Incentivo à investigação e às atividades lúdicas: como abordar Ciências nos Anos Iniciais no contexto semipresencial
Para planejar as aulas do componente curricular no retorno, é importante lembrar que a aprendizagem científica se dá de forma espiral e pode ser trabalhada com leveza. Confira uma proposta sobre observação de materiais para o 2º ano
Além de todo acolhimento necessário nas primeiras semanas do retorno às aulas, a professora ou o professor precisam pensar sobre a forma como deverá trabalhar as aprendizagens dos alunos no segundo semestre.
Em Ciências, um dos focos deve estar nas atividades que despertam um olhar investigador dos alunos, defende Elisa Vitalta, professora de Anos Iniciais e integrante do Time de Autores de Ciências de NOVA ESCOLA.
“O professor pode trazer os objetos de conhecimento do componente curricular de forma mais lúdica. Ciência é experimentação, acho que é preciso levá-la de forma mais leve aos alunos”, reflete. "Precisamos trazer para as aulas atividades prazerosas que despertem esse espírito científico das crianças, pois elas têm curiosidade”
Para a retomada, Elisa elenca, a seguir, pontos importantes para o professor pensar antes de planejar as suas aulas e propõe uma sugestão de atividade para turmas de 2º ano. Confira:
Defasagem e aprendizagem em espiral
Os objetos de conhecimento de Ciências previstos na BNCC estão presentes no documento de forma espiral, ou seja, devem ser revisitados pelos alunos ao longo de toda sua trajetória escolar. Por isso, explica Elisa, não é o momento de se desesperar com possíveis defasagens de um ou outro conteúdo por conta dos meses em que as crianças ficaram restritas ao ensino remoto emergencial.
“Os processos de documentação serão tocados em vários momentos dos Anos Iniciais. Por isso, não podemos dizer que haverá grande defasagem do ensino de ciências com a pandemia, já que uma habilidade específica será retomada nos anos posteriores”, explica. “Não vejo esse tipo de defasagem nos Anos Iniciais porque tudo é retomado em outros momentos. Claro que os conhecimentos retornam de maneira mais aprofundada, mas nada que o professor não consiga resgatar, como sempre se faz quando se inicia uma unidade.”
Avaliação diagnóstica
Em Ciências, Elisa sugere que o professor faça a avaliação toda vez que comece uma nova unidade, evitando que seja feita uma avaliação de todo o conteúdo do ano de uma única vez. O professor pode avaliar através de brincadeiras, jogos, quizzes, vídeos ou mesmo durante uma conversa. “O importante é que ele não queira fazer tudo de uma vez porque não dá”, explica. A professora ressalta ainda que a avaliação diagnóstica deve ser sempre presencial.
Atividades diferentes para a sala e para casa
Planeje tanto a aula presencial quanto a remota. São dois modelos distintos e, por isso, duas aulas diferentes. "Temos de privilegiar os momentos em sala para fazer trocas, levantar hipóteses, chegar a conclusões, discutir em grupo. Para casa, é preciso preparar atividades em que ele possa confirmar o que descobriu na sala, aprofundar esse conhecimento”, explica Elisa.
Por esse motivo, é preciso pensar com cuidado no material que o professor deve preparar para dar apoio ao aluno em casa e a atividade não deve ser complexa a ponto de a criança não conseguir fazê-la sozinha. “Não podemos exigir que ele faça uma descoberta ou apresentar um objeto de conhecimento novo para ele fazer em casa.”
Outra opção, aponta Elisa, é pedir uma atividade prévia à nova unidade que será iniciada em sala de aula, mas sempre explicando à criança o porquê de realizá-la. “Vejo crianças queixando-se de que nem sabem o porquê de estarem fazendo tal atividade, é muito importante explicar para ele o motivo de a tarefa estar sendo pedida. Com o modelo misto, é possível planejar as aulas dessa forma, em que temos a oportunidade de instruir o aluno sobre o que ele vai fazer em casa e, quando ele chegar em casa, não precisa pedir para alguém auxiliá-lo.
Avaliações formativas mais frequentes
Elisa destaca que é importante que o educador se planeje para as avaliações formativas com mais frequência. “As avaliações feitas no remoto não permitem saber como as atividades foram feitas nem se os alunos estavam sozinhos ao desenvolvê-las. Agora, precisamos chegar mais junto e ver como ele está pensando, raciocinando. Vai ser muito importante o professor estar próximo e dar essa segurança para a turma.”
A professora destaca que esse tipo de avaliação não está relacionado a provas, mas a observar os alunos e como eles trabalham em grupo. “Precisamos buscar outras formas de conseguir acompanhar o estudante, outros tipos de trabalho que eles apresentem, seja por meio de falas, contribuições, explicações, construções. Precisamos fazer uma avaliação muito mais cuidadosa neste momento de retomada.”
Para as primeira semanas, Elisa propõe uma atividade sobre observação de diferentes materiais para que o professor desenvolva com sua turma do 2º ano do Fundamental.
ATIVIDADE PARA O 2º ANO: CAÇA AO TESOURO CIENTÍFICA
Coloque a turma para encontrar na escola objetos de metal, madeira, vidro e outros materiais e analisar do que são feitos
Habilidade da BNCC:
EF02CI01 - Identificar de que materiais (metais, madeira, vidro etc.) são feitos os objetos que fazem parte da vida cotidiana, como esses objetos são utilizados e com quais materiais eram produzidos no passado.
O que se espera dos alunos com essa habilidade?
A habilidade prevê a observação, identificação e diferenciação de materiais com os quais os objetos que o aluno encontra em seu dia a dia são feitos e o porquê de serem feitos dessa forma. Ela também estimula a reflexão sobre a evolução dos materiais ao longo do tempo. Espera-se que os alunos pesquisem, observem e identifiquem os materiais pelos quais os objetos são compostos. Também espera-se que eles classifiquem os objetos de acordo com o material com o qual foi fabricado, de modo que eles compreendam o porquê dessas escolhas.
Como trabalhar com os alunos em sala:
1. Preparação. Para começar a caça ao tesouro, o professor precisa preparar, primeiramente, o local onde a atividade será realizada. Então, espalhe objetos de diferentes tipos de materiais (metal, madeira, vidro etc.) no espaço de convivência dos alunos na escola. A atividade pode ocorrer em diferentes locais ou em um mesmo ambiente a depender dos protocolos sanitários vigentes na escola. Uma opção também é reservar um horário em que a turma possa utilizar o ambiente ao ar livre ou o pátio para a realização de atividades. Faça um mapa de tesouro do local que foi escolhido para que as crianças explorem e encontrem os objetos
2. Explique a proposta. Em seguida, apresente a elas a atividade. Diga que há objetos escondidos em diferentes locais e que o papel delas é encontrar esses objetos e reuni-los. Divida as crianças em pequenos grupos e explique que a missão delas é encontrar os materiais e marcar no mapa o que encontraram.
PONTO DE ATENÇÃO: A atividade também auxiliará os estudantes a se ambientarem com a escola depois de tantos meses no ensino remoto. Se possível, explore ao máximo os espaços e a função de cada uma delas. É uma maneira também de acolher as crianças, fazendo com que elas se reconheçam novamente dentro da escola.
3. Lista dos objetos e seus materiais. Quando retornarem com os objetos na sala de aula, faça uma lista com elas para que vejam quais são os objetos e de que materiais são feitos. Questione o fato de elas encontrarem um mesmo objeto feito de materiais diferentes. Por exemplo: uma colher de madeira, uma de metal e outra de plástico. Pergunte por que os mesmos objetos são feitos de diferentes materiais, questione se cada um tem um papel específico.
Como trabalhar com os alunos em casa:
No contexto remoto, é possível propor que os alunos façam esse mapa do tesouro em casa, apontando em que lugar da casa os objetos foram encontrados e de que tipo eles são feitos. O estudante poderá ele mesmo desenhar o mapa para depois mostrar para a professora e os colegas, ou apresentar sua caçada a partir de uma tabela em que conste: o objeto, o material que o objeto foi feito e o local onde o objeto estava.
Quando chegarem na escola, as crianças vão compartilhar a experiência e o professor pode aproveitar esse momento para realizar perguntas que promovam o levantamento de hipóteses sobre o porquê determinado objeto ser feito com certo material ou o porquê de um mesmo objeto pode ser feito de materiais diferentes.
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