Aulas ao ar livre e convívio social: Planeje as aulas de Geografia de Anos Iniciais do 2º semestre

Muitas crianças estão vivenciando a experiência de estar pela primeira vez em um ambiente escolar de Ensino Fundamental após um ano e meio de aulas remotas. Um grande número de alunos de 1º e 2º ano ainda não pisou na sala de aula e, caso tenham, não houve tempo suficiente para desfrutar. Outros estudantes, do 3º ao 5º ano, muito provavelmente se desacostumaram com o convívio social promovido na escola, onde há uma diversidade e regramentos muito diferentes daqueles presentes dentro de suas casas. 

Pensando nisso, a professora de Geografia Barbara Ribeiro da Silva, que trabalha em três instituições na Grande São Paulo e é integrante do Time de Autores de NOVA ESCOLA, diz que o foco no segundo semestre no componente curricular deve ser o de auxiliar na adaptação e readaptação dos alunos ao convívio social escolar. A partir dessa perspectiva, ela apontou alguns pontos fundamentais para que o educador possa refletir na hora de preparar suas aulas no semestre que se inicia.

Explore os espaços ao ar livre

O melhor para a retomada das aulas é aproveitar os espaços abertos da escola, aponta Barbara. “As habilidades de Geografia exigem bastante observação do local e, com o retorno à escola, o professor pode usar áreas externas para propor atividades que envolvam o trabalho de campo.” A professora aconselha, inclusive, que as atividades diagnósticas sejam feitas nesses ambientes.

Nos Anos iniciais, é preciso desenvolver a noção de lateralidade do aluno, e essas coisas podem ser exploradas por meio de jogos, trilhas, caça ao tesouro. Tudo o que o professor puder fazer para sair ao máximo da lousa.

Convívio social e seus regramentos

“Agora não é o momento de ficar cumprindo o conteúdo ou o programa do ano só para dizer que está em dia. O segundo semestre é uma readaptação dos alunos ao ambiente escolar e às regras desse convívio social. O mais importante é os alunos conseguirem reconhecer novamente a escola. A Geografia pode contribuir muito com isso”, explica Bárbara.

“Os alunos não estão mais no tempo de casa. Na escola, agora, é preciso reformular isso. Vamos conviver em um grupo de mais pessoas, e cada um tem seu tempo e sua rotina. Porém,  no ambiente escolar, assim como na sociedade como um todo, há horários para cada coisa. Um banco não abre a hora que eu quiser, por exemplo. Na escola as crianças começam a aprender esse regramento social”, reflete.

Muitas crianças do 1º e do 2º ano do Fundamental não viveram esses processos de ensinamento porque já iniciaram seu ciclo escolar no contexto remoto. Por isso, segundo Barbara, esse deve ser um dos pontos prioritários do professor.

Explore metodologias ativas

Para fazer a avaliação diagnóstica ou mesmo as atividades que está preparando para o semestre, busque metodologias ativas que permitam explorar as potencialidades dos alunos e auxiliar em possíveis defasagens entre as crianças. Uma opção é promover estudos em pares, de modo que o aluno que esteja com menor dificuldade possa auxiliar aquele com mais dificuldade.

Outra maneira bastante interessante é planejar propostas que envolvem rotação de estações, em que um mesmo conteúdo é trabalhado a partir de diferentes linguagens (gráfico, desenho, charges, jogos etc.), fazendo com que a criança passe por todas as estações.

Barbara enfatiza que é importante sempre trabalhar com outras linguagens que não seja texto ou vídeo que já foram bastante exploradas no contexto remoto: trabalho de campo, aulas de laboratório.

“Quando o professor passa o conteúdo visto no semestre passado, mas com outras linguagem, ele permite que o aluno com dificuldades alcance os colegas naquela aprendizagem, e aqueles que já aprenderam o conteúdo possam revisitar aquele conhecimento a partir de outra perspectiva.”

ATIVIDADE PARA O 1º ANO: DIA E NOITE

Estimule os alunos a observarem os ritmos naturais e as diferenças entre cada momento

Habilidade da BNCC:

EF01GE05 - Observar e descrever ritmos naturais (dia e noite, variação de temperatura e umidade etc.) em diferentes escalas espaciais e temporais, comparando a sua realidade com outras.

O que se espera dos alunos com essas habilidades? 

Observar os ritmos naturais e as diferenças entre o dia e a noite.

Como trabalhar com os alunos em sala:

1. Preparação. Para esta atividade, é preciso utilizar algum equipamento que possa transmitir sons da floresta à noite e de uma cidade durante o dia.  O professor pode usar um computador, aparelho de som ou mesmo o celular para isso.

2. Pergunta disparadora. Comece a conversa com os alunos a partir da seguinte pergunta: o dia e a noite são iguais?

A partir das respostas, desenvolva o tema da aula relacionando-o à alternância do dia e da noite. Por exemplo: a partir do relato de um dos alunos, você pode perguntar por que ele acorda de manhã e dorme à noite, com a intenção de relacionar esse fato com o surgimento do sol e a escuridão. Assim, você vai encaminhar os primeiros questionamentos do tema da aula.

3. Sons do dia e da noite. Agora é a hora de transmitir os sons do dia e da noite. Prepare o equipamento escolhido para a transmissão. Em seguida, peça aos alunos que fechem os olhos e passem um minuto do áudio com sons de uma floresta à noite (confira uma opção abaixo), estimule a identificação dos elementos que emitem sons (chuva, vento, folhas) e principalmente, se eles conseguem identificar algum animal (grilo e coruja).

Depois, reproduza o áudio da cidade movimentada durante o dia e veja o que os alunos conseguem identificar (confira uma opção abaixo). Caso queira, passe a primeira vez sem falar nada, e depois da exposição dos alunos, mais uma vez para que agora eles escutem os sons de forma direcionada.

4. Sondando os alunos sobre atividades de dia e à noite. Feito isso, pergunte aos alunos se as atividades realizadas durante o dia e durante a noite são diferentes.

Escute as considerações dos alunos e por fim retome a ideia de que o dia e a noite são diferentes e, provavelmente, as atividades realizadas serão também. O passo seguinte vai demonstrar que algumas delas podem ser realizadas inclusive nos dois períodos.

5. Jogo de mímica. Após as reflexões, conte que agora os alunos serão divididos em dois grupos e explique a eles a dinâmica do jogo de mímica: cada um do grupo terá de fazer uma ação do dia ou da noite de acordo com um sorteio com o professor. Acrescente também outros elementos, tais como sol, estrelas, lua, para favorecer o aprofundamento sobre o tema. Enquanto um dos colegas faz a mímica, os outros do grupo devem adivinhar o que está sendo representado e dizer se é uma atividade mais comum de ser realizada de dia ou de noite.

As ideias podem partir tanto dos alunos, que contará para a turma do que se trata, como da professora, que pode sugerir alguma mímica, como dormir, comer, buzinas e carros, trabalhar, pessoas conversando, coruja etc.

6. Sistematização. Concluída a atividade de mímica, recupere as atividades tratadas na brincadeira e, na lousa, sistematize a aula organizando uma tabela em que na primeira coluna conste a atividade realizada e na segunda o período em que tal atividade é realizada – a resposta para o período poderá ser dia/noite/ambos a depender da atividade. É interessante que a partir das respostas você possa orientá-los sobre uma rotina saudável, como ter horário para dormir e brincar.

Como trabalhar com os alunos em casa:

1. Sons do dia e da noite por WhatsApp. Inicie passando os sons do dia e da noite. Para isso, utilize o YouTube ou baixe os áudios, e os envie no grupo de WhatsApp da turma. Peça aos alunos que fechem os olhos para tocar os sons de uma floresta à noite, durante um minuto. Estimule-os a identificarem elementos como chuva, vento, folhas e, principalmente, algum animal (grilo, coruja).  Em seguida, compartilhe o áudio da cidade durante o dia. Veja o que eles conseguem distinguir. Caso ache necessário, peça que ouçam os áudios uma primeira vez sem dizer nada e, depois, mais uma vez, para que escutem os sons de forma direcionada. 

2. Diferenças entre as atividades. Pergunte se as atividades realizadas durante o dia e durante a noite são diferentes. Grave um áudio ou um vídeo utilizando a câmera de um celular, tablet, computador ou notebook. Incentive-os a responderem por meio de vídeos ou áudios. As respostas podem ser compartilhadas por WhatsApp ou outro meio que você preferir. Escute as considerações dos alunos e, por fim, retome a ideia de que o dia e a noite são diferentes, e que as atividades realizadas nesses períodos também são. 

3. Fazendo uma tabela em casa. Peça que eles montem uma tabela no caderno em que na primeira coluna conste a atividade e a segunda o período que a atividade costuma ser feita (podendo ter como resposta dia/noite/ambos). Você, professor, pode ir ditando as atividades que achar pertinente, como “trabalhar”, “estudar”, “brincar”, “queda de temperatura”, “sons de buzinas e carros” etc. É interessante que, a partir das respostas, você possa orientá-los a respeito de uma rotina saudável, como ter horário para dormir e brincar, principalmente durante o período de isolamento social, que comprometeu a rotina de muitas famílias. Nesse momento, amplie a discussão explicando as diferenças entre dia e noite.