial das atividades presenciais.

Em Birigui (SP), professores da rede municipal retornam às escolas em março, mas as instituições só abriram para os alunos em maio, também no modelo semipresencial. Foi também nesse mês que a rede municipal de Novo Hamburgo (RS) retomou parte das aulas na escola.  

Para entender um pouco dessas experiências, NOVA ESCOLA conversou com Juliana Rohsner, secretária municipal de Educação de Vitória; Catiucia Lacerda Masson, professora na EM Leonor Chaim Cury, de Birigui (SP); e Joice Lamb, coordenadora pedagógica na EMEF Professora Adolfina J.M. Diefenthäler, em Novo Hamburgo (RS), e consultora deste Box. 

Os alunos podem surpreender

Todas elas concordam que a principal preocupação dos professores era saber se os estudantes seguiriam os protocolos sanitários. Muitos tinham medo de que as crianças tirassem as máscaras ou não mantivessem o distanciamento dos colegas. Logo na primeira semana, todas dizem ter tido uma grata surpresa com o comportamento dos alunos.

“A primeira semana foi surpreendente. Nossos medos de que as crianças não conseguissem seguir os protocolos logo desapareceram”, conta Catiucia, que leciona para um uma turma de 1º ano e outra de 3º ano do Ensino Fundamental. “Sempre trabalhamos com a turma com combinados. Logo na primeira semana, fazemos as adaptações necessárias para o contexto. Combinamos com os alunos de sempre usar máscara dentro da escola, não trocá-la com o amiguinho, fazer a limpeza das mãos após manipular objetos, sentar apenas em lugares demarcados. Todos os dias esses acordos eram recordados no início das atividades e já na primeira semana eles acabaram se tornando hábitos.”

Catiucia conta que a escola havia planejado fazer as refeições nas salas de aula, mas como os alunos mostraram enorme respeito aos combinados, elas logo foram transferidas para o refeitório. “Confesso que nós, professores, nos sentimos mal por subestimá-los no nosso planejamento”, reflete.

Juliana comenta que essa mesma adaptação foi notada pelos professores da rede municipal de Vitória. “Quando os professores retornaram às salas de aula, eles viram que foi muito mais fácil do que imaginavam. Por quê? Porque essas crianças já estavam usando a máscara para ir ao supermercado, ao shopping. O medo de que as crianças não fossem ficar de máscara na escola cai por terra. A criança fica de máscara, ele entende que não pode dividir o material, ela chega na escola com isso bem organizado na sua cabeça justamente porque estava vivendo numa sociedade em que essas regras estavam postas.”

Conciliando o trabalho remoto com o presencial

A retomada parcial do ensino presencial não significa que o ensino remoto fique em segundo plano, muito pelo contrário. Em algumas cidades, nem todos os familiares das crianças optaram pelo modelo híbrido, fazendo com que parte dos estudantes permanecesse apenas no contexto remoto. Com isso, um novo desafio se impôs às escolas: como conciliar as duas modalidades de atuação do professor com a mesma carga horária de trabalho desse profissional? Afinal, enquanto parte da turma está na escola tendo aulas em sala, outra parte também deve estar estudando em suas casas, tendo o professor disponível.

Catiucia conta que, ao saber da implantação do modelo híbrido, ficou apreensiva a respeito de como ela poderia dar conta de tudo. “Quando veio a notícia de que iríamos retornar para a sala de aula, minha preocupação era de que eu ficaria com 24 alunos na escola, dando atenção, ao mesmo tempo que eu tinha outros 40 em casa, no ensino remoto”, disse. “Eu me perguntava como faria para conciliar tudo. Então, nossa secretaria reduziu o horário dentro da escola. No meu caso, a primeira turma, que entra às 7 da manhã, passou a sair uma hora antes, às 11 horas.”

A hora restante é destinada a auxiliar famílias e estudantes com as atividades remotas. Uma hora, porém, não é suficiente para atender a toda essa demanda e ela conta que acaba estendendo o tempo de trabalho para além do que deveria. “Tenho essa hora para agilizar a questão do remoto. Porém, não é isso que acontece, né? A gente acaba ficando um pouquinho a mais”, explica.

Joice deparou-se com esse mesmo problema. Em sua escola, as turmas dos Anos Iniciais de Ensino Fundamental foram divididas em duas e, a cada 15 dias, elas se revezam entre a aula presencial e a remota. Para não fazer com que seus professores fizessem horas a mais do que as previstas, a escola decidiu que as atividades remotas aconteceriam três vezes na semana e teriam o auxílio de toda a coordenação pedagógica e um professor de apoio.

“Não podemos dar ao professor uma demanda que sabemos que ele não vai poder cumprir. Isso de ter que fazer duas coisas ao mesmo tempo é impossível e é uma crueldade de qualquer pessoa da gestão dizer que dá pra fazer. Como gestora, temos de ter tranquilidade neste momento para falar para pais ou outras pessoas que possam pressionar que estamos em um contexto diferente e que precisamos de tempo para nos adaptar”, explica.

Segundo a coordenadora pedagógica,  a organização das atividades desses três dias precisou contar com apoio de um professor de apoio, de modo a não sobrecarregar o professor da turma. 

Dessa forma, o modelo híbrido foi estruturado da seguinte maneira na EMEF Professora Adolfina J.M. Diefenthäler: Em um dos dias, as crianças que estão em casa fazem uma atividade em tempo real com o outro grupo de estudantes que está na sala de aula. No outro, um professor de apoio substitui a professora titular em sala de aula para que ela possa se concentrar exclusivamente nas atividades com o grupo remoto. No terceiro dia, o professor de apoio conduz as aulas remotas, enquanto a professora titular foca na turma que está na escola. 

Joice critica as secretarias que jogam no colo das escolas expectativas irreais. Para ela, é preciso que a escola consiga criar uma dinâmica de atividades em que o professor não saia sobrecarregado e acabe adoecendo.

Dificuldades de manter as crianças engajadas em casa

Outro desafio da escola e dos professores no modelo híbrido é manter os alunos estudando em casa, no período em que estão com atividades remotas. 

Joice explica que, na semana em que as crianças da EMEF Professora Adolfina J.M. Diefenthäler permanecem em casa, no geral, elas pouco ou nada estudam. Catiucia concorda. De acordo com a professora, o fato de as crianças serem completamente dependentes de alguém auxiliá-los com as atividades faz com que muitos acabem não fazendo as tarefas. “A gente tenta elaborar atividades que envolvam a participação da família, algumas brincadeiras, mas é muito difícil porque eles não têm uma rotina de estudo estabelecida em casa”, conta.

Nas escolas da rede municipal de Vitória, o mesmo foi percebido. “As crianças não têm uma organização de conseguir fazer as tarefas aos poucos. Ou é aquele estudante que faz tudo num único dia só para ficar livre nos outros dias ou é aquele que tem dificuldade e nem sequer vai fazer as tarefas”, explica Juliana. 

Na capital capixaba, as turmas têm sido divididas em dois grupos, que se revezam semanalmente entre aulas presenciais e remotas. “Enquanto política pública, estamos reavaliando esse modelo para o segundo semestre. A gente entendeu que pedagogicamente não ficou legal. A criança que fica uma semana em casa se sente de férias. Ela perde o vínculo do desejo com a escola”, explica.

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