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Expressões e palavras africanas para as aulas de Língua Portuguesa

Conheça as famílias linguísticas que contribuíram com muitas palavras para o português brasileiro, além de expressões que mostram a influência de idiomas regionais em países da África lusófona

Ilustração de crianças brasileiras e africanas interagindo sobre mapa abstrato.
Ilustração: Karlson Gracie/NOVA ESCOLA

Muitas palavras reconhecidas como parte do nosso vocabulário são contribuições africanas ao português falado no Brasil. Entre 1505 e 1860, estima-se que o país recebeu mais de 3,6 milhões de africanos que desembarcaram na costa brasileira para trabalhar em regime de escravidão. Naturalmente, esse contingente enorme de pessoas colaborou para moldar termos que usamos até os dias atuais.

Sabe-se que eram faladas de 200 a 300 línguas nas regiões atingidas pelo tráfico de escravizados na África no século 15 – o que era parte pequena do conjunto linguístico do continente, formado por cerca de 2 mil línguas, segundo pesquisadores. Dos grupos étnicos vindos para o Brasil, a maioria era de falantes das famílias linguísticas banto e kwa. Entre as línguas da família banto, o quicongo, o umbundo e o quimbundo são aquelas com mais contribuições para o português brasileiro. Já da família kwa, as línguas que mais nos influenciaram foram as da família ewe-fon e a língua ioruba. (confira aqui um infográfico que mostra de onde vieram muitos desses idiomas). 

No Museu da Língua Portuguesa, localizado na capital paulista, é possível conhecer as origens de algumas dessas palavras incorporadas na exposição fixa interativa Palavras Cruzadas. Já no novo painel Nós da Língua é possível conhecer as variações promovidas no português por países que têm essa língua como oficial.

Confira 20 palavras que são resultado dessas colaborações africanas ao português brasileiro e que podem ser apresentadas aos estudantes de Anos Iniciais.

Angu (kwa) Massa de farinha de milho, de mandioca ou de arroz, com água e sal, e escaldada ao fogo.
Axé (kwa) Força divina.
Beleléu (banto) Ir ou ir-se para o beleléu, morrer, sumir, desaparecer.
Borocoxô (banto/kwa) Pessoa envelhecida, fraca, sem coragem.
Caçula (banto) O mais novo dos filhos ou irmãos.
Cafofo (banto) Quarto, recinto privado, lugar reservado com coisas velhas ou usadas.
Encabular (banto) Envergonhar-se, acanhar-se.
Forró (banto) Arrasta-pé, farra, folia.
Fubá (banto) Farinha de milho ou arroz.
Jiló (banto) Fruto de sabor amargo.
Marimbondo (banto) Nome comum a certas vespas.
Moleque (banto) Menino, garoto, rapaz.
Muvuca (banto) Confusão, agitação.
Muxiba (banto) Pelanca, pele magra
Quitute (banto) Petisco, iguaria de apurado sabor.
Sacana (banto) Canalha, patife.
Titica (banto) Coisa sem valor, excremento de aves.
Tribufu (banto) Feio, mal-encarado, maltrapilho.
Xodó (banto) Namorada, amante, paixão, apego, chamego.
Zunzum (banto) Zumbido ou boato

OUTRAS CURIOSIDADES

Confira também algumas expressões e tipos de construções de frases comuns dos países lusófonos africanos que mostram as influências das línguas regionais sobre o português herdado nos períodos coloniais.

Angola

Alguns exemplos de interferências lexicais do quimbundo no português angolano:

A palavra Kambuta é um empréstimo usado na região para se referir à palavra portuguesa baixinho. Kandenge significa irmãozinho.    

‘‘O marido dela é Kambuta." (“O marido dela é baixinho.”)

"O meu kandenge está em casa." (“O meu irmãozinho está em casa.”)

São Tomé e Príncipe

É comum nas construções de orações a omissão de artigos:
“Depois _ mãe dele disse”; “Começou a comer _ cascas de bananas.”

Algumas expressões comuns do arquipélago:
Fazer guloso: dar água na boca
Secura: sede
Tomar sono: adormecer
Crechentar: acrescentar

Moçambique

Significado de alguns neologismos:

Loguelar: negociar
Nhamelar: tirar proveito
Vundular: mexer
Nhacuar: estar sujo
Tabutchar: fazer sofrer
Gumular: destruir
Vedegular: revirar
Roromelar: confiar em
Soquelar: contribuir
Zuzumar: estar atrapalhado

Cabo Verde

Palavras como kabélu, kabésa, béku (em português: cabelo, cabeça, beco) deixaram de ser vogais fechadas e assumiram o “e” aberto.

Outras palavras como bonéka, mizéria, géra (em português: boneca, miséria, guerra) o “e” aberto é mantido.

As palavras ripitidu, pidinti, tilifoni (em português: repetido, pedinte, telefone) também sofreram alterações substituindo o “e” mudo por “i” em algumas regiões do país. Este “e” mudo pode, inclusive, ser praticamente inaudível em alguns lugares, ouvindo-se “rptide”, “pdinte”, “tlfone”.


Para saber mais

Cantos africanos em umbundo
Caderno produzido a partir de um curso da UFMG

Variedades de Português
Site Cátedra de Português

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