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Que saudade das famílias: como pais e responsáveis têm valorizado as professoras na reabertura das escolas

Ao longo da pandemia, educadoras relatam como deixaram de lado uma visão mais pragmática da Educação para se aproximar dos familiares de alunos que mais precisavam de apoio. Agora, no presencial, o esforço e a aptidão das docentes têm sido cada vez mais reconhecidos

Ilustração abstrata de professora interagindo com pais de alunos em vídeo chamada em torno da palavra compreensão.
Ilustração: Thiago Lopes (Estúdio Kiwi)/NOVA ESCOLA

A retomada, ainda que parcial, das aulas presenciais trouxe grande alívio para muitos pais e responsáveis. Mesmo com medo da volta, ainda num contexto sanitário delicado, muitos estavam aflitos com a rotina escolar no ensino remoto. 

“O empenho da professora foi fundamental para despertar o interesse da minha filha no ensino remoto, mas é fato que, depois da volta ao presencial, ela já melhorou muito a leitura”, comemora Luciane Amaral Monteiro, mãe de Adriane, aluna da professora de 1º ano Lane Patrícia Almeida da Silva, da Escola Municipal Professor Guita, em Macapá (AP). A mãe relembrou o medo que tinha de liberar a filha para as aulas presenciais, e que foi tranquilizada pela pequena logo no primeiro dia. “Ela me contou sobre as regras de distanciamento na sala de aula, dos materiais individuais, das regras para a hora do lanche.”

“Havia muita angústia por parte das famílias por sentirem que não tinham aptidão para apoiar os filhos nas atividades escolares, especialmente aqueles em fase de alfabetização”, lembra Claudia Ambrozio Vargas de Souza, coordenadora pedagógica da Escola Municipal Coryntho da Fonseca, localizada no Rio de Janeiro (RJ). “Percebemos que tínhamos de focar mais no vínculo com as famílias e menos nas atividades. A gente precisava manter o contato com os pais, sempre procurando ver o lado da família, os contextos.”

Relações cultivadas durante o distanciamento

Mas como se aproximar em tempos de distanciamento social? Gestores e professores ouvidos pela NOVA ESCOLA para esta reportagem são unânimes em citar os grupos em aplicativos de troca de mensagens eletrônicas – predominantemente o WhatsApp – como o grande legado para as relações entre escola e famílias durante a pandemia. Foi assim que muitas professoras conseguiram estreitar laços importantes e ainda manter a conexão com os alunos de Anos Iniciais. 

“Tínhamos uma visão muito funcional na escola, mas era preciso ter o olhar mais humano”, analisa a professora Lane. Ela entendeu que era necessário estar atenta à vida dos alunos e de suas famílias durante o período. Por isso, mantinha contato constante e individual com todos da turma, muitas vezes em horários flexíveis e, em casos especiais, até aos domingos – o que ainda se mantém até hoje: “Se o pai só pode participar da aula nesse dia e o filho quer também, por que não?”, reflete. Com essa constante troca, ela conseguiu apoiar também famílias que sofreram perdas materiais e humanas relacionadas à covid-19.

O contato próximo, apesar de distante fisicamente, também mostrou aos professores o quanto as famílias dos alunos estavam sofrendo com o desemprego e a fome. Diante disso, Marília Barbosa de Abreu, professora do 1º ano da UEB Professor Ronald da Silva Carvalho, localizada em São Luís (MA), mobilizou uma campanha de arrecadação de cestas básicas para as famílias. Com o apoio dos colegas da escola e de uma associação local de magistrados, garantiu a doação de alimentos e de materiais escolares por três meses, até que a prefeitura da capital maranhense passasse a distribuir formalmente o benefício. “As famílias sentiram-se muito agradecidas e acolhidas. Criamos uma relação de confiança importante”, conta.

Tempo de reconexão

Além de dificuldades financeiras, a pandemia também escancarou barreiras tecnológicas. A volta às aulas presenciais tem tranquilizado famílias que não podiam acompanhar o ensino remoto e passaram a ter pouco ou nenhum contato com a escola durante o período. Agora, há a possibilidade concreta de reconexão das crianças que tiveram a vida escolar interrompida. 

“Muitos pais, alguns analfabetos, não se sentiram capazes de acompanhar os filhos nas atividades escolares ao longo da pandemia. Agora, com a volta do presencial, eles voltaram a fazer contato comigo, interessados na rotina escolar do filho”, relata Laís Michelle de Souza Araújo Bandeira, professora de classe multisseriada (2º e 3º ano) da Escola Municipal Professora Maria Lúcia de Macedo Leite, da cidade de Nísia Floresta (RN). Maria Lúcia conta que acolheu uma mãe que, no primeiro dia de aula, veio justificar sobre a ausência da filha durante a época de escola fechada.

Outros pais, também assolados pelos problemas financeiros e familiares, não sabiam como se readequar à rotina presencial. A professora Célia Rodrigues dos Santos, de São Luis (MA), lembra que, diante da fala de um pai sobre sua filha não poder voltar às aulas por falta de material escolar, disse: “Pai, traga ela para cá que a gente dá um jeito!” A menina chorou no primeiro dia de aula presencial.

O contato com as famílias afastadas, aliás, é o grande desafio das escolas no momento, avalia a gestora geral Elieth Mendes Araújo, da mesma escola das professoras Célia e Marília  a UEB Professor Ronald da Silva Carvalho. Ela calcula que cerca de 20% dos alunos da escola ainda não estão acompanhando as aulas presenciais. “Estamos trabalhando bastante com a busca ativa dos pais e dos alunos para avisar que a escola está aberta.”

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