Para repensar a prática

Feedback: o que fazer (e o que não fazer) quando ele não é bom

Não é agradável ter “aquela conversa difícil”, mas a tal devolutiva não precisa ser um bicho de sete cabeças

Ilustração de Pedro Hamdan
Ilustração: Pedro Hamdan

Todo trabalho precisa ser avaliado, com o do professor isso não é diferente. Mas, e quando você já sabe que, naquele bimestre ou até mesmo naquele ano, a sua avaliação não foi tão boa? Como receber esse feedback?

 

“É necessário receber feedback, porque acho que nós, professores, temos de entender que nosso trabalho precisa ser avaliado, e quem responde pela coordenação, pela direção, tem uma visão de conjunto que, às vezes, não temos. Claro que você espera que seja em um ambiente de respeito e consideração”, afirma  Isabel Cossalter, pedagoga, professora e coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental I e integrante do Time de Autores de NOVA ESCOLA.

Não é em todo bimestre e nem em todos os anos que tudo dá certo. Pode ter sido um projeto que não vingou, uma iniciativa que não funcionou em sala de aula. Sempre vai chegar aquele momento em que você vai ouvir que seu trabalho não aconteceu como o esperado. 

“É gostoso ouvir feedback negativo? Com toda certeza, não é. Todo mundo gostaria de ouvir que seu trabalho foi muito bem realizado. Agora, se tem algo negativo, acho que é minha obrigação aceitar que estou sendo avaliada negativamente, mas me colocar. Você também não pode ter aquela posição de dizer ‘ah, meu Deus, está tudo muito ruim, vou pedir demissão...’ Eu quero saber como eu posso melhorar em relação a isso que está sendo colocado. Porque também nós imaginamos que um feedback, ao ser dado, venha com algum tipo de dica ou de solicitação”, acrescenta Isabel.

Para ela, quando se recebe uma devolutiva negativa, é importante também ficar claro por qual razão a pessoa está sendo avaliada negativamente, quais foram os aspectos que precisam ser melhorados e que dicas a coordenação e a direção podem dar.

“Depois eu buscaria, por minha iniciativa, uma orientação mais pontual em relação a isso. Passaria a buscar uma proximidade maior com essa equipe, não tentando cooptá-las, mas para poder dizer: ‘Estou fazendo assim, você acha que está tudo certo, estou indo no caminho?’ Acho que tomaria a iniciativa de procurar uma resposta com menor tempo, não esperaria chegar no final do ano seguinte”, explica. 

Técnicas para uma conversa difícil

Você já sabe que seu desempenho não foi dos melhores, mas ainda não tem certeza como será a conversa sobre todos os problemas que enfrentou. Nesse caso, basta prestar atenção, pois alguns profissionais desenvolvem técnicas para dar este feedback negativo. É o caso de Camila Zentner Tesche, coordenadora de Programas Educacionais da Secretaria de Educação de Guarulhos.

“Tinha alguns professores que até percebiam a minha técnica. Eu sempre começava pelos pontos positivos. Elogiava, dava ênfase em tudo o que eu percebia de bom e deixava as críticas para o final. Com o cuidado de não levar para o lado pessoal, de tentar problematizar antes, de entender por que ele fez aquilo, de não ser tão direto no modo de apontar os problemas”, conta.

Joice Lamb, coordenadora pedagógica da EMEF Profª Adolfina J. M. Dienfenthäler, em Novo Hamburgo (RS) e Educadora do Ano em 2019, afirma que no momento em que ela e a equipe da escola notam que há um professor que não está caminhando dentro da proposta da instituição ou indo mal no desenvolvimento das aulas, é feita “quase uma intervenção”.

“Toda a equipe da escola discute esse caso, desse professor, e tenta sugerir como o coordenador responsável vai ter de reagir para discutir o problema com esse professor”, conta.

Joice ainda acrescenta que sempre é preciso ter uma equipe para a “conversa difícil”.

“Não pode ser o coordenador sozinho. É muito importante que a equipe da escola seja unida e que compreenda que não pode tomar decisões sozinha.”

A coordenadora explica que em sua escola essas decisões e conversas conjuntas servem para o professor perceber que não é nada pessoal.

“Geralmente, é só o coordenador com o professor, mas se a conversa fica difícil, a diretora participa. A orientadora participa no outro dia. Quando o professor está com alguma dificuldade, fazemos uma reunião semanal, quando é o estagiário quem está fazendo estágio probatório, que tem dificuldades, fazemos uma reunião quinzenal”, diz.

Quando as dificuldades são muitas, é preciso que o coordenador escolha um problema de cada vez e também leve muitas sugestões para o professor.

Em seu texto de março de 2018 (Como (e o quê) dizer ao professor quando algo precisa mudar), Joice dá mais algumas recomendações para lidar com a situação. 

Antes de tudo, é preciso que o coordenador acompanhe o professor, e isso não significa apenas saber se ele entrega documentos em dia, é pontual ou cumpre regras. É preciso visitar a sala de aula, analisar o planejamento, ver resultados de avaliações, compreender a metodologia usada pelo professor e a eficácia dela com os alunos. 

E sempre tomar muito cuidado na hora de emitir julgamentos sobre os professores.

“Uma avaliação mal feita e um julgamento apressado podem comprometer seu trabalho e a reputação do professor. Além do mais, o coordenador não é o dono da verdade, nem tem todas as respostas”, escreve Joice.

Só depois de ter certeza de que uma intervenção é necessária, o coordenador deve dividir tudo com a equipe, sempre tomando cuidado de mostrar todas as informações que levantou, como conseguiu esses dados e como foram as conversas com o professor. Depois de tudo isso, as próximas ações devem ser planejadas em conjunto.

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