PARA PLANEJAR O SEMESTRE

Realidade dos alunos e jogos: como trabalhar História nos Anos Iniciais na volta às escolas

Lembrar de outros períodos históricos em que a humanidade superou pandemias e desenvolver atividades lúdicas podem ser boas estratégias na retomada das atividades presenciais. Confira uma proposta para o 4º ano sobre Imigração para trabalhar com a turma no retorno

Ilustração abstrata de menino apoiado em relógios mostrando a passagem do tempo.
Ilustração: Juliana da Costa/NOVA ESCOLA

Muitos estudantes estão retomando o ensino presencial neste semestre, de forma integral ou parcial (com rodízio entre turmas e parte das aulas no remoto). Sem dúvidas, há muita expectativa e apreensão, tanto por parte dos professores quanto por parte dos estudantes sobre o que priorizar nos mais diversos componentes curriculares no retorno às escolas. 

Preparar e planejar um novo semestre depois de tantos meses de contexto remoto exige um olhar especial do professor. Nas primeiras semanas, os conteúdos podem ser preparados de modo a auxiliar o professor a fazer uma avaliação diagnóstica dos alunos, mas não se pode perder de vista que o acolhimento deve vir em paralelo.

Jair Ferreira, professor de História do 4º ano do Colégio Pollux, de São Paulo, conta que, para receber os alunos, a escola fez um mural na parede e convidou os estudantes a escreverem o que esperavam do semestre e da retomada das atividades presenciais. O mural, inclusive, serve de base para que os professores entendam quais os sentimentos envolvidos neste retorno e como se preparar para ele.

O professor conta que pretende retomar conteúdos dos bimestres anteriores, mas com outros métodos. “O ensino remoto baseou-se em aulas expositivas, e quero utilizar jogos e trabalho em grupo agora”, conta.

A partir do contexto, Jair pensou em algumas estratégias sobre como vai trabalhar com sua turma neste semestre:

Atividades lúdicas 

“Os alunos estão desacostumados com a escola e querem tirar todo atraso das brincadeiras, por isso tenho de ser mais maleável. Preciso entender o que eles passaram nesse ano e meio de pandemia”, explica Jair. Para não deixar o conteúdo de lado e mesmo para a realização das avaliações diagnósticas, ele pretende trabalhar com jogos e tabuleiros no ensino de História, sempre respeitando os protocolos sanitários. “Se for necessário, cada criança jogará com seu próprio tabuleiro.” (Confira o curso que o professor criou para NOVA ESCOLA sobre o tema.)

Avaliação diagnóstica por partes

Segundo Jair, é importante retomar habilidades dos bimestres passados em uma conversa com os alunos e avaliar o que eles lembram e o que não lembram. Caso perceba que a habilidade ou parte dela não foi contemplada, retome o assunto com os alunos. Outro ponto importante é não fazer a avaliação diagnóstica toda de uma vez, mas por etapas, analisando quais conteúdos são prioritários. 

A história a partir da realidade atual

Jair conta que a pandemia o fez repensar todo o conteúdo de suas aulas de história, incluindo temas que estão relacionados, de alguma forma, com o momento atual, de modo que despertasse maior interesse dos alunos. “Por exemplo, quando trabalho com a Primeira Guerra Mundial, dou maior ênfase à epidemia da gripe espanhola que ocorreu logo após o fim da Guerra, porque o tema está muito mais próximo para o aluno do que uma guerra mundial. Reformulei tudo e vou continuar isso no segundo semestre.” 

Outro ponto importante dessa alteração de perspectiva, conta, foi ajudá-los a entender o momento que estão passando. “Com isso, lembro que eles também fazem história. Mostro que já vivemos outros momentos difíceis em décadas e séculos passados que foram superados. Eles percebem que os filhos deles vão estudar os anos da pandemia de covid-19”, explica Jair, que desenvolveu uma apostila especial para mostrar como o desenvolvimento da saúde pública também faz parte de grandes momentos da história da humanidade.

Confira abaixo uma proposta desenvolvida por Jair para o 4º ano que permite trabalhar importantes habilidades de História no retorno às escolas.

divisória de atividade

ATIVIDADE PARA O 4º ANO: IMIGRAÇÃO E CULTURA

Explore a riqueza cultural de imigrantes que foram importantes para a formação cultural da região onde moram os alunos


Habilidades da BNCC:

EF04GE01 - Selecionar, em seus lugares de vivência e em suas histórias familiares e/ou da comunidade, elementos de distintas culturas (indígenas, afro-brasileiras, de outras regiões do país, latino-americanas, europeias, asiáticas etc.), valorizando o que é próprio em cada uma delas e sua contribuição para a formação da cultura local, regional e brasileira.

EF04HI09 - Identificar as motivações dos processos migratórios em diferentes tempos e espaços e avaliar o papel desempenhado pela migração nas regiões de destino.

EF04HI10 - Analisar diferentes fluxos populacionais e suas contribuições para a formação da sociedade brasileira.

O que se espera dos alunos com essas habilidades? 

Essas habilidades são importantes porque estão relacionadas à realidade do aluno. Seus hábitos e costumes são fruto de diversas matrizes culturais que chegaram ao Brasil pela imigração, forçada ou não. É esperado que ele identifique que a cultura local sofreu influência de diversos povos.

Como trabalhar com os alunos em sala:

1. Conversa sobre imigração. Comece a atividade com uma conversa e pergunte o que eles entendem como imigração, quem seria o imigrante e o conceito de patrimônio histórico material e imaterial. Deixe eles falarem à vontade. Neste momento você conseguirá realizar uma avaliação do que eles lembram e do que não lembram do conteúdo já trabalhado no primeiro bimestre do ano. Caso eles não se lembrem desses conceitos, retome o assunto explicando o que significam.

2. Contribuição dos imigrantes. Em seguida, pergunte como a imigração pode contribuir com a cultura local onde vivem. Pergunte sobre hábitos culturais que eles acreditam ser originalmente de outros povos que vieram para o Brasil e para a região onde vivem.

PONTO DE ATENÇÃO: Jair sugere que você, professor, faça perguntas diretamente àqueles estudantes um pouco mais tímidos e que falam menos quando o questionamento é feito para toda a turma. Depois, abra as perguntas para o restante dos alunos.

3. Influência dos imigrantes na gastronomia. Explique a eles que agora realizarão uma atividade que tratará das influências de outros povos na nossa gastronomia local. Jair preparou a aula para os alunos que leciona, considerando a realidade de São Paulo, onde há forte influência da imigração italiana. Você, professor, deve escolher os imigrantes que tenham mais influência na sua região. “Mais ao Sul, a gastronomia alemã pode ser uma boa ideia, em Florianópolis, a açoriana, e assim por diante”, comenta Jair.

4. Mostre imagens que remetam ao povo escolhido. Neste exemplo, o foco é a relevância dos italianos para a cultura paulistana, mas é importante não relacionar as imagens à Itália de forma explícita. Deixe que os estudantes observem e cheguem a essa conclusão. Confira abaixo alguns exemplos que podem ser utilizados.

Fotografias: Pexels, Wikimedia, NOVA ESCOLA, Wikimedia e Pexels

Em seguida, faça as seguintes perguntas:

- O que é mostrado nas imagens anteriores?

- O que essas imagens possuem em comum?

- Você conhece mais pratos da culinária italiana? Quais?

5. Contextualize as imagens. Feito isso, explique sobre a imigração usando textos e vídeos. Abaixo, há sugestões para quem tratará da cidade de São Paulo. Você também pode usar outros materiais que ache mais adequado.

Texto: Italianos em São Paulo:

O maior contingente de imigrantes vindos para São Paulo foi o de italianos. Dos que chegaram ao Porto de Santos, muitos foram para o interior do estado trabalhar nas fazendas de café, enquanto alguns ficaram na capital, nos bairros da Mooca, Bixiga, Lapa, Mandaqui, Santa Cecília e Barra Funda, entre tantos outros. Era muito comum, na primeira década do século 20, ouvir italiano nas ruas. Eram tantos os falantes que muitas vezes dava a impressão de se estar na Itália. Famílias como os Martinelli e os Matarazzo fizeram fortunas em negócios de navegação e na indústria. Grande parte do poderio industrial, tanto dos proprietários quanto dos operários, vem da força italiana. E não podemos nos esquecer do seu maior legado: a pizza! Que transformou São Paulo na segunda maior consumidora de pizza do mundo!

No tradicional bairro do Bixiga, onde muito negros se refugiavam em quilombos, os terrenos eram baratos, o que atraiu muitos italianos. Essa mistura afro-italiana deu origem a uma cultura única. Hoje o bairro conta com o Centro de Memória do Bixiga, que abriga em seu acervo documentos, vídeos, objetos e fotografias. O centro de memória foi idealizado por Seu Armandinho, histórico morador do bairro.

Fonte: https://www.cidadeecultura.com/sao-paulo-imigracao-italiana/

Vídeo: “Globo Repórter – A imigração italiana” [Até o 7º minuto]:

Reprodução de player do youtube

6. Perguntas sobre imigrantes italianos. Após os alunos lerem o texto e assistirem ao vídeo, faça as seguintes perguntas

- Por que São Paulo é considerada a maior cidade italiana fora da Itália?

- Por que os italianos migraram para São Paulo?

- Quais atividades os italianos desenvolveram no Brasil?

7. Desenho. Ao final, peça que façam um desenho sobre a imigração de italianos para São Paulo.

Como trabalhar com os alunos em casa:

No contexto remoto, o professor pode adaptar o material para o impresso e enviar o conteúdo antes da aula para o aluno. Caso a aula remota aconteça juntamente com a aula do grupo que está presencialmente, o professor pode usar um retroprojetor para mostrar as imagens e fazer a leitura do texto.

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