Como trabalhar a vacinação contra a covid-19 nas aulas de Matemática e no ambiente escolar
Mostre como o componente curricular pode ajudar na leitura do mundo e das soluções para os problemas atuais como a pandemia
Desde que começou, no fim de 2019, a pandemia do novo coronavírus virou tema de inúmeras conversas, pesquisas e aulas. A quantidade de mortes continua bastante expressiva, mas nos últimos meses outro dado também tem trazido esperança: o aumento no número de vacinados ao redor do mundo.
São muitas as maneiras pelas quais a escola pode abordar a temática das vacinas. Na Matemática, é possível utilizar os dados para entender qual é a taxa de eficácia, como ocorre a distribuição das vacinas para estados e municípios e qual é a parcela da população parcial ou totalmente imunizada.
A leitura de tabelas e de gráficos de colunas simples é indicada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já no 1º ano do Ensino Fundamental. Nos anos seguintes, somam-se a esse objetivo de conhecimento a coleta de dados, sua classificação e a representação e a interpretação de gráficos mais complexos, como o de linhas. Segundo o documento, essas habilidades devem ser desenvolvidas com e sem uso de tecnologias digitais. Ou seja, é importante saber desenhar gráficos utilizando papel, lápis e régua, mas os alunos também podem aprender a fazer isso no computador e em aplicativos.
Segundo Luciana Tenuta, formadora de professores e autora de livros didáticos, uma boa forma de iniciar esse trabalho é envolver os alunos em pesquisas sobre diferentes aspectos do grande tema da vacinação. “Como as notícias saem diariamente, eles sempre vão encontrar dados fazendo uma pesquisa na internet ou em jornais e revistas. O professor pode pedir para que, no período de uma semana, eles escolham três dias para verificar os dados e sua variação”, comenta Luciana.
Algumas opções de pesquisa são: qual a idade das pessoas que estão sendo vacinadas naquele período na cidade onde moram, quais cidades do estado ou da região vacinaram mais; proporção de vacinas disponíveis de cada fabricante, eficácia dos imunizantes, números de vacinados na família etc. “O professor pode apresentar essas opções e dividir a turma em grupos para realizar essa pesquisa. Para apresentar, eles podem criar tabelas e gráficos simples. Assim, todos terão acesso a muitas informações sobre as vacinas”, comenta Luciana.
Porcentagens
Até o 5º ano, espera-se que os alunos trabalhem com números naturais até a ordem das centenas de milhar. Como muitos dados sobre a vacinação já são da ordem dos milhões ou números racionais, é preciso tomar cuidado para não propor situações-problema que exigem cálculos com esse tipo de dados. No que diz respeito às porcentagens e representações fracionárias, o indicado é trabalhar com 10%, 25%, 50%, 75% e 100%.
Isso não significa necessariamente que os alunos não são capazes de ler e interpretar dados com outros números. Por exemplo: eles podem entender que 77% é mais do que 48,5% ou que a população brasileira, estimada em 213 milhões de habitantes, é maior do que a do estado de São Paulo, de 40 milhões. Entretanto, o cálculo matemático com esses números é complicado para a etapa do Ensino Fundamental 1.
Gráficos
No que diz respeito aos gráficos, os professores também têm de escolher formas simples para os alunos conseguirem compreender as informações apresentadas. “Essa relação com gráficos é muito importante. Nessa faixa etária, só trabalhamos com gráficos de barra, de coluna e de linha. O gráfico de barras, que apresenta informações separadamente, aparece desde o começo do Ensino Fundamental. Já os de linha são utilizados somente no 5º ano, porque nele há mais informações”, comenta Fernando Barnabé, professor, formador de professores, autor e editor de livros didáticos de Matemática.
A vacina na comunidade escolar
Além do trabalho com cálculos e outras noções matemáticas, pesquisar sobre a matemática da vacinação pode ajudar na conscientização da comunidade escolar a respeito da importância de se imunizar. “Apesar falarmos sobre uma informação de saúde, que aparentemente não parece numérica, são os dados que convencem as pessoas a se vacinarem. Ao pesquisar, o aluno vai verificar que muita gente que já ficou doente, já perdeu alguém querido e que o aumento do número de imunizados faz diminuir o número de doentes e de óbitos”, explica Fernando.
Para fazer o trabalho alcançar mais pessoas, Luciana Tenuta sugere uma campanha para incentivar toda a comunidade escolar a se vacinar, mostrando os dados matemáticos descobertos pelas crianças. “Elas conseguirão ver como a Matemática que aprendem na escola serve para ler o mundo para o resto da vida.”
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