Para aprender sobre a prática

Em vez de regras prontas, Cristiane incentivou a descoberta

Com naturalidade, a professora ensinou as regras para jogar bolinha de gude e abriu espaço para a turma pesquisar, inventar e se divertir

A professora Cristiane Pereira, na quadra da EE Antonio de Oliveira Bueno Filho, em Araraquara (SP) / Foto: William Santiago

Quando Cristiane Pereira propôs que as crianças do 1º ano da EE Antonio de Oliveira Bueno Filho, em Araraquara (SP), jogassem bolinha de gude do jeito que soubessem, aconteceu de tudo: as pecinhas foram arremessadas e chutadas, como os alunos estavam acostumados a fazer com bolas maiores. Para transformar a bagunça em jogo, a professora criou uma sequência didática em que as crianças tiveram contato com as regras, entenderam que há diversas maneiras de brincar e até criaram novos modos. "O habitual nas aulas de Educação Física é o professor explicar o regulamento e os alunos apenas reproduzirem seus comandos. Em vez de focar nisso, Cristiane se preocupou em aprender como a criança aprende", explica Marcos Santos Mourão, selecionador do Prêmio Educador Nota 10.

O projeto foi realizado em 2017 e ganhou o Prêmio Educador Nota 10 no mesmo ano. A principal atividade foi a investigação de diversas possibilidades de jogos em vídeos do YouTube e em entrevistas com conhecidos. "Queria que os alunos vivenciassem a brincadeira também fora do ambiente da escola. Escolhi as bolinhas de gude por serem de fácil acesso e bastante baratas", conta Cristiane.

Aos poucos, eles fizeram uma transição da brincadeira (sem regras fixas e formas preestabelecidas) para o jogo (com regras que precisam ser respeitadas, porém flexíveis se os participantes estiverem de acordo). Nesse processo de descoberta, as ruas foram uma das fontes de pesquisa. Ao ver outras crianças brincando com as bolinhas, elas se aproximavam para explorar aquele jeito de jogar e depois compartilhavam com o restante da turma. As famílias se juntaram ao projeto, ensinando, aprendendo e criando novas regras. "Muitos pais não conseguem acompanhar a vida escolar dos filhos por não terem formação. Mas como era uma brincadeira, eles se sentiram mais à vontade para se envolver", diz.

A professora atingiu um dos objetivos mais ousados para alunos de até 7 anos: fazer com que eles não apenas entendam as regras mas vejam sentido nelas. "O trabalho explora a autonomia da criança e a construção de normas, que não geram envolvimento quando impostas", defende Marcos. É o caso da regra de que meninas não poderiam participar do jogo, levantada nas primeiras etapas do trabalho, mas logo derrubada.

Projeto ponto a ponto

  1. Cristiane deixou as crianças brincarem com as bolinhas como sabiam, e apareceram maneiras nada convencionais de jogar.
  2. Em seguida, a turma procurou vídeos na internet e entrevistou pessoas para descobrir maneiras de brincar. Depois, fizeram um momento de experimentação dessas maneiras.
  3. A professora propôs a criação de novas regras e jeitos de jogar, intervindo quando necessário.
  4. Por fim, as crianças brincaram livremente e a professora comparou as brincadeiras com o que ocorreu na primeira atividade.

Reportagem publicada originalmente na revista NOVA ESCOLA, edição 306, outubro de 2017, p. 40-41.

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