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Como apostar na autoavaliação pode melhorar seu desempenho como professora

É um momento de avaliar a própria carreira e traçar objetivos profissionais. Mas não precisa se transformar em uma crise existencial

A autoavaliação é uma parte importante do processo de aprendizagem. Ilustração: Pedro Hamdan/Nova Escola

O ano acaba e, além da correria típica do mês de dezembro, você ainda precisa fazer um balanço de tudo o que deu certo - ou do que não funcionou tão bem. Nessa hora, uma pergunta pode aparecer: para que estou fazendo isso? Você também pode ter um daqueles momentos de crise e se questionar: afinal, o que significa ser um bom professor?

Mas não precisa ser assim. Para Isabel Cossalter, pedagoga, professora e coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental I e integrante do Time de Autores da NOVA ESCOLA, a autoavaliação precisa fazer parte do dia a dia de qualquer profissional - e com os professores não é diferente. 

“No fim do ano a autoavaliação tem um objetivo mais amplo, que é você olhar para o processo do ano todo, rever os passos, rever o que você considera como acertos, o que você precisa revisar e melhorar para o ano seguinte. Mas, acho que é importante que ela vá sendo feita durante o processo de trabalho”, diz.

Joice Lamb, coordenadora pedagógica da EMEF Profª Adolfina J. M. Dienfenthäler, em Novo Hamburgo (RS) e Educadora do Ano em 2019,  afirma que “fazer uma autoavaliação sempre vai produzir melhora no seu desempenho”. Mas, antes de o professor conseguir fazer uma autoavaliação, ele tem de pensar em metas e estratégias para ele mesmo. “Primeiro tem de pensar nisto: você tem como fazer uma autoavaliação? Você tem propostas e ideias para a sua carreira ou você vai no fluxo, seguindo um dia após o outro?”, questiona a educadora.

Se esse for o seu caso, o conselho de Joice é simples: pense onde você está profissionalmente, faça um diagnóstico, pare e reflita se é isso que você quer mesmo, só daí trace suas metas de carreira.

“Você quer trabalhar sua carreira toda com o (Ensino) Fundamental? Ótimo. Esse desejo é válido porque nós precisamos de bons profissionais nas salas de aula. Mas isso não significa que você não precisa investir em mestrado, em doutorado, em qualquer outra graduação, especialização”, alerta.

Érica de Faria Dutra, formadora de professores, gestores escolares e educacionais pela CE CEDAC e Instituto Avisa Lá, professora do curso de pedagogia e pós-graduação no Instituto Vera Cruz, ainda lembra que a autoavaliação é parte muito importante do processo de aprendizagem e pode ser bem aproveitada também pelo resto da comunidade escolar.

“É fundamental a tomada de consciência dos avanços e desafios de cada um dos atores da escola: diretor, coordenador pedagógico, professor, alunos. Partimos do pressuposto que a aprendizagem dos alunos não pode estar somente nas mãos do professor. O aluno precisa se corresponsabilizar por seu percurso”. 

O que não pode faltar

Se você chegou até aqui, deve estar pensando que a autoavaliação pode se transformar em uma crise existencial. Saiba que ela não precisa ser assim. Cada profissional pode definir os tópicos que vai abordar de acordo com sua rotina e ambiente, mas já é possível começar avaliando itens básicos e simples, como por exemplo:

  • Planejamento de atividades e projetos;
  • Organização de materiais e da sala de aula;
  • Postura em sala de aula;
  • Relacionamento com outros funcionários;
  • Iniciativa, criatividade e originalidade;
  • Relação com as famílias das crianças;
  • Materiais produzidos, avaliações e devolutivas e como elas foram úteis ao aprendizado da turma;
  • Resolução de conflitos.

Camila Zentner Tesche, coordenadora de Programas Educacionais da Secretaria de Educação de Guarulhos, afirma que é possível ir além da lista.

“Tem uma coisa que é bem legal nesse exercício de autoavaliação, que é você construir os critérios juntamente com o grupo, com os próprios professores. Se eu crio os critérios da avaliação, estou direcionando tudo para o meu olhar. E, às vezes, tem aspectos do trabalho que, por exemplo, como estou longe da função de professor, esqueço que são importantes. Aí o professor pode trazer outros aspectos que são importantes”, pondera.

Para Camila, o coordenador pode “dar dicas” do que não pode faltar na autoavaliação, mas ao longo do tempo e conforme o grupo vai se constituindo dentro de uma escola, o melhor é que todos participem na construção dos critérios.

“É também uma forma de as pessoas se comprometerem mais na hora de fazer”, acrescenta.

Érica, do Instituto Avisa Lá, explica que é possível definir outros quatro tópicos importantes para realizar a autoavaliação.

  1. Definição do foco  e dos aspectos que comporão a autoavaliação;
  2. Autoavaliação: tomada de consciência dos avanços e desafios ao preencher o registro;
  3. Compartilhar com o grupo os avanços e desafios (pode ser opcional);
  4. Feedback do avaliador: precisa levar os dados tabulados da autoavaliação e sua avaliação dos aspectos analisados.”

Camila dá ainda outra dica para o trabalho permanecer democrático e simples: o uso da plataforma Google Forms.

“É uma plataforma gratuita e você coloca as questões, as formas de responder, se é por alternativas, se é por escrito. É legal, porque a pessoa pode responder de qualquer lugar, inclusive pelo celular, e já tem a tabulação desses dados. Eu já vi autoavaliação sendo feita na lousa, é algo mais público. Já fiz na folhinha. Mas nos últimos anos fazíamos tudo no Google Forms, mandávamos o link pelo grupo da escola, no WhatsApp ou por e-mail”, explica.

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